Síria retira tropas de Sweida para evitar “guerra aberta” após ataques de Israel

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O líder dos rebeldes do HTS, Ahmad al-Charaa, que tomaram o poder de Bashar al-Assad na Síria.

Ahmad Al-Sharaa

A decisão surgiu após Israel ter feito vários ataques na Síria esta quarta-feira em apoio aos drusos. Al-Sharaa diz estar a priorizar o bem-estar dos sírios.

O Presidente da Síria anunciou a transferência para “fações locais e xeques drusos” da responsabilidade pela manutenção da segurança em Sweida (sul), palco de confrontos sectários que fizeram mais de 350 mortos desde domingo.

Num discurso transmitido pela televisão, Ahmad Al-Sharaa disse que a nação enfrenta duas opções: ou “uma guerra aberta” com Israel “às custas de nossos cidadãos drusos”, ou permitir que os clérigos drusos “voltem à razão e priorizem o interesse nacional”.

Não temos medo da guerra, nossa história é repleta de batalhas para defender nosso povo, mas escolhemos o caminho que coloca o bem-estar dos sírios acima do caos e da destruição”, disse al-Sharaa, que prometeu ainda responsabilizar os responsáveis pelas atrocidades contra os drusos.

De acordo com um novo balanço do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), divulgado na quarta-feira à noite, os confrontos entre as comunidades sírias drusa e sunita em Sweida fizeram mais de 350 mortos desde o último fim de semana.

A organização não-governamental, com sede em Londres e uma vasta rede de contactos em toda a Síria, afirma que foram mortos 79 combatentes drusos, 55 civis, 189 membros do exército ou das forças de segurança e 18 combatentes beduínos sunitas, que combateram ao lado das forças de segurança do governo, também maioritariamente sunita.

O Ministério da Defesa sírio anunciou ao início da noite de quarta-feira que o exército começou a retirar-se da cidade de Sweida.

Por outro lado, Ahmad Al-Sharaa condenou os “ataques em grande escala de Israel contra as infraestruturas civis e governamentais sírias”.

Israel efetuou na quarta-feira múltiplos ataques na Síria, incluindo dois na capital, Damasco, contra o quartel-general do exército sírio e outro junto ao palácio presidencial.

O OSDH relatou também pelo menos dois ataques de aviação israelita contra a cidade de Sweida.

Os ataques israelitas foram justificados com o apoio aos drusos e resultaram na morte de 15 soldados e membros das forças de segurança sírias, adiantou a organização.

Ahmad Al-Sharaa elogiou a mediação dos Estados Unidos, da Turquia e dos países árabes, que, segundo ele, “salvou a região de um destino desconhecido“.

Horas antes, em Washington, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, anunciou um acordo para cessação das hostilidades.

“Entrámos em contacto com todas as partes envolvidas nos confrontos na Síria. Acordámos medidas específicas que porão fim esta noite a esta situação preocupante e assustadora”, adiantou o chefe da diplomacia norte-americana, nas redes sociais.

Israel ataca Guterres

O representante de Israel junto das Nações Unidas, Danny Danon, acusou o secretário-geral da organização de “falência moral”, após António Guterres ter condenado os ataques aéreos israelitas contra a Síria.

Guterres “continua a expor a sua falência moral. Enquanto membros da comunidade drusa são brutalmente massacrados na Síria, ele opta mais uma vez por permanecer em silêncio”, declarou Danon, na rede social X.

O diplomata israelita acusou o ex-primeiro-ministro português de “vilificar Israel“, afirmando que o Telavive é o “único [país] que luta ativamente contra as forças do mal” no Médio Oriente.

Danon comparou os confrontos sectários na Síria com os ataques liderados pelo grupo fundamentalista palestiniano Hamas a 7 de outubro de 2023, contra o sul de Israel.

“A ONU não condenou” o grupo palestiniano pelos “horrores de 7 de outubro”, alegou o representante israelita, apesar das repetidas condenações públicas por parte das Nações Unidas.

“E agora, após o massacre dos drusos na Síria, o silêncio vergonhoso continua“, acrescentou Danon, na quinta-feira à noite.

Horas antes, António Guterres pediu o fim imediato de todas as violações da soberania e da integridade territorial da Síria e admitiu estar alarmado com os confrontos mortais no sul do país.

“O secretário-geral condena os crescentes ataques aéreos de Israel em Sweida, Daraa e no centro de Damasco, assim como os relatos sobre a redistribuição das Forças de Defesa de Israel nos Golã”, disse o porta-voz.

Guterres está igualmente alarmado com a contínua escalada de violência em Sweida, uma zona de maioria drusa, no sul do país, onde já morreram centenas de pessoas, acrescentou Stéphane Dujarric, num comunicado.

O português condenou a violência contra civis na Síria, incluindo relatos de assassínios arbitrários e “atos que atiçam as chamas das tensões sectárias e roubam ao povo da Síria a oportunidade de paz e reconciliação após 14 anos de conflito brutal”.

O líder da ONU concluiu o comunicado, reiterando a necessidade de apoiar uma transição política credível, ordenada e inclusiva na Síria, em conformidade com as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

ZAP // Lusa

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