A primeira-ministra da Tailândia, Paetongtarn Shinawatra, está a enfrentar pressões para se demitir, depois de ter criticado os seus militares numa chamada com Hun Sen, poderoso ex-líder do Camboja, que acabou por ser divulgada sem o seu conhecimento.
O escândalo, que gerou uma vaga de indignação em todo o país, traz nova incerteza a uma nação marcada por anos de turbulência política e mudanças frequentes de liderança.
Paetongtarn Shinawatra, de 38 anos, ocupa o cargo de primeira-ministra há apenas dez meses, depois de substituir outro primeiro-ministro que foi destituído.
A situação surge também num momento em que o reino do Sudeste Asiático luta para recuperar a sua economia debilitada, está a negociar um acordo comercial com os Estados Unidos para evitar um aumento de tarifas e está envolvido numa disputa fronteiriça com o Camboja., explica a CNN.
A primeira-ministra tailandesa pediu desculpa nesta quinta-feira, e o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Tailândia convocou o embaixador cambojano para lhe entregar uma carta de protesto, classificando a divulgação da chamada privada como “uma violação da etiqueta diplomática”.
Numa publicação na sua página oficial do Facebook, Hun Sen, que governou o Camboja durante quase 40 anos, até 2023, disse ter partilhado a gravação da chamada com cerca de 80 oficiais cambojanos e sugeriu que um deles poderá ter divulgado o áudio.
Na chamada, que teve lugar a 15 de junho, ouve-se Shinawatra a tratar o ex-líder cambojano Hun Sen por “tio” e a criticar as ações do seu próprio exército após confrontos na fronteira terem levado à morte de um soldado cambojano no mês passado.
Na chamada, a primeira-ministra tailandesa diz a Hun Sen que está sob pressão interna e pede-lhe que não dê ouvidos ao “lado oposto”.
“Esse lado quer parecer o bom da fita, vão dizer coisas que não beneficiam a nação. Mas o que queremos é paz, tal como antes de qualquer confronto na fronteira”, diz Shinawatra.
Os seus comentários na gravação, cuja autenticidade foi confirmada por ambos os lados, tocaram num ponto sensível na Tailândia. Os opositores da primeira-ministra acusam-na de comprometer os interesses nacionais do país.
O partido Bhumjaithai, um dos principais parceiros da coligação governamental, afastoy-se na quarta-feira da coligação, enfraquecendo seriamente a capacidade do partido Pheu Thai de se manter no poder.
No Camboja, milhares de pessoas participaram numa manifestação organizada pelo governo, na semana passada, em apoio ao governo e aos militares no conflito. A Tailândia e o Camboja mantêm há décadas uma relação complexa de cooperação e rivalidade.
Na quarta-feira, Shinawatra tentou minimizar os comentários, afirmando numa conferência de imprensa que estava a tentar aliviar as tensões entre os dois vizinhos e que a chamada privada, “nunca deveria ter sido tornada pública.”
A primeira-ministra disse que estava a usar uma tática de negociação e que os seus comentários não eram uma demonstração de submissão. “Agora sei que nunca se tratou de uma verdadeira negociação. Foi teatro político”.