As raízes da alegria, um raio de luz. E um milhão e meio no Parque Tejo

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Miguel A. Lopes / Lusa

Peregrinos tiram fotografias ao nascer do Sol no último dia da JMJ

Cerca de um milhão e meio de pessoas estão hoje no Parque Tejo, em Lisboa, na missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude, presidida pelo Papa Francisco.

O Papa Francisco despede-se hoje de Portugal com a celebração de uma missa para o Dia Mundial da Juventude, em Lisboa, e um encontro com voluntários da Jornada Mundial da Juventude, em Algés.

A Santa Sé confirmou a presença de cerca de um milhão e 500 mil pessoas no Parque Tejo para a Santa Missa deste domingo — o mesmo número de pessoas que participou na vigília, na noite deste sábado, também no Parque Tejo.

Na missa desta manhã, o Papa Francisco pediu aos jovens que não tenham medo, frase que repetiu por diversas vezes, dizendo-lhes que são presente e futuro. “Não tenham medo”, afirmou Francisco, em espanhol.

Já na homilia desta noite, o Papa tinha sublinhado a importância de avançar sem medo na vida. “A alegria é missionária. Não é so para mim, é para levar aos outros”, afirmou Francisco.

O Papa realçou que o que importa não é não cair, mas não permanecer caído e alertou que “a única situação em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo é para ajudá-la a levantar-se”.

Pedindo aos presentes para que olhem para trás e vejam o que já receberam, lembrou que houve pessoas que “foram um raio de luz”, dos pais aos avós, dos catequistas a religiosos, amigos a professores.

Eles são as raízes da alegria”, apontou, destacando que essa alegria não é do momento, passageira, nem está fechada na biblioteca, “embora seja preciso estudar”. Não deve estar guardada à chave, “tem de se procurar, de se descobrir, de dar aos outros”.

A vigília ficou marcada pelos testemunhos de uma jovem moçambicana, vítima da guerra em Cabo Delgado, e de um padre português que descobriu a vocação após um acidente grave.

Maria Luís, de 18 anos, contou como a sua vida e a da família se transformaram “com os ataques terroristas” em Cabo Delgado nos últimos dois anos.

Em nenhum momento perdemos a nossa fé”, disse, depois de explicar que todos foram obrigados a “fugir para o mato”, a caminhar “sem saber o que fazer”, “sem comida nem água”.

Maria Luís testemunhou que ela e a família têm “sido acolhidos nas paróquias” onde foram morar, mas sentem muitas saudades da aldeia, dos “costumes, cantos e danças”.

“Mas no meio de todo o sofrimento nunca perdemos a fé a esperança de que um dia vamos reconstruir de novo a nossa vida”, afirmou, perante um milhão e meio de peregrinos espalhados pelo recinto.

O objetivo da Vigília, segundo a organização da JMJ, é aprofundar em cada um o desejo de continuar a louvar a Deus e a servir os outros, no regresso a casa, depois de uma semana de partilhas.

Servir a Deus e aos outros foi o que o padre António Ribeiro de Matos, de 33 anos, percebeu ser a sua missão depois de um acidente de carro, em 2011, que o deixou gravemente ferido.

“Percebi que se a minha peregrinação na Terra tivesse terminado naquele momento, a minha vida não tinha valido a pena”, disse.

Não houve noite no Campo da Graça

Após a Vigília, o Campo da Graça, palco central da JMJ de Lisboa, transformou-se esta noite numa gigantesca cidade improvisada que abrigou muitos milhares de peregrinos, muitos acordados pelos primeiros raios de sol.

Sem nunca ter havido silêncio digno desse nome para os muitos dos 1,5 milhões que ali pernoitaram, o Campo “renasceu” com a luz do dia, depois de duas ou três horas de uma calma grande, mas longe de ser total.

Ao longo da noite muitos foram os grupos que fizeram festa nos corredores que ladeiam os setores em que o Parque Tejo, esta semana batizado como Campo da Graça, cantando, dançando, ou mesmo jogando à bola.

A grande agitação que se viveu no campo depois do final da vigília durou até cerca das três da manhã, diminuindo nas três horas seguintes, que muitos aproveitaram para descansar, ou conversar, numa noite com temperatura típica da época de verão, e sem vento.

A partir das 5 horas, a zona do palco, onde às 9 horas o Papa Francisco celebrava missa, entrou em grande azafama, com a chegada de milhares de padres e pessoas encarregadas de distribuir a comunhão.

Já com o altar a preparado e decorado com flores, alguns voluntários tiveram a “ingrata” missão de acordar grupos de peregrinos que descansavam junto às cadeiras, aos quais davam a indicação: “Tem de acordar, estão a chegar os VIP”.

Os que ainda estavam a dormir depois do nascer do sol foram acordados às 7 horas pela música passada por Guilherme Peixoto, padre e DJ.

O sacerdote da arquidiocese de Braga passava música no altar-palco, enquanto à sua volta muitos bispos já paramentados para a missa das 9, lhe tiravam fotos e vibravam com a batida.

No recinto, de 10 hectares, muitos peregrinos acordavam e dançavam, em jeito de despedida da Jornada Mundial da Juventude.

A cerimónia de despedida está prevista para as 17h50 na Base Aérea de Figo Maduro, em Lisboa, de onde o Papa partirá para Roma às 18h15, com chegada prevista ao Aeroporto de Fiumicino às 22h15.

Segundo as autoridades, cerca de 500 mil pessoas estiveram no Parque Eduardo VII para assistir à cerimónia de acolhimento, a primeira com a presença do Papa e que se realizou na quinta-feira.

Na sexta-feira, foram 800 mil as que marcaram presença no Parque Eduardo VII para a Via-Sacra, presidida por Francisco, segundo a sala de imprensa da Santa Sé.

Adeus Lisboa, olá Seul

A capital da Coreia do Sul, Seul, é a próxima cidade a receber a Jornada Mundial da Juventude, em 2027, anunciou hoje o Papa. “A próxima Jornada vai ser na Coreia do Sul, em Seul, em 2027“, afirmou o Papa, após a missa de encerramento da JMJ no Parque Tejo.

A Jornada regressa assim ao continente asiático em 2027, depois de em 1995 se ter realizado nas Filipinas, com recorde de participantes. Segundo o site da JMJ, mais de quatro milhões de pessoas estiveram na missa de encerramento em Manila, capital das Filipinas, e o momento foi inscrito no Livro Guinness dos Recordes.

Considerado o maior acontecimento da Igreja Católica, a jornada nasceu por iniciativa do Papa João Paulo II, após um encontro com jovens em 1985, em Roma, no Ano Internacional da Juventude.

Este ano, pela primeira vez, realizou-se na capital portuguesa. O anúncio da escolha foi feito em 27 de janeiro de 2019, na missa de encerramento da JMJ no Panamá.

Na ocasião, o Papa Francisco, que presidia à JMJ, escreveu na sua conta no Twitter: “A vocês, queridos jovens, um muito obrigado por #Panama2019. Continuem a caminhar, continuem a viver a fé e a compartilhá-la. Até Lisboa em 2022”.

A JMJ em Lisboa acabou por ser adiada um ano, devido à pandemia de covid-19.

ZAP // Lusa

1 Comment

  1. Não percebo porque é que toda esta gente não foi logo para o Parque Tejo, ou Campo da Graça, durante a semana, em vez de irem para o meio de Lisboa causar confusão. Qual foi a ideia?

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