A Deco acusa a banca de cobrar comissões aos clientes sem prestar qualquer serviço, como por processamento de prestação de crédito ou manutenção de conta, e de querer compensar as perdas da intermediação financeira com a atividade de comissionamento.
Segundo a associação para a defesa dos consumidores Deco, há mesmo uma “alteração do paradigma” da atuação dos bancos.
“Estamos a assistir a uma transferência da atividade bancária, da intermediação financeira – isto é, compra e venda de dinheiro, que foi a atividade que deu origem aos bancos -, para uma atividade de comissionamento“, disse o economista Nuno Rico, da Deco/Proteste, em declarações à Lusa.
Em Portugal, a cobrança de uma comissão bancária só pode acontecer quando há prestação de um serviço pelo banco, caso contrário é ilegal, lembra o economista, invocando a lei de 2015 que estabeleceu os requisitos da cobrança de comissões.
“As comissões e despesas cobradas pelas instituições de crédito têm de corresponder a um serviço efetivamente prestado“, lê-se no articulado do diploma de 2015, que criou também os serviços mínimos bancários.
O problema, explica o economista, é a lei não definir o que é um serviço bancário, possibilitando assim ao Banco de Portugal, e outros responsáveis, “assistir passivamente” à cobrança de comissões pelos bancos mesmo quando não é prestado, efetivamente, um serviço ao cliente.
No caso da comissão de manutenção de conta, aquele responsável argumenta que o simples facto de existir uma conta bancária não pode ser considerado serviço bancário, até porque o acesso a um produto bancário, como um crédito ou um investimento, está dependente de ter uma conta bancária, e é um instrumento essencial nos dias de hoje.
“Não podemos esquecer que, quando abrimos uma conta e pomos lá o nosso dinheiro, estamos a disponibilizar o nosso capital ao banco, para que o possa usar em diferentes fins, como vender esse capital a outras pessoas e ganhar dinheiro com isso”, lembrou Nuno Rico, criticando o fim dos juros dos bancos a esses depósitos e agudizando a crítica quanto à obrigação de pagar comissão por esse depósito.
No caso das comissões pelo processamento de prestações, de crédito à habitação por exemplo, a Deco defende não fazer “sentido nenhum” o cliente ter de pagar para lhe ser cobrada uma prestação de crédito, e defende que essa cobrança ” é apenas uma forma de os bancos arrecadarem receitas”.
Além da cobrança daquelas comissões, que a Deco considera injustificada e até ilegal, a associação queixa-se também dos aumentos “completamente injustificados” das comissões bancárias, entre os quais destaca as anuidades dos cartões de débito que subiram 28% num ano, ou as contas ordenado que aumentaram 47% nos últimos cinco anos.
“Descobrimos no último estudo que o novo alvo dos bancos é a conta domiciliada, ou conta ordenado, cuja abertura recomendávamos aos nossos associados, para evitar a cobrança de comissões, mas que desde 2016 é a nova fonte de receita descoberta pela banca”, acusou.
Exemplificando, Nuno Rico conta o caso recente do Deutsche Bank que alterou o preçário dos clientes com menos de 10 mil euros e com um crédito à habitação de ‘spread’ baixo, ou sem grande margem de lucro para o banco, transferindo esses clientes para uma conta base que custa 10,33 euros por mês.
“Esse custo mensal de 10,33 euros não tem qualquer tipo de justificação, e ainda é mais grave por ser aplicada a clientes que estão ‘presos’ ao banco por um crédito”, considerou o economista.
Especialmente nos últimos dois anos, a associação diz que tem vindo a alertar o Banco de Portugal e os grupos parlamentares para esta cobrança que considera excessiva, e até ilegal em alguns casos, mas a resposta é de “completa passividade” do regulador da banca e de “falta de resposta” dos grupos parlamentares.
“À Deco, o Banco de Portugal responde que verifica os preçários dos bancos, que diz estarem conformes com as regras, e que existe livre concorrência no mercado nacional”.
“Mas o que verificamos, por exemplo, é que a anuidade dos cartões de débito dos cinco maiores bancos é das mais altas que conhecemos e é quase igual em todos os bancos, o que é uma grande coincidência”, afirma.
Contas grátis vão acabar dentro de uma década
A consultora PricewaterhouseCoopers antevê o desaparecimento dentro de uma década das contas bancárias gratuitas, em Inglaterra, onde atualmente muitas contas são isentas de comissões, de acordo com um estudo realizado em 2015.
O estudo, feito com base em inquéritos a mais de dois mil cidadãos ingleses, conclui que os clientes das instituições bancárias que recusarem pagar uma pequena comissão vão “gradualmente” enfrentar restrições no levantamento de dinheiro ou mesmo no acesso aos balcões dos bancos.
A consultora defende ser “insustentável” o futuro das contas bancárias sem comissões, tendo em conta que impedem os bancos de realizarem lucros “decentes”.
O autor do estudo, o consultor Steve Davies, avisa: “O problema é os consumidores entenderem as suas contas bancárias como não tendo custos, quando é evidente que não são grátis, são pagas através de encargos com contas a descoberto, taxas e penalidades e uma taxa de juro não competitiva, ou até de zero”.
Em Inglaterra, os bancos cobram apenas comissões, que os ingleses consideram avultadas, quando os clientes fazem um overdraft, ou seja, utilizam a linha de crédito habitualmente associada à sua conta à ordem, um modelo conhecido no país como o “free if in credit”.
ZAP // Lusa
Antigamente ganhava-se dinheiro por por o dinheiro no banco
Depois deixou-se de ganhar dinheiro por ter dinheiro no banco
Hoje paga-se dinheiro para ter o dinheiro no banco
Graças a deus que o meu colchao nao me cobra nada por ter o dinheiro la debaixo
No dia que o meu banco acabou com as isenções da conta ordenado…. passei a pagar por emprestar o meu dinheiro
Em 2 dias a conta estava fechada.