Nem a carreira política manchada de escândalos e processos jurídicos impedem Silvio Berlusconi de tentar o sonho presidencial.
O trabalho de Mario Draghi, o ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) que ficou conhecido como Super Mario, está praticamente concluído, após ter assumido a chefia do Governo italiano, em fevereiro de 2021.
Em declarações aos jornalistas, no final do ano passado, o governante confessou que o seu Executivo, chamado a assumir o leme de um Governo de união nacional depois de o ex-primeiro-ministro Giuseppe Conte ter perdido a maioria parlamentar, já cumpriu a maior parte do que estava previsto.
Apesar de não ter respondido diretamente às perguntas sobre o futuro, a deixa de Draghi deixou muitos com vontade de versar sobre uma eventual candidatura presidencial. É de salientar que, na Itália, autocandidatar-se para a Presidência é tabu.
Ainda que possa ser provável vermos uma candidatura de Draghi à Presidência do país, ela não chegaria sem um senão: as próximas legislativas realizam-se em 2023, mas a saída do chefe de Governo poderia obrigar a antecipá-las.
Enrico Letta, líder dos sociais-democratas de Itália, considera que é muito melhor Mario Draghi continuar na chefia do Governo até ao fim da legislatura e finalizar todo o seu programa de reformas, em vez de se aventurar na Presidência. E, segundo a Deutsch Welle, não é o único.
“A Itália continua a ser o membro mais fraco da zona do Euro, o que significa que a política italiana será decisiva para a sobrevivência e bem-estar da União Europeia nos próximos anos”, escreveu Nouriel Roubini, economista e consultor financeiro de Nova Iorque, e Brunello Rosa, da Universidade de Economia Bocconi de Milão, num artigo de opinião conjunto publicado no Project Syndicate.
A saída de Draghi poderia significar a entrada de partidos populistas que, “se voltassem ao poder”, poderiam colocar em causa “a filiação da Itália à zona Euro”.
Ao contrário de Super Mario, que não revela o futuro nem as suas ambições, Berlusconi prometeu à mãe que, um dia, seria Presidente – e parece mesmo que o Il Cavaliere (“O Cavaleiro”) está de olho na Presidência.
“Não vou desistir e farei o que o meu país precisa”, disse recentemente o antigo ex-primeiro-ministro italiano, que tem o apoio dos populistas de direita Matteo Salvini e Giorgia Meloni.
“Berlusconi tentará e poderá ter sucesso“, afirmou à AFP Gianfranco Pasquino, professor de Ciência Política da Universidade Johns Hopkins. Já Franco Pavoncello, professor da Universidade John Cabot, considera que a probabilidade de Berlusconi ser eleito é “baixa”.
“Além da sua idade e formação, a sua escolha suscitaria muitas questões a nível internacional”, explicou.
Certo é que, independentemente da futurologia, o nome do magnata de 85 anos é citado até com bastante insistência quando se especula quem será o sucessor de Sergio Mattarella, que termina o seu mandato de sete anos em fevereiro.
Outros nomes que podem entrar nesta equação é o da atual ministra da Justiça, Marta Cartabia, de 58 anos, encarada como potencial candidata, e o de Paola Severino, de 73 anos, também ministra da Justiça entre 2011 e 2013.
O Parlamento italiano vai iniciar a eleição do novo Presidente da República no dia 24 de janeiro. O método de eleição envolve os 630 deputados e os 315 senadores das duas câmaras do Parlamento, a que se juntam representantes de 20 regiões italianas, num total de cerca de mil eleitores.
Nas três primeiras voltas da votação, é necessária uma maioria de dois terços, mas a partir da quarta volta é suficiente uma maioria simples.
A votação é por escrutínio secreto, o que levou a muitas surpresas no passado, com muitos eleitores a não hesitarem em romper com a disciplina do partido.
Liliana Malainho, ZAP // Lusa