Esta quinta-feira, no Parlamento, Miguel Guimarães alertou para o facto de já haver hospitais a fazer medicina de catástrofe em Portugal, segundo testemunhos de profissionais de saúde.
Em resposta aos deputados, no Parlamento, o Bastonário da Ordem dos Médicos referiu que existem, em Portugal, hospitais a fazer medicina de catástrofe.
“Existem neste momento hospitais do país em que a medicina de catástrofe já está a ser feita”, afirmou Miguel Guimarães durante uma audição na comissão eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia da doença covid-19 e do processo de recuperação económica e social.
“Este é o testemunho dos médicos e dos outros profissionais de saúde sobre o que está a acontecer no terreno”, acrescentou, na audição conjunta por videoconferência com a bastonária do Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco.
O bastonário relatou aos deputados o que está a acontecer nos hospitais devido ao aumento exponencial de doentes. “São as ambulâncias à porta com doentes graves para entrarem que não têm sequer espaço para entrar, é a falta de profissionais de saúde para ver mais doentes ao mesmo tempo”, mas, afirmou, “é impossível o médico estar a ver três ou quatro doentes ao mesmo tempo”.
“Tem que se ter cuidado para não se cometer erros, tem que se tomar decisões sobre internamentos, se o doente fica internado ou não, se é transferido para outro hospital. Também tem de se tomar decisões sobre os cuidados intensivos, porque as camas de facto são escassas, e hoje há cerca de 700 doentes internado com covid-19″, disse.
Miguel Guimarães lembrou ainda que “há um conjunto enorme de doentes com doenças graves prioritárias sem ser covid-19 que também precisam também de cuidados intensivos”.
“Há decisões a tomar relativamente a tratamentos alternativos que se possam fazer”, como em vez de usar um ventilador invasivo, usar um ventilador não invasivo ou usar oxigénio de alto fluxo, sendo que “muitas vezes não é o tratamento ideal para os doentes, mas as pessoas que estão no terreno fazem tudo, tentam cumprir as regras todas”, frisou.
Questionado sobre os hospitais de campanha, Miguel Guimarães disse que podem servir para tratar doentes com doenças menos graves ou que não podem estar em casa, o que pode ser uma ajuda para aliviar a pressão sobre os internamentos hospitalares.
“Os hospitais já estão a deixar internados apenas os doentes mais graves, ou seja, doentes que eram internados em abril, neste momento não estão a ser internados e ficam a ser acompanhados no seu domicílio”, referiu.
Na audição, a bastonária da Ordem dos Enfermeiros alertou para o estado de exaustão dos profissionais, afirmando que “há enfermeiros a trabalhar há 30 dias seguidos sem uma única folga e que não conseguem ter tempo para comer”.
“Os enfermeiros não fazem milagres e não chegam para toda a gente, nem eles nem os assistentes operacionais, que são também muito importantes para nós porque são estas duas classes profissionais essencialmente, com respeito por todas as outras, que estão em grande esforço”, disse Ana Rita Cavaco.
A OE teve de tomar “uma decisão difícil”, de emitir “um documento que sirva de atenuante de responsabilidade civil disciplinar e criminal” para o que está a acontecer no âmbito do combate à pandemia, “porque cinco enfermeiros não chegam para 100 pessoas numa urgência e há que ter alguma coisa que os proteja”.
A bastonária disse ainda que a OE tem estado a fazer um levantamento dos enfermeiros disponíveis no mercado a pedido do próprio Governo, mas já comunicou que “não existem enfermeiros disponíveis no mercado para contratar”.
Testes rápidos a quem está nas mesas de voto
Miguel Guimarães defendeu ainda que os 140 mil cidadãos que vão estar nas mesas de voto nas eleições presidenciais, no domingo, deviam fazer testes rápidos à covid-19 para garantir uma proteção adicional.
“Em termos de eleições presidenciais vamos ter uma situação complexa porque se cada candidato a presidente tiver o seu representante, e tem direito a isso, no dia de eleições quer dizer que vamos ter quase 140 mil cidadãos nas mesas, para além das pessoas que vão votar um milhão, dois milhões”, disse Miguel Guimarães no Parlamento.
Por outro lado, adiantou, existe o problema de “grandes aglomerados de pessoas” que neste momento constituem de facto um foco de preocupação, disse.
“Mesmo que as pessoas estejam protegidas, ou aparentemente protegidas, porque infelizmente muita gente continua a não usar a máscara de forma adequada e isso é de facto um problema, portanto nós achamos, que seria interessante fazer testes rápidos aos 140 mil cidadãos que vão estar nas mesas para de alguma forma garantir que as pessoas não estejam infetadas e possa haver uma proteção adicional para quem vai trabalhar o dia inteiro”, defendeu.
Miguel Guimarães defendeu ainda ser fundamental aumentar a capacidade de testagem: “neste momento (…) temos uma positividade nos testes de 17,7%, ou seja, somos um país a nível mundial com mais positividade nos testes”. Esta situação significa que é preciso “testar mais para identificar mais rapidamente as pessoas infetadas, isolá-las” para quebrar as cadeias de transmissão.
Nesse sentido, reiterou, “é fundamental” utilizar em massa os testes rápidos e que podem ser usados também em situações específicas de risco como é o caso das escolas, dos lares e em muitas outras situações.
ZAP // Lusa
Coronavírus / Covid-19
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