Bombas planadoras “low cost” são a grande aposta da Rússia em Kharkiv

Sergey Kozlov/EPA

Estragos deixados pelo bombardeamento de uma zona residencial em Kharkiv, Ucrânia

Bombas são construídas a partir de engenhos explosivos soviéticos antigos, aos quais são adicionadas asas desdobráveis e navegação por satélite. “Não há palavras para descrever as suas consequências.”

A Rússia está a usar cada vez mais “bombas planadoras” — um material de guerra económico, mas altamente destrutivo — para intensificar a ofensiva na Ucrânia.

Estima-se que mais de 200 destes engenhos foram utilizados numa só semana para atacar a cidade de Vovchansk, no norte da Ucrânia, durante o atual avanço transfronteiriço da Rússia na região de Kharkiv.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, afirmou que, só durante o mês de março, três mil destas bombas foram lançadas sobre o país. Por sua vez, o chefe da polícia de Vovchansk, Oleksii Kharkivsky, testemunhou o impacto destas bombas planadoras.

“Não há palavras para descrever as consequências de um ataque com uma bomba planadora“, disse Kharkivsky: “Chegas [ao local do impacto] e vês pessoas deitadas, despedaçadas.”

A utilização massiva de bombas planadoras pela Rússia é um fenómeno relativamente recente, que se revelou devastador para as forças ucranianas nos últimos meses.

Um relatório recente do Centro de Análise de Política Europeia indicou que este material de guerra foi decisivo em fevereiro, quando ocorreu a captura da outrora fortificada cidade oriental de Avdiivka.

“Nos últimos seis meses, fomos atingidos por bombas planadoras com bastante frequência, talvez cinco a dez delas por semana, mas este mês tivemos muito mais“, relata Kharkivsky.

Como são feitas?

As bombas planadoras são construídas a partir de engenhos explosivos soviéticos antigos, aos quais são adicionadas asas desdobráveis e navegação por satélite, formando uma arma económica e destrutiva.

Uma vez que são facilmente produzidas, os russos são capazes de armazenar bombas planadoras em grandes quantidades.

“A parte explosiva é essencialmente uma bomba de ferro convencional, da qual a Rússia possui centenas de milhares armazenadas desde o período soviético”, explica o professor Justin Bronk, especialista em poder aéreo e tecnologia militar do Royal United Services Institute, uma organização britânica dedicada a temas de defesa e segurança.

“São equipadas com asas removíveis que, após o lançamento, se abrem para permitir um deslizamento por distâncias muito maiores”, adianta. O sistema de orientação por satélite do artefacto ainda permite definir o local da explosão com uma precisão relativamente alta.

Segundo Bronk, o mecanismo das bombas dá aos russos grande parte da funcionalidade de um míssil multimilionário, mas por uma fração do custo. O especialista aponta que os kits de planar — que são produzidos em massa e têm um mecanismo bastante simples — são adicionados às bombas soviéticas, das quais os russos têm um suprimento abundante. Isso significa que o custo por arma pode ser “algo em torno de 20 a 30 mil dólares (cerca de 18 mil a 28 mil euros)”.

O conceito não é novo. Os alemães lançaram o Fritz-X durante a Segunda Guerra Mundial. Na década de 1990, os militares dos EUA desenvolveram a Joint Attack Direct Munition, ou JDAM, que adicionou barbatanas direcionáveis e orientação por GPS às tradicionais bombas de queda livre.

O princípio tem sido amplamente utilizado desde então, incluindo nas guerras do Iraque e do Afeganistão.

A destruição que as bombas planadoras causam é notória. O material bélico mais muitas vezes usado nesses engenhos é o FAB-1500, que pesa 1,5 toneladas.

Para efeito de comparação, um projétil russo de 152 mm contém cerca de 6,5 kg de material explosivo. Mesmo a mais pequena bomba planadora, a FAB-500, pesa mais de 200 kg.

“Nova era” do conflito militar?

Estes engenhos transformam até as posições ucranianas mais fortificadas em alvos vulneráveis. Como as bombas planadoras criam um poder explosivo muito maior, é mais provável que causem desmoronamentos ou mortes, mesmo em posições bem fortificadas.

As poderosas explosões também têm efeitos graves no corpo humano.

As bombas planadoras “tornam a estratégia defensiva da Ucrânia mais difícil porque os russos podem bombardear continuamente posições fixas até que desapareçam”, complementa Bronk.

A analista de segurança ucraniana Mariia Zolkina disse à BBC que o uso de bombas planadoras é um desdobramento preocupante e que esses engenhos criam uma “nova era” do conflito militar.

ZAP // BBC

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