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As prostitutas evitaram uma epidemia de Sida na Índia

Os prognósticos feitos em 2002 levaram para o terreno um projeto financiado pela Fundação Bill e Melinda Gates. Atualmente a prevalência do VIH na Índia é inferior à dos EUA.

Quando, em 2002, um relatório previa que, em 2010, haveria 20 a 25 milhões de pessoas com o vírus da Sida soaram os alarmes. O documento alegava que haveria mil pessoas infetadas por dia e que dois milhões de crianças seriam órfãs devido à Sida. A calamidade faria da Índia a capital mundial da doença.

Mas isso não aconteceu. O ano de 2010 já passou e o país evitou esse desastre. O que não se sabia é que esta gigantesca vitória na saúde pública se deveu às prostitutas.

A história é contada agora em livro por Ashok Alexander, 64 anos, o homem que, durante anos, esteve nas linhas da frente de um dos maiores projetos mundiais de luta e prevenção da Sida, de acordo com o The Guardian.

Alexander, filho do principal conselheiro de Indira Ghandi, deixou o cargo de CEO numa multinacional para se juntar ao programa da Fundação Bill e Melinda Gates dedicado à prevenção da Sida. Avahan, o nome da campanha, começou para ir para o terreno ver como eram as relações sexuais na Índia, como trabalhavam as prostitutas, onde viviam, as suas preocupações e escolhas.

A viagem começou com um passeio noturno por um parque na cidade de Vizag, no sul do país. O número de casais a ter relações sexuais, na relva ou por detrás de arbustos, levou uma pessoa de uma ONG a dizer-lhe: “Cuidado para não pisar as pessoas.” Os bordéis representavam apenas 7% da escolha para os serviços sexuais. A rua, os parques, as esquinas ou as paragens de autocarro eram os locais de eleição.

Alexander tomou consciência que a dispersão das prostitutas era um problema para o desenvolvimento do programa. Quando as mulheres estão nas bermas das auto-estradas, entram num camião, depois atravessam a via para o outro lado e entram noutro camião é difícil conter uma epidemia.

Assim, os dinamizadores do Avahan precisavam de reunir muita informação sobre as prostitutas e só elas a poderiam dar – e aceitaram.

Começaram por abrir centros onde as mulheres, homossexuais ou transgéneros poderiam ir para descansar, tomar um banho quente ou conversar. Também podiam ser vistas por um médico, de forma gratuita, para rastrear doenças sexualmente transmissíveis. Fez toda a diferença.

Desta forma conseguiu-se juntar num mesmo local várias mulheres e dar-lhes informação e apoio. Os centros multiplicaram-se – em dois anos estavam em 550 cidades e, ao terceiro, já eram o maior programa mundial de prevenção da Sida financiado por um entidade privada.

No pico da sua atividade, o Avahan atendia 270 mil prostitutas em 672 cidades, distribuindo 13 milhões de preservativos por mês. Custou cerca de 330 milhões de euros e desempenhou um papel essencial na contenção do número de casos.

Atualmente, a Índia tem 2,1 milhões de pessoas infetadas com o vírus da Sida e a prevalência da doença é inferior à dos EUA.

ZAP //

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