Assédio e violação na Universidade de Coimbra. Boaventura de Sousa Santos entre acusados

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ZAP // Aula Castelao Filosofía / Wikipedia

Boaventura Sousa Santos e Bruno Sena Martins negam as acusações de assédio e violação sexual das três investigadoras.

O Centro de Estudos Sociais de Coimbra está a investigar denúncias de assédio envolvendo dois membros da academia, entre eles o sociólogo Boaventura Sousa Santos, que nega qualquer comportamento inapropriado, noticia o Diário de Notícias (DN).

Segundo o jornal, as acusações constam de um artigo num livro sobre assédio sexual na academia, em que os dois membros do Centro de Estudos Sociais de Coimbra são acusados de usarem o seu poder sobre jovens estudantes e investigadoras para “extractivismo sexual”.

O artigo do livro acusa também a instituição de silenciamento e cumplicidade.

O livro, intitulado Sexual Misconduct in Academia – Informing an Ethics of Care in the University (Má conduta sexual na Academia – Para uma Ética de Cuidado na Universidade), foi disponibilizado online a 31 de março.

As autoras do artigo, a belga Lieselotte Viaene, a portuguesa Catarina Laranjeiro e a norte-americana Myie Nadya Tom, estiveram no CES como, respetivamente, investigadora de pós-doutoramento (com uma bolsa Marie Curie) e estudantes de doutoramento.

De acordo com o DN, o último dos 12 capítulos descreve acontecimentos ocorridos numa instituição que, não sendo nomeada, “é facilmente identificada, até por ser a única em comum no percurso das três autoras, como sendo o Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra”.

Segundo o jornal, “também não é difícil perceber que os dois homens referidos nesse capítulo como protagonizando condutas sexuais inapropriadas, crismados na narrativa como “The Star Professor” (o professor estrela) e “The Apprentice” (o aprendiz) são, respetivamente, o sociólogo Boaventura Sousa Santos, diretor emérito do CES, e o antropólogo Bruno Sena Martins, investigador do quadro da instituição”.

Investigadores negam acusações

Confrontados pelo DN, ambos assumiram reconhecer-se como retratados sob essas denominações, mas refutam as acusações.

“É evidente que [o artigo] se refere ao Centro de Estudos Sociais”, escreve Boaventura Sousa Santos (BSS), na resposta que deu ao jornal, na qual diz ser o CES “um alvo apetecível por muitas razões”.

Frisando que o texto “foi certamente escrito sob aconselhamento jurídico para, não mencionando nomes, evitar ardilosamente queixas judiciais”, o sociólogo vê-se como alvo de “cancelamento”.

“Nas instituições académicas norte-americanas tornou-se um pesadelo. Colegas (homens e mulheres) injustamente acusados e até ilibados em processos judiciais internos (caso do Professor Comaroff) continuam a ser vilipendiados. Pelos vistos, vai-se alastrando pelo mundo”, escreve.

Diz ainda que o que é descrito é “uma distorção e uma falsificação da realidade” a seu respeito e a respeito do CES.

“O ambiente académico de proximidade e de crescimento coletivo que criámos ao longo de décadas é arrasado de uma maneira vil e inqualificável. (…) O artigo é um típico produto de um ataque ‘ad hominem’ em que o mundo académico começa a ser fértil”, escreve ainda, acrescentando: “o objetivo é lançar lama sobre quem se distingue e luta por um mundo melhor”.

Boaventura Sousa Santos lamenta ainda: “Aos 82 anos de idade julgava ter direito a um pouco de paz, mas infelizmente o mundo em que vivemos não permite que isso suceda”.

Certificando ainda que “quando houver conduta menos correta as instituições devem atuar” e que “o CES tem um Código de Conduta, uma Comissão de Ética e uma Provedoria”, garante que os factos de alegada conduta menos ética mencionados “nunca foram apresentados aos órgãos do CES.”

Também Bruno Sena Martins exprime a sua indignação na resposta enviada ao jornal: “Não resta dúvida que a intenção das autoras é a de me expor, sem a coragem de dizer o nome, e que eu seria a pessoa designada por “Apprentice”.

