Uma planta “trapaceira” está a invadir as florestas tropicais (e até é visível do Espaço)

A proliferação de lianas tem disparado nos últimos 30 anos e tem um efeito quase equivalente à desflorestação na destruição das árvores.

Um aumento alarmante na proliferação de lianas está a transformar silenciosamente as florestas tropicais do planeta, prejudicando gravemente a sua capacidade de armazenar carbono e combater as alterações climáticas.

Um estudo publicado em 2024 na Global Change Biology alerta para esta “pandemia de lianas” está a alastrar-se há mais de três décadas, com impactos cada vez mais visíveis — até mesmo do Espaço.

As florestas tropicais são essenciais para o equilíbrio climático global, absorvendo anualmente tanto dióxido de carbono (CO₂) como o que é emitido por toda a Europa. Também albergam cerca de metade da biodiversidade mundial. Contudo, para além da desflorestação, há um novo inimigo a minar estes ecossistemas: o crescimento descontrolado de lianas, plantas trepadeiras como as passifloras, que sufocam as árvores e impedem o seu crescimento.

Marco Visser, ecólogo do Centro de Ciências Ambientais da Universidade de Leiden, compara as lianas a parasitas como as ténias. “Intercetando recursos das árvores, as lianas podem mais do que duplicar a taxa de mortalidade das mesmas. Quando se instalam, o que resta é um emaranhado de lianas sobre troncos caídos”, descreve.

A investigação liderada por Visser e pela doutoranda Manuela Rueda-Trujillo revela que a expansão das lianas não se limita à América Latina. O fenómeno é global e tem-se intensificado 10% a 24% por década. Uma das razões é a crescente concentração de CO₂ na atmosfera. “Todas as plantas crescem mais com CO₂, mas as lianas beneficiam ainda mais, porque ‘roubam’ suporte estrutural das árvores e produzem folhas com baixo custo energético”, explica Visser.

O impacto pode ser drástico: em algumas áreas, as lianas impedem por completo a regeneração florestal e reduzem o armazenamento de carbono em até 95% — quase o equivalente à desflorestação, refere o SciTech Daily.

Recentemente, Visser e colegas internacionais demonstraram que as lianas podem ser identificadas por satélite. As suas folhas refletem mais luz e radiação infravermelha, além de se disporem horizontalmente, bloqueando a luz para as plantas inferiores. Esta descoberta abre caminho para mapear o avanço das lianas à escala global.

Apesar do impacto negativo, os cientistas alertam contra a remoção direta das lianas. Estas plantas têm um papel ecológico, fornecendo alimento constante para aves e primatas raros. A única solução viável, defendem, é travar as alterações climáticas — a verdadeira força motriz por detrás do avanço das lianas.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.