Aulas pirateadas e alunos a vender passwords. Ensino online pode pôr notas em causa

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@JayBe / Flickr

As aulas online, forçadas pela pandemia de Covid-19, estão a levantar problemas de segurança que, em última instância, podem pôr em causa os exames e as notas. Os alertas são feitos pela Fenprof e pelo Sindicato Nacional do Ensino Superior depois de terem surgido na Internet alguns vídeos “roubados” de plataformas usadas pelos professores.

A Fenprof, a Federação de professores, já anunciou que vai fazer queixa à Procuradoria-Geral da República (PGR) após a intrusão de terceiros em plataformas online de ensino à distância e a utilização indevida de dados pessoais, códigos de acesso, fotografias e vídeos de alunos e professores.

Estão em causa, nomeadamente, vídeos que terão sido transmitidos no YouTube e, entretanto, apagados pelos responsáveis da plataforma. Estes vídeos terão sido obtidos por um youtuber cuja identidade não é conhecida e que terá transmitido aulas online de várias escolas do país, a ridicularizar alunos e professores.

O Centro Nacional de Cibersegurança (CNC) aponta, em nota à Lusa, que não estará em causa uma “falha de sistemas ou de cibersegurança”, mas antes um “aproveitamento de eventuais configurações das sessões nas plataformas que, associados a comportamentos humanos mal-intencionados, permitem a interferência” nas mesmas.

“A título de exemplo, se a sessão não for convenientemente configurada, e se um participante partilhar os códigos de acesso à sessão com terceiros, tal permite interferir no normal funcionamento da mesma”, refere o CNC, salientando que “nenhum facto aponta para que os dados de acesso às sessões possam ter origem em dados ou informação roubada”.

Também a Polícia Judiciária confirma ao Jornal de Notícias (JN) esta versão, notando que “não haverá crime” e que os autores da “invasão” teriam a palavra-passe de acesso às reuniões.

O líder da Fenprof, Mário Nogueira, denuncia, em declarações ao JN, que “há alunos a receber dinheiro em troca de passwords“.

Para o presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup), Gonçalo Leite Velho, pode estar em causa a própria “integridade académica”, nomeadamente se a avaliação for feita online, colocando em causa os exames e as notas.

“Neste momento, circulam já na Internet vídeos com a gravação indevida de aulas, demonstrando que os nossos apelos tinham razão fundada. Se há algo que esta experiência também demonstra é que a tecnologia possui diversas falhas (e não apenas de segurança)”, sustenta o SNESup em nota à Lusa.

Críticas ao Ministério por “estar ausente”

O SNESup fala em problemas de protecção de dados e salvaguarda da informação, apelando aos seus associados para terem “especial atenção perante plataformas que solicitam as credenciais do Microsoft Office 365, ou outras credenciais institucionais e pessoais”, alegando que estas “podem estar a migrar os seus dados de autenticação para plataformas externas”.

“Alguns professores estão a aprender a lidar com o ensino à distância em regime de quase tentativa e erro“, lamenta Gonçalo Leite Velho em declarações ao Expresso, criticando o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior por ter “estado ausente” neste processo.

O presidente do SNES apela a uma “coordenação institucional” urgente, para reduzir os riscos.

Também a Fenprof exige ao Ministério da Educação que garanta, o mais depressa possível, a utilização segura de plataformas de reunião online, ou apresente alternativas à sua utilização, para que professores e alunos possam desenvolver o seu trabalho.

Em comunicado, a Fenprof nota que a segurança de professores, alunos e as suas famílias “não pode ser posta em causa” pela utilização de plataformas para o ensino à distância que já foram utilizadas indevidamente por terceiros, havendo “fundados receios” de que a segurança não está salvaguardada.

O Ministério da Educação, contactado pela Lusa, relembrou a informação disponibilizada às escolas, antes do início deste 3.º período lectivo, “bem como a importância de alertar os alunos para a não partilha de passwords”.

Plataforma ZOOM com várias falhas

Uma das plataformas que tem estado a ser utilizada é a ZOOM que, segundo a Fenprof, está a ser “objecto de investigações, devido a denúncias de utilização indevida de dados pessoais, entre outros”.

Nos últimos dias, apareceram notícias de que haveria contas e dados de pessoas inscritas na plataforma ZOOM a serem vendidos online. Além disso, houve informações que indicavam que haveria conversas na plataforma a serem invadidas por piratas informáticos com conteúdos pornográficas e mensagens de ódio.

Foi também divulgado que uma falha de segurança crítica na plataforma estaria a ser vendida por 500 mil dólares (cerca de 460 mil euros) em mercados especializados na venda de vulnerabilidades de segurança, conforme avança a publicação Vice.

A empresa detentora da ZOOM assumiu algumas falhas de segurança, mas anunciou ter tomado várias medidas de reforço da protecção. Apesar disso, foi processada por esconder falhas de privacidade e está a ser acusada de ter ligações à China.

Para se entrar numa video-conferência na ZOOM é necessário ter um código de acesso à sessão específica, bem como uma password. Esse pedido tem depois que ser aprovado pelo moderador da video-conferência que, no caso das aulas online, será o professor.

ZAP // Lusa

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