O bacalhau do Mar do Norte está a desaparecer e poderá mesmo deixar de chegar aos pratos dos portugueses. O alarme chegou com um relatório publicado em julho pelo Conselho Internacional para a Exploração do Mar (ICES).
O relatório revelou que os stocks de bacalhau do Mar do Norte caíram para níveis considerados críticos. O documento refere que a espécie está a ser pescada de forma insustentável e recomendou um corte de 63% nas capturas. No ano passado, a redução já foi de 47%.
O relatório do ICES está atualmente a ser validado por auditores independentes e no final de setembro os pescadores saberão se poderão manter os seus certificados de sustentabilidade do Marine Stewardship Council (MSC) ou se estes ficam suspensos. A decisão pode acabar com o bacalhau do Mar do Norte nas ementas, principalmente nas britânicas, de acordo com o jornal britânico The Guardian.
No início do ano, um novo estudo científico publicado pelo Programa de Monitorização e Avaliação do Ártico alertava para o facto de o stock de bacalhau proveniente do mar de Barents, no norte da Noruega poder cair até zero antes do final do século. Este bacalhau é o mais consumido pelos portugueses, que consomem o equivalente a 20% de todo o bacalhau capturado a nível mundial.
A maior parte do bacalhau é pescada no mar de Barents, no Ártico. Mas o oceano do qual faz parte o mar de Barents é não só aquele que está exposto a níveis mais rápidos de aquecimento, como também o que regista o maior nível de acidificação do mundo – uma vez que a água fria absorve mais dióxido de carbono, alterando o seu nível de pH.
O aumento da temperatura do mar terá sido de 3,5 ºC, comparativamente com uma média global de 1,1 ºC nos outros oceanos. Segundo o estudo, o aquecimento do “mar de Barents foi benéfico para o bacalhau, e responsável pelo facto de as apanhas terem voltado a níveis não vistos desde 1970, quando eram apanhadas 900 mil toneladas por ano. Qualquer aquecimento mais terá efeitos negativos, no entanto.”
As populações de bacalhau do Mar do Norte eram abundantes mas começaram a entrar em declínio até ficarem perto do colapso entre o início dos anos 1970 e 2006. Houve um “plano de recuperação do bacalhau” para repor o número de peixes até níveis sustentáveis e que passou por limitar os dias de pesca, proibir a captura da espécie em viveiros naturais ou em colocar buracos maiores nas redes para permitir que o bacalhau mais jovem pudesse escapar.
O stock de bacalhau quadruplicou entre 2006 e 2017, de acordo com o Diário de Notícias. Mas o ano passado a recomendação do ICES foi já para reduzir a captura em quase metade (47%). A avaliação deste ano propõe uma redução mais radical: de dois terços.
Para as organizações ambientais o bacalhau tem sido pescado acima do seu rendimento máximo sustentável nos últimos anos, o que significa que os peixes são retirados do mar antes que se possam reproduzir.
A política comum de pesca da União Europeia foi considerada um exemplo de pesca sustentável, mas especialistas marinhos sublinham que os peixes não respeitam as fronteiras nacionais e, portanto, a indústria precisa de uma gestão internacional coordenada.
Este é o estudo mais completo alguma vez feito sobre o impacto das alterações climáticas nesta espécie. Em novembro do ano passado, um outro estudo alertava para a redução drástica de bacalhau caso a temperatura global aumente.
O mar do Norte é parte do oceano Atlântico e está situado a sul do mar da Noruega, entre a Noruega e as ilhas Britânicas, ligando o canal Skagerrak ao canal da Mancha. Os limites geográficos do mar do Norte encontram-se no Reino Unido e nas ilhas Órcades, a oeste, na França, Bélgica, Holanda e Alemanha, a sul, na Noruega e Dinamarca, a leste, e nas ilhas Shetland, a norte.
Bacalhau do Mar do Norte está em risco (e pode deixar de chegar às mesas portuguesas)
Só se for à mesa dos portugueses endinheirados, porque à mesa dos pobres, já deixou de aparecer há muito…
Ah, ah, ah ,ah!!!
Lá se vai o bacalhau à Brás, de gosto tanto !
Se fosse só o bacalhau!
Tem de se começar por algum lado.