O ensino à distância arranca na próxima segunda-feira. Segundo o Governo, as aulas online em direto deverão ocupar 70% do tempo letivo, sendo os restantes 30% reservados para trabalho autónomo ou assíncrono.
O Jornal de Negócios avança esta quinta-feira que o ensino à distância deverá seguir uma referência dada pelo Governo: as aulas online em direto deverão ocupar 70% do tempo letivo, sendo os restantes 30% reservados para trabalho autónomo ou assíncrono, que não exigirá que alunos e professores trabalhem juntos em tempo real.
“A referência dos 70% é a que está a ser seguida pelos diretores de escola, uma vez que o Governo não chegou a avançar com qualquer regulamentação nesta matéria”, explicou Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos de Escolas Públicas.
Contudo, segundo o Ministério da Educação, esta é apenas uma referência, tendo as escolas autonomia para organizarem o ensino à distância de acordo com a idade dos alunos, as características das turmas e os meios de que dispõem.
O ministério tutelado por Tiago Brandão Rodrigues elaborou um relatório “Contributos para o Ensino à Distância”, no qual salienta que “a gestão dos momentos síncronos e assíncronos deve acautelar o tempo de atenção dos alunos e a fadiga de ecrã, variável em função das idades, estilos de aprendizagem e ritmos de diferentes turmas”.
Por um lado, na pré-escolar, as aulas online não deverão ir além de meia hora de manhã e meia hora à tarde. Já no primeiro ciclo, recomenda-se aulas em direto até, no máximo, três horas, das cinco que haveria se as crianças estivessem na escola e sempre com intervalos.
Para o segundo ciclo e secundário, a referência serão os 70%, sempre com intervalos.
“O tempo online vai aumentando com a idade”, explicou Filinto Lima. O objetivo é “evitar os excessos no trabalho autónomo, em que os pais têm de intervir muito”.
Apesar desta referência, algumas escolas vão optar por trabalhar em regime de 50/50. Segundo Rodrigo Queirós e Melo, diretor Executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo, os colégios “dão quase o mesmo horário que o normal, uma aula síncrona, outra assíncrona, sendo que a paragem é para fazer trabalhos de outra disciplina”.
Centenas de computadores por entregar
Filinto Lima lembrou ao Jornal de Negócios que, e é certo que em Lisboa e no Algarve as crianças da ação social escolar do primeiro ciclo e secundário receberam computadores, essa está longe de ser a realidade no resto do país.
“Estamos agora mais habilitados, temos mais competências digitais, mas não temos mais computadores”, disse, acrescentando que os professores são obrigados a usar os seus equipamentos informáticos, já que “o Governo não preveniu a chegada às escolas de computadores para lhes ceder e estas o que têm para emprestar é quase sempre material obsoleto, há muito a precisar de ser substituído”.
O Correio da Manhã cita o exemplo da Escola Secundária do Restelo, em Lisboa, onde cerca de 300 computadores portáteis estão por entregar. Segundo o diretor Júlio Santos, a demora é justificada por burocracia e problemas técnicos relacionados com a compatibilidade entre plataformas informáticas.
Já na Secundária de Camões, também em Lisboa, o diretor João Jaime Pires também admite “dificuldades provocadas pela burocracia”. “Dos 80 computadores atribuídos esperamos entregar os 20 que faltam esta semana”, disse, em declarações ao CM.
Os portáteis são entregues por empréstimo ao longo do ciclo e as famílias têm de assinar um acordo, comprometendo-se a devolver o equipamento. Há pais que estão a recusar os computadores por não concordarem com a modalidade.
Segundo o CM, o Ministério da Educação garante que “a generalidade das escolas já procedeu à entrega de todos os equipamentos” e que “as situações de não entregas serão residuais”.
Outra preocupação dos pais passa pelos professores com filhos pequenos, que não sabem como vão conciliar o teletrabalho e as aulas dos filhos e não percebem não terem sido incluídos entre os trabalhadores dos chamados serviços essenciais. O Ministério da Educação admitiu aos sindicatos que essa hipótese está a ser avaliada.
O PSD chamou o ministro da Educação na Assembleia da República, “com caráter de urgência”, para saber em que condições vão ser iniciadas as aulas à distância no contexto de pandemia.