A comunidade internacional apela a que haja um cessar-fogo, mas continuam os ataques dos dois lados sem que se vislumbre um sinal de tréguas.
Segundo a Al Jazeera, registaram-se dezenas de bombardeamentos israelitas contra Gaza já esta terça-feira, mesmo depois de o Presidente dos Estados Unidos ter apelado a um cessar-fogo numa conversa por telefone com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
Além disso, foi aberta uma nova frente de conflito, depois de, esta segunda-feira à noite, três rockets terem sido disparados do sul do Líbano para Israel, provocando uma retaliação israelita.
“Três rockets do tipo Grad foram lançados do setor das quintas de Shebaa”, disse à agência France-Presse fonte militar libanesa. Os projéteis israelitas foram então disparados na direção do Líbano, acrescentou.
De acordo com o jornal online Observador, que cita o jornal Times of Israel, verificou-se um intervalo de seis horas durante a última noite sem que fosse lançado qualquer rocket por parte do Hamas, num sinal de que um cessar-fogo pode estar iminente. No entanto, esta manhã, os militantes palestinianos voltaram ao ataque.
Neste momento, no enclave palestiniano, já se conta a morte de cerca de 200 pessoas, incluindo 59 menores e 39 mulheres, bem como mais de 1300 feridos. Do lado israelita foram contabilizadas 10 mortes, entre elas a de dois menores.
De acordo com o jornal Público, começam a ouvir-se vários apelos para um cessar-fogo imediato. O Presidente francês, Emmanuel Macron, disse que ia conversar com o Presidente egípcio e o rei da Jordânia para chegar a uma proposta concreta.
Uma nova reunião de emergência, à porta fechada, do Conselho de Segurança da ONU sobre o conflito israelo-palestiniano foi marcada para esta terça-feira.
“Os civis inocentes continuam a ser mortos e feridos. Repetimos: cessar-fogo. Fim das hostilidades agora”, escreveu a missão da Noruega na sua conta do Twitter.
Juntamente com a Tunísia e a China, a Noruega está na origem da mobilização do conselho, durante a semana passada, sem ter conseguido até agora a adoção de uma declaração conjunta, devido a uma recusa por parte dos Estados Unidos.
Segundo a agência noticiosa egípcia MENA, o Governo egípcio pôs em marcha um plano ordenado pelo Presidente Abdelfatah al Sisi para transferir e tratar em hospitais, nas províncias do norte do Sinai, Ismailiya (nordeste) e na capital, os palestinianos feridos.
Tal como recorda o semanário Expresso, os hospitais de Gaza já estavam sob pressão antes da escalada de violência, devido à pandemia da covid-19. Agora, têm de lutar nas duas frentes, numa altura em que faltam medicamentos e combustível para os geradores que alimentam estas unidades de saúde.
O porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza, Ashraf Al-Qidra, já pediu “apoio mais urgente das instituições internacionais e de assistência”, pedindo mais medicamentos e ambulâncias.
De acordo com o jornal The Guardian, o único laboratório de testes à covid-19 situado em Gaza foi destruído pelos ataques aéreos israelitas.
Organizações palestinianas convocam greve geral
Partidos, sindicatos e entidades civis palestinianos convocaram para esta terça-feira uma greve geral em Israel e nos territórios ocupados de Jerusalém Oriental e Cisjordânia, para protestar contra “o ataque israelita a Gaza” e os despejos de famílias palestinianas.
“Empresas, escolas, universidades e escritórios nos territórios ocupados” estão convocados para encerrarem portas na sequência do apelo do partido nacionalista Fatah – liderado pelo Presidente da Autoridade Nacional Palestiniana, Mahmoud Abbas, – para uma greve”, avançou a agência de notícias oficial palestiniana Wafa.
As organizações sindicais de advogados, de docentes, o Comité Superior de Transportes Públicos, o movimento de representação de reclusos e outras organizações emitiram declarações de apoio ao protesto.
Por sua vez, o Alto Comité para Acompanhamento Árabe de Israel, que representa os israelitas-árabes de origem palestiniana (cerca de 20% da população israelita) também se juntou à greve.
Recorde-se que esta comunidade tem sido alvo de linchamentos e ataques por parte de extremistas judeus durante a última semana, em diferentes partes do país.
“Jornalistas não devem ser impedidos de fazer o seu trabalho”
O secretário-geral da ONU, António Guterres, está a encarar com muita preocupação os ataques que visaram nos últimos dias a comunicação social presente em Gaza, nomeadamente a destruição das instalações da agência Associated Press.
“O secretário-geral ficou muito perturbado ao ver a destruição do edifício. É evidente que os jornalistas que operam em Gaza devem poder fazê-lo sem receio de assédio e de destruição dos seus escritórios”, disse o porta-voz Stephane Dujarric, numa conferência de imprensa.
O porta-voz afirmou não dispor de informações adicionais sobre o incidente, mas frisou ser “muito importante esclarecer” os factos e “o que aconteceu exatamente”.
Questionado sobre informações publicadas pela organização Repórteres sem Fronteiras que indicam que um total de 23 escritórios de media internacionais e locais foram já destruídos, Stephane Dujarric declarou que essa situação também deve ser investigada. “Nada deve ser feito para impedir os jornalistas de fazerem o seu trabalho”, reforçou.
Até ao momento, os confrontos já obrigaram ao deslocamento forçado de cerca de 38 mil palestinianos e já provocaram mais de 2500 desalojados.
Chefes da diplomacia da UE em debate
Os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE) reúnem-se esta terça-feira, por videoconferência, para debater a escalada de violência na Faixa de Gaza. Esta reunião de emergência, convocada pelo chefe da diplomacia europeia, arranca pelas 14h00 em Bruxelas (13h00 em Lisboa).
O debate deve-se à “escalada em curso entre Israel e a Palestina e ao número inaceitável de vítimas civis”, anunciou o Alto Representante para a Política Externa, Josep Borrell, durante o fim de semana.
Segundo Borrell, nesta reunião realizada à distância, os ministros europeus da tutela vão “coordenar e discutir a maneira como a UE pode contribuir para pôr fim à violência atual”.
Os 27 países têm frequentemente dificuldades em encontrar uma posição comum sobre o conflito israelo-palestiniano, com países como a Alemanha, a Áustria ou a Eslovénia a apoiarem firmemente o direito de Israel a defender-se, enquanto outros exortam o Estado hebreu a demonstrar contenção.
Controlada pelo movimento radical islâmico Hamas desde 2007, a Faixa de Gaza é um enclave palestiniano sob bloqueio israelita há mais de uma década e onde vivem cerca de dois milhões de pessoas.
Os atuais combates, considerados os mais graves desde 2014, começaram a 10 de maio após semanas de tensões entre israelitas e palestinianos em Jerusalém Oriental, que culminaram com confrontos na Esplanada das Mesquitas, o terceiro lugar sagrado do Islão junto ao local mais sagrado do judaísmo.
Palestinianos entraram em confrontos com a polícia em resposta às operações policiais israelitas durante o Ramadão e à ameaça de despejo de dezenas de famílias palestinianas por colonos judeus.
O conflito israelo-palestiniano remonta à fundação do Estado de Israel, cuja independência foi proclamada em 14 de maio de 1948.
ZAP // Lusa