“Ao contrário do que o capítulo ora publicado ardilosamente pretende insinuar, quero reiterar que em momento algum agredi física ou sexualmente [uma das autoras do artigo] ou qualquer outra pessoa”, escreve, lembrando que “em nenhum momento” foi alvo de queixa, na academia, por assédio ou comportamentos inapropriados.

As três autoras do artigo estão agora noutras instituições universitárias. Viaene é professora na Universidade Carlos III, em Madrid, Laranjeiro está como investigadora no Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova e Tom é professora na Universidade de Nebraska, em Omaha, EUA.

Contactadas pelo DN, recusaram fazer qualquer comentário.

ZAP // Lusa

13 Comments

  1. Que bomba! Boaventura é uma estrela nomeadamente no Brasil. Para confirmar as acusações e não considerar isto um caso isolado espera-se que outras investigadoras se cheguem à frente e digam Me Too.

  2. Apesar de não não simpatizar com B. Sousa Santos creio que a moda de acusar acontecimentos passados, denegrindo ou pelo menos insinuando o mau comportamento de alguém, deveria ser atendido com mais rigor pelas autoridades. Neste caso, além de não serem frisados nomes nem dadas respostas, a maldade popular já quer imolar o alvo das acusações que nem se sabe se correspondem à verdade. Porque não se verá tanta determinação na condenação de Ricardo Espírito Santo Salgado, José Sócrates Pinto de Sousa, Luís Filipe Vieira e e tantos outros declaradamente criminosos mas que sempre têm mostrado serem mais fortes do que a Fraca Lei (quando se pretende que seja Fraca; também já se tem observado momentos de Força, sobretudo contra Fracos enfim, Uma Lei à Medida de Alguns Interesses… NUNCA CEGA para que a JUSTIÇA seja Respeitada e Nunca Para Garante da Própria Justiça. Pasma-se como Juízes se prestam a tais Fantochadas…

  3. Hà que apurar o que se passa , mas longe dos corporativismos internos, não popdem ser os acusados nem os seus pares a investigar o que se passou. Ainda temos na ordem do dia o caso de uma medica interna que no Hospital de Faro, denunciou um colega por negligência, ja foi acusada pelo status quo instalado que são falsidades. A verdade é que aquela jovem teve uma coragem enorme, um profissionalismo imenso e uma dignidadeacima de qualquer prova. Vi na Tv o chefe dos serviços dizer que ela não informou primeiro internamente, informou e deve ter informado diversas vezes , mas nada fizeram. Eu fui vitima de negligência e /ou acidente uma operação de uma apendice naquele hospital , por sorte sobrevivi, apesar de ter estado 13 dias numa cama com os intestinos perfurados antes da segunda operação. Mas os mesmos que quase me mataram foram os mesmos que me salvaram, acreditei na altura e talvez ainda acredite que foi um acidente e acidentes acontecem e em medicina um acidende pode causar uma morte, mas quando alguém que sabe diz que ha negligência grosseira ja fico a pensar de outra forma

  4. Tentem investigar a veracidade da notícia. Se se confirmar, é gravíssimo para a Universidade. Coimbra parece estar a viver uma certa letargia e um menor fulgor (brilho/energia) da Universidade pode estar a dar o seu contributo.

  5. Se acreditamos que os russos andam a decapitar soldados ucranianos também podemos acreditar que Boaventura Sousa Santos – com mais de 80 anos – é culpado de assédio sexual de alunas…

    • Deves pensar que os teus amigos são boas pessoas. Tu que os defendes por cá só tens isso a dizer? O cérebro não dá para mais?

