O asteróide que afinal não nos vai matar pode trazer outros perigos

NASA/Marshall Space Flight Center

Pouco depois de os astrónomos o terem detetado, perceberam que não representava qualquer ameaça para a Terra. No entanto, poderá ainda colidir com a Lua em 2032. Os detritos resultantes do impacto podem representar um risco para os satélites e desencadear uma espetacular chuva de meteoros.

O asteroide 2024 YR4 tem entre 53 e 67 metros de diâmetro. É do mesmo tamanho que o asteroide responsável pelo Evento de Tunguska, em 1908, mas os astrónomos já determinaram que não representa perigo para a Terra,

Tem no entanto uma probabilidade de cerca de 4% de atingir a Lua em 2032 e, se isso acontecer, irá escavar uma cratera com aproximadamente 1 km de diâmetro.

A explosão seria equivalente a cerca de 6,5 toneladas métricas de TNT e, segundo uma nova investigação, lançaria cerca de cem milhões de toneladas de detritos para o espaço. Esta nuvem de detritos poderá constituir um perigo para os satélites. O estudo foi publicado na AAS Journals.

Cem milhões de toneladas é uma quantidade enorme, mas nem todo esse material atingirá a Terra. “Dependendo do local exato do impacto na Lua, até 10% desse material pode alcançar a Terra no espaço de alguns dias”, escrevem os autores.

Estes determinaram que, no final de 2032, se o asteroide 2024 YR4 atingir a Lua, os satélites próximos da Terra poderão ser expostos ao equivalente a uma década de impactos de meteoroides de fundo.

A principal preocupação são as partículas ejetadas com dimensões acima do limite de risco para satélites (0,1 mm), entregues diretamente à órbita terrestre baixa (LEO), num espaço temporal relativamente curto (dias a poucos meses), e que podem representar uma ameaça para as naves espaciais”, referem.

O objetivo dos investigadores foi determinar os efeitos a curto prazo do impacto do 2024 YR4 na Lua. “Salientamos que existem incertezas de ordem de grandeza na análise que se segue”, explicam, como nota de cautela. Estimaram cinco fatores principais:

  1. O tamanho da cratera.

  2. A quantidade de material expelido para o espaço.

  3. A distribuição de tamanhos dos detritos que escapam.

  4. A variedade de possíveis locais de impacto na Lua.

  5. A eficiência com que os detritos ejetados alcançam o espaço próximo da Terra.

O estudo começa com o corredor de impacto lunar, baseado na base de dados de pequenos corpos do Center for Near-Earth Object Studies (CNEOS). A partir das variáveis da trajetória calculada para o 2024 YR4, os cientistas simularam 10.000 clones do asteroide e respetivas trajetórias.

Em 410 dessas simulações, o asteroide colidiu com a Lua. O impacto ocorrerá, com maior probabilidade, no hemisfério sul da face avançada da Lua.

O material ejetado que atinge a velocidade de escape não se dispersa de forma isotrópica. A fração que alcança a Terra depende do local do impacto.

“Como a Lua orbita a Terra a cerca de 1 km/s, para que o material ejetado chegue rapidamente à Terra, o objeto deve colidir com a parte traseira da Lua, de forma a que a velocidade do material expelido, ao sair do poço gravitacional da Lua, anule em grande parte a velocidade orbital da Lua”, explicam os autores.

Os investigadores analisaram quatro dos 410 impactos simulados para determinar quanta matéria ejetada poderia alcançar a Terra.

Concluíram que existe uma probabilidade significativa de o 2024 YR4 atingir uma localização na Lua que permita que 10% do material ejetado chegue rapidamente ao espaço próximo da Terra.

A Terra e os seus satélites estão constantemente expostos a um fluxo de detritos que compõem o ambiente meteórico de fundo. Os autores afirmam que os detritos do impacto do 2024 YR4 ultrapassariam esse fluxo em poucos dias.

“O fluxo instantâneo pode atingir entre 10 a 1000 vezes o fluxo meteórico esporádico de fundo, com tamanhos que representam risco para astronautas e naves espaciais”, escrevem.

A exposição adicional ao ambiente de detritos aceleraria o envelhecimento dos satélites e reduziria as suas vidas úteis.

Isto é especialmente relevante para os satélites em órbita terrestre baixa (LEO), que constituem a maioria — quase 90% de todos os satélites. “Tudo isto acontecerá durante os poucos dias de entrega máxima de detritos, caso o 2024 YR4 colida com a Lua”, explicam os investigadores.

Até 2032, o número de satélites aumentará, assim como a sua área total exposta, o que agravará o risco e os potenciais danos.

“Dado o enorme total de área exposta por satélites em 2032, torna-se possível que centenas a milhares de impactos com detritos de milímetros sejam experienciados por toda a frota de satélites”, escrevem os autores.

Acrescentam que, devido ao pequeno tamanho das partículas, estes impactos podem danificar os satélites, embora dificilmente levem ao fim das missões.

Contudo, em 2032, o risco poderá estender-se além dos satélites. A nossa presença na superfície lunar poderá significar uma exposição mais perigosa.

“A ejeção de material da Lua pode constituir um risco sério para naves espaciais em órbita lunar (como a Lunar Gateway), mas representa provavelmente um risco ainda maior para qualquer operação na superfície lunar, dado que a maior parte da massa ejetada se acumulará numa vasta área da Lua”, explicam Wiegert e os seus colegas.

Neste momento, a probabilidade de o 2024 YR4 impactar a Lua em 2032 é baixa — cerca de 4%. Em 2028, o asteroide passará pela Terra sem perigo, oferecendo aos astrónomos uma nova oportunidade para o observar e restringir melhor a sua trajetória futura. Isso permitirá previsões mais precisas sobre um eventual local de impacto e uma compreensão mais detalhada do risco representado pelos detritos.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.