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Avós da Praça de Maio pedem ajuda a Obama para encontrar netos desaparecidos

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TV Pública - Argentina

Estela de Carlotto, presidente do movimento Avós da Praça de Maio

Um grupo de organizações de direitos humanos entregou esta segunda-feira à embaixadora dos Estados Unidos na Argentina, Noah Mamet, uma carta solicitando ao governo norte-americano a desclassificação de documentos que possam contribuir para a busca de milhares de desaparecidos da ditadura argentina (1976-1983).

O pedido coincide com a preparação para a chegada do presidente dos EUA, Barak Obama, no dia 23 de março, e as manifestações do dia 24, marcando os 40 anos do golpe militar.

Apesar de a Argentina ter recuperado a democracia há 33 anos, a Justiça ainda investiga os crimes cometidos durante a ditadura militar e tenta punir os responsáveis. Os opositores do regime foram perseguidos no que ficou conhecido como a “Guerra Suja”, na qual milhares de pessoas desapareceram.

A organização Avós da Praça de Maio continua à procura dos seus 500 netos. A maioria nasceu em cativeiro, nos centros de tortura, e foi entregue ilegalmente para adoção, muitas vezes a famílias com alguma ligação ao regime militar.

Em quase quatro décadas de busca, as Avós já encontraram 119 netos, mas continuam atrás dos demais, que hoje serão adultos, maiores de 30 anos.

Na carta, a organização explica a Obama que os documentos classificados do governo norte-americano podem ajudá-las a encontrar os netos, que podem estar a viver nos Estados Unidos. O documento também pede a Obama que siga o exemplo do ex-presidente Jimmy Carter, conhecido pela sua política em defesa dos direitos humanos.

Reaproximação de Macri

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, prometeu reforçar o pedido das organizações a Obama, que irá a Argentina depois da sua visita a Cuba. O último presidente norte-americano a visitar a Argentina foi George W. Bush, em 2005, que esperava inaugurar a Área de Livre Comercio das Américas (ALCA), mas o projeto de integração regional foi criticado pelo anfitrião, o então presidente Nestor Kirchner (2003-2007), e acabou por ser arquivado.

Macri assumiu a presidência da Argentina em dezembro, prometendo um país diferente do que herdou da ex-presidente Cristina Kirchner, viúva e sucessora de Nestor Kirchner.

A chegada de Obama marcaria a reaproximação entre os dois países, mas a data escolhida pelo presidente dos Estados Unidos para visitar a Argentina coincidiu com o aniversario dos 40 anos do golpe militar, data em que as organizações de direitos humanos planeiam marchar até a Praça de Maio, localizada em frente à Casa Rosada.

O presidente dos EUA que, em principio, tinha previsto uma visita de dois dias, só permanecerá em Buenos Aires no dia 23, tendo sido convidado a viajar no dia seguinte para Bariloche, no sul da Argentina, para descansar longe das comemorações do aniversário do golpe.

Adolfo Perez Esquivel, Nobel da Paz argentino, escreveu uma carta a Obama enumerando os motivos pelos quais a sua presença em Buenos Aires no dia 24 seria mal vista.

O arquiteto, escultor e ativista de direitos humanos elogiou o presidente norte-americano por ter retomado as relações com Cuba, por defender o encerramento da prisão militar de Guantánamo e por ter reconhecido que os EUA violaram direitos humanos.

No entanto, lembrou que, em 1976, quando Obama “tinha apenas 14 anos e o seu país celebrava dois séculos de independência, nós começávamos o período mais trágico da nossa história”, e que a ditadura argentina – assim como outras na América Latina – receberam na altura apoio e financiamento dos EUA.

Para Perez Esquivel, a visita de Obama “será vista pela maioria do povo argentino como um gesto de provocação”.

Agência Brasil

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