O papa emérito Bento XVI, a rainha da Jordânia e o empresário Stanley Ho são algumas das personalidades que possuem peças de joalharia de “ouro negro”, feitas a partir do basalto vulcânico dos Açores, com assinatura de Paulo do Vale.
Artista premiado, com ateliês em Ponta Delgada e Porto, Paulo do Vale começou a trabalhar o basalto dos Açores como peças de joalharia depois de o seu filho o ter desafiado, numa praia da ilha de São Miguel, a usar esta pedra vulcânica para criar uma joia para a mãe.
“Andava com a pedra sempre a rolar na bagageira do carro. Um dia, à beira mar, onde gosto muito de estar, olhei para a pedra e, num momento de inspiração, acabei por fazer a jóia. Gostei da peça e, um ano mais tarde, acabo por expô-la com mais três ou quatro peças na Câmara Municipal de Ponta Delgada”, explica Paulo do Vale, confessando que teve “muito receio” sobre a aceitação do produto.
O açoriano, que também já teve como clientes figuras como o Presidente da República, Cavaco Silva, o vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, a atriz Sofia Alves, o estilista José António Tenente ou o apresentador de televisão Manuel Luís Goucha, começou então a apaixonar-se pela pedra basáltica, acabando por ser batizado como o artista do “ouro negro” dos Açores.
Paulo do Vale trabalha a pedra vulcânica, que não é, na perspetiva gemológica, uma pedra preciosa, com prata e ouro, com base na tradição portuguesa.
O ourives está convicto de que as suas peças “têm levado o nome dos Açores muito longe”, graças ao esforço da ourivesaria dos seus pais, uma vez que nunca contou com qualquer apoio oficial.
As peças de basalto, frisa o artista, “falam por si”, são “pedra vulcânica dos Açores feita arte”, tendo, devido ao seu “misticismo”, gerado um “ícone” que acabou por ser copiado no mercado, face à sua “originalidade” e “sucesso”.
Paulo do Vale, que venceu o concurso da revista VIP/Joias de 2006 e assegurou um terceiro lugar no concurso de ‘design’ de joalharia do Museu da Presidência da República em 2007, fica “muito satisfeito” por ser procurado por pessoas oriundas de várias parcelas do mundo.
“As minhas peças são muito minimalistas. Geralmente, o difícil é fazer o fácil. Têm um traço próprio, uma identificação”, considera, para frisar que o basalto não é apenas uma peça de arte, mas também um potencial tema de diálogo pela curiosidade que gera, e que entronca no vulcanismo dos Açores.
O também vencedor do concurso nacional de ‘design’ do Museu Berardo, em 2008, recorda, com orgulho, que, no âmbito da primeira visita oficial de Cavaco Silva à Jordânia, a peça escolhida para presentear a rainha daquele país foi um colar seu.
A peça oferecida a Bento XVI, também ela um colar, surgiu de iniciativa do próprio Paulo do Vale, que não conseguiu fazer a entrega em mãos porque foi impedido de voar de Ponta Delgada para Lisboa, durante vários dias, por causa de cinzas vulcânicas, oriundas da Islândia, que invadiram os céus da Europa na altura em que o então papa visitou Portugal.
“O colar do papa Bento XVI foi feito no basalto, em prata. Coloquei, nos pontos principais, ouro e diamante para valorizar a peça. Mais tarde, recebi uma carta do Vaticano a elogiar a oferta, que foi a única insular feita ao papa” quando visitou Portugal, afirma Paulo do Vale.
O artista produziu também um cálice e patena para a eucaristia da missa campal do jubileu do Santo Cristo dos Milagres, em Ponta Delgada, tendo sido já o zelador do tesouro (as joias) da imagem deste santo.
/Lusa