O que é o síndrome de Kessler? Cientistas acreditam que catástrofe com lixo espacial já começou

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ZAP // Dall-E 2

O choque entre objetos espaciais pode ter efeitos desastrosos e desencadear uma reação em cadeia. O tráfego no espaço é um problema grave que tem de ser resolvido o quanto antes.

Em novembro, um pedaço de lixo espacial dirigiu-se para a Estação Espacial Internacional.

Se a estação espacial não tivesse mudado de rota, os destroços poderiam ter passado a menos de 4 quilómetros da sua trajetória orbital, afirmou a NASA, coisa que poderia ter despressurizado segmentos da estação e causado um grande desastre.

Na verdade, lembra a CNN, a Estação Espacial Internacional já teve de fazer manobras semelhantes dezenas de vezes desde que foi ocupada pela primeira vez em novembro de 2000 e os riscos de colisão aumentam todos os anos.

De acordo com a Agência Espacial Europeia, houve já, no total da história da exploração espacial, mais de 650 “ruturas, explosões, colisões ou acontecimentos anómalos que resultaram em fragmentação”.

“O número de objectos no espaço que lançámos nos últimos quatro anos aumentou exponencialmente”, disse Vishnu Reddy, professor de ciências planetárias na Universidade do Arizona. “Por isso, estamos a caminhar para a situação que sempre tememos“.

Eis uma formulação dada pela CNN do síndrome de Kessler: Uma explosão provocada por detritos espaciais envia uma nuvem de fragmentos que, por sua vez, chocam com outros objetos espaciais, criando mais detritos.

O efeito em cascata pode continuar até que a órbita da Terra esteja tão entupida de lixo que os satélites se tornem inoperacionais e a exploração espacial tenha de ser interrompida.

Para quem gere os satélites, o congestionamento no espaço pode ser um pesadelo. É comum um operador de satélites receber uma dúzia ou mais de alertas por dia sobre potenciais colisões.

“Mesmo com os melhores sensores de hoje, há limites para o que pode ser ‘visto’ ou rastreado de forma fiável, e os detritos espaciais mais pequenos são muitas vezes impossíveis de rastrear”, conta Bob Hall, diretor de projetos especiais da COMSPOC Corp, uma empresa de software de tráfego espacial.

A uma altitude de cerca de 300 milhas (500 quilómetros), os objetos em órbita cairão naturalmente de volta à Terra ou desintegrar-se-ão na atmosfera dentro de cerca de 25 anos, mas em órbitas mais altas, o problema agrava-se: A mais de 1.000 quilómetros de altitude, o processo demoraria milhares de anos.

O local mais perigoso onde este acontecimento semelhante ao Síndroma de Kessler pode ocorrer é no GEO” (órbita geossíncrona — uma região a cerca de 35.786 quilómetros da superfície da Terra), diz Reddy, o investigador da Universidade do Arizona. “Porque não temos forma de o limpar rapidamente”.

Dado que a síndrome de Kessler não é um acontecimento instantâneo, os cientistas debatem sobre se o fenómeno pode já estar em movimento. A experiência de pensamento de Kessler pede aos investigadores que considerem se — mesmo que todos os lançamentos de foguetões cessassem — as colisões no espaço continuariam a aumentar o número de objetos em órbita. E não é claro se esse ponto já foi atingido.

“A analogia que gosto de fazer com os detritos espaciais é com o plástico nos oceanos”, diz o professor de engenharia do espaço Nilton Renno. “Costumávamos pensar que os oceanos eram infinitos e deitávamos lixo e plástico, mas agora apercebemo-nos de que não, são recursos finitos. E estamos a causar danos enormes se não tivermos cuidado com o que fazemos”.

Frueh disse: “Sou pessimista… quanto à possibilidade de agirmos a tempo de não termos prejuízos económicos no processo”, diz também Carolin Frueh, professora de astronáutica na Universidade Purdue.

E as soluções?

Uma delas passa pela tecnologia de limpeza: empresas e iniciativas governamentais estão a tentar desenvolver formas de arrastar os detritos para fora da órbita, como o Drag Augmentation Deorbiting Subsystem (ADEO), desenvolvido pela Agência Espacial Europeia e pela empresa tecnológica High Performance Space Structure Systems, ou HPS GmbH.

O protótipo da vela de travagem, que “fornece um método passivo de desorbitação, aumentando o efeito de arrastamento da superfície atmosférica”, foi implantado com sucesso a partir do satélite ION em dezembro de 2022, de acordo com a ESA.

Tambem se fala em regulamentação. Em setembro, as Nações Unidas adotaram o Pacto para o Futuro, que inclui a intenção de as nações “discutirem o estabelecimento de novas estruturas para o tráfego espacial, detritos espaciais e recursos espaciais através do Comité para os Usos Pacíficos do Espaço Exterior”.

“Acho que a maior preocupação é a falta de regulamentação”, diz Reddy. “Penso que a existência de algumas normas e diretrizes apresentadas pela indústria ajudará muito.”

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3 Comments

  1. É fartar oh vilanagem. Não contentes em emporcalhar a Terra, passaram a encher de lixo o espaço á nossa volta. Cada vez gosto mais do meu cão !!!

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