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Bolor é capaz de criar sistemas ferroviários — e sair do IKEA mais depressa que nós

mushroomobserver.org

Physarum polycephalum

O melhor engenheiro do mundo? Como o fantástico sistema ferroviário de Tóquio foi replicado por um bolor com fome de aveia.

Corria o ano de 2010 quando um simples organismo com 20 centímetros — um bolor, para ser mais preciso — conseguiu replicar em dias o fantástico sistema ferroviário de Tóquio.

Tudo aconteceu num laboratório japonês, e a estrela do ‘show’ foi o blob (Physarum polycephalum, também conhecido como bolor limoso ou fungo mucilaginoso).

Os investigadores liderados por Atsushi Tero, da Universidade de Hokkaido, colocaram o organismo numa placa de Petri húmida. Nela, foram colocados flocos de aveia — que o blob adora — para representar os principais centros urbanos de Grande Tóquio. Com luz, a equipa simulou obstáculos naturais, como montanhas e lagos.

Ao explorar este “mapa”, o Physarum espalhou-se, inicialmente, de forma aleatória, cobrindo todos os pontos e criando uma rede densa de filamentos a que os cientistas chamaram plasmódios. Mas com o tempo, começou a refinar a rede que criou: eliminou os caminhos menos eficientes e reforçou os mais eficazes… sem qualquer ajuda, segundo o estudo publicado na Science.

O resultado final? Uma estrutura incrivelmente semelhante à verdadeira rede ferroviária de Tóquio, criada por bolor.

Outros investigadores testaram o fungo em mapas de uma loja da cadeia multinacional sueca IKEA, e o blob “encontrou a saída de forma mais eficiente do que os cientistas que lhe atribuíram a tarefa”, lê-se no London Review of Books.

Os cientistas explicaram que o comportamento fascinante é um exemplo de auto-otimização biológica. Apesar de não ter cérebro ou qualquer tipo de coordenação central, o bolor consegue encontrar as ligações mais curtas entre fontes de alimento e adaptar a sua rede consoante a utilidade de cada ramo.

Para aprofundar o potencial prático do fascinante comportamento do bolor limoso, Tero desenvolveu também um modelo computacional baseado no comportamento do Physarum. Criou uma malha de tubos interligados onde flui um “protoplasma virtual”. À medida que o fluxo aumentava, os tubos engrossavam; quando diminuía, afinavam e desapareciam. O modelo reproduzia com sucesso redes semelhantes às do bolor e à rede ferroviária real de Tóquio, notava a National Geographic.

Ajustando os parâmetros do modelo, os investigadores conseguiram criar sistemas com diferentes níveis de eficiência, resistência e custo, adaptáveis às várias realidades de um tipo de engenharia humana inspirada na natureza.

Tomás Guimarães, ZAP //

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