  6. Pois é, afinal pela boca e mais uma vez morre o peixe. Vou tentar ser muito curto e direto desta minha apreciação, embora seja de modo generalizado, uma vez que nesta matéria de Assédio Sexual é uma verdadeira bomba relógio dentro e fora do Estado. Resumindo, escrevo na primeira pessoa, alvo de tal incúria miserável por parte de dirigentes e não só…
    A matéria deste tipo de deliquência fica-se sempre pelas provas, porque o/a abrutre anda sempre à espreita da vítima, como tal, provar toda esta teia encenada pelo/a é prepretado/a de forma ardilosa, sem que esteja alguém por perto que pudesses testemunhar. Aqui é o principio do fim de que provas essas não existem.
    Do extrato que tenho guardado, desse período nefasto, vou colocar o texto integral, obivamente com espaços em branco…:
    …”——-, pois é meu caro/a, a vida dá-nos surpresas, e nunca sabemos qual a porta de entrada ou a de saída. Já agora aconselharia meu caro senhor/a, a analisar a Lei que fala sobre esta matéria, e só vou reportar-me a uma alínea: “Quais as provas, quais as testemunhas, em que local . . . ” Para o assediador “ele/a” procura a presa fora do alcance de todos os olhares, para que não exista provas testemunhais”.
    A partir deste vazio de prova, é sua a palavra sua contra a minha. No meu caso, foi exatamente isso que aconteceu e sou Homem e fui assediado por dois/as altos quadros dentro da Administração Pública, por dois “senhores/as” casados/as! ! ! que deixaram um rastro de destruição, dissecaram toda a erva fértil, e só sobrou um valor que para mim é incomensurável a VIDA, lutei com todas as forças e as que não tinha, juntamente com os meus familiares, recorri aos melhores advogados inclusivamente com o apoio de um Juiz do Ministério Público, foi completamente dissecado o processo para encontrar uma ponta, e a resposta em todo o processo para avançar, esbarrou-se nas PROVAS, porque argumentos tem esses/as pulhas. Finalmente num estado de direito, se fosse em alguns países meu caro ——, com certeza que tinham levado com uns balázios, que iam respirar ao outro lado sem hipótese de regresso ao Planeta Terra. É muito sério, é muito complicado, é dramático, saber que um dia construí uma família viver uma vida para dar o melhor aos meus filhos ter uma vida construída e de repente foi o destroçar, não pretendo nada só lhes pedi que deixem-me viver a minha vida, passados 5 anos uma grande parte ainda por construir solidamente, seja ela física e emocionalmente. Afinal lutei contra marés, porque sempre lutei pela subsistência, seja ela familiar, pessoal e no fundo o nosso bem estar, afinal é para isso que conquistamos e alcançamos ao longo da nossa vida. Peço desculpa o desabafo mas este é um depoimento verdadeiro sincero de que quem já sentiu na pele, mas de outra forma que não a Catarina Furtado, mas que não deixa de ser Assédio Sexual, com a agravante de ser prejudicado ao longo de 43 anos, na subida de carreira e de escalões. Hoje em dia ainda persiste algumas escaramuças” . . . tenho dito.
    Finalmente que se leia as entrelinhas, tudo ficou nas trevas e a luz não retornou até que a mácula sobre a honra fosse restaurada.

  7. «Assédio e violação na Universidade de Coimbra. Boaventura Sousa Santos entre acusados». Mas o título deveria referir também que Boaventura Sousa Santos, apoiante do bloco de esquerda e de todas as suas tropelias políticas, é visado em denúncias de assédio e violação a jovens estudantes e investigadoras.
    O que será que a este respeito têm a dizer as filhas do terrorista e assaltante de bancos Camilo Mortágua e a sempre acutilante e pequena empresária e artista Catarina ?
    Certamente vão enfiar a viola no saco e ficar caladas, ou não se tratasse de um dos trastes que é também um dos seus apoiantes da primeira hora. Longe vão os tempos de outro da cor e da arqueologia, que o caso Casa Pia, na altura, trouxe a lume e que rápido foi arredado dos holofotes políticos da extrema-esquerda para evitar o mau olhado sobre os princípios, e sobretudo sobre os costumes, das gentes que habitam no ponto mais extremo da sinistra (esquerda.

  8. Lá por se tratar de gente “grande” não quer dizer que são “imaculados”. Há que ser denunciado qualquer tipo de abuso, seja de que natureza for.

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