A intervenção de João Ferreira, o candidato presidencial do PCP, está a marcar, para já, o segundo dia do XXI congresso nacional do partido que começou, neste sábado, pouco depois das 9 da manhã, no pavilhão Paz e Amizade, em Loures, Lisboa.
João Ferreira apontou dez falhas a Marcelo Rebelo de Sousa, actual Presidente da República, alertando que as eleições de Janeiro vão influenciar a vida dos portugueses, “para o bem ou para o mal”.
Num discurso ouvido em silêncio, o eurodeputado comunista falou apenas do “mal” de Marcelo durante os últimos cinco anos, sem nunca mencionar o seu nome.
Há “valores de Abril” na Constituição que o actual Presidente ignorou, referiu, acusando Marcelo de ter “uma acção que contribuiu, directa ou indirectamente, para degradar as condições de vida dos trabalhadores.
Esta foi a primeira falha, seguindo-se o que fez para “conter e nunca para promover a evolução dos salários, num país em que muitos empobrecem a trabalhar“, para “por em causa o Serviço Nacional de Saúde (SNS), caucionando o desvio de recursos públicos para alimentar o negócio da doença”, realçou João Ferreira.
Os outros falhanços, na leitura do candidato comunistas, foram tomar partido pelos “interesses dos grupos económicos e financeiros“, lembrar-se apenas do “interior abandonado”, mas “depois da catástrofe” dos incêndios, e não valorizar “a Cultura e quem nela trabalha”.
Por fim, “num momento crítico”, Marcelo ajudou a “fragilizar direitos, liberdades e garantias, intrínsecos ao regime democrático, algo que a emergência sanitária não justifica”, considerou ainda João Ferreira.
Ao invés, um Presidente da República deve “mobilizar o povo português” na defesa da “valorização do trabalho e dos portugueses”, no reforço dos serviços públicos e do SNS ou ainda no “aprofundamento da democracia e no fortalecimento das suas raízes na sociedade portuguesa”, apontou também o eurodeputado.
Estes são valores inscritos “nas páginas na Constituição” e não podem ser “letra morta como alguns querem”, disse ainda.
Os problemas do país “resolvem-se com a acção determinada” do povo, acrescentou.
“Um povo que aclamou o Mestre de Avis, resgatou do domínio espanhol a independência nacional, derrubou uma monarquia decrépita e instaurou a República, combateu o fascismo e forjou esse tempo luminoso de Abril, saberá encontrar e percorrer os caminhos do desenvolvimento e do progresso, que concretizem as suas mais fundas aspirações”, vincou também.
Aplaudido de pé no início e no final, João Ferreira disse ser necessário “abrir um horizonte de esperança na vida deste país” nas eleições presidenciais.
“Seja pelo conteúdo concreto dos poderes do Presidente da República, seja pela dinâmica que estas eleições comportam e induzem, elas não deixarão de influenciar significativamente, para o bem ou para o mal, o curso da vida nacional”, alertou o candidato presidencial do PCP.
Durante a tarde, os delegados, reduzidos a metade do habitual — 600 — devido à crise pandémica de covid-19, elegem o novo comité central, na base da proposta feita pelo Comité Central cessante.
Depois de eleito, o novo comité central reúne-se para eleger os seus organismos executivos e escolher o secretário-geral, que deverá continuar a ser Jerónimo de Sousa que está no cargo há 16 anos, desde 2004.
O comité central é o organismo que dirige a actividade do partido no intervalo dos congressos, “assumindo a responsabilidade de traçar, de acordo com a orientação e resoluções dos congressos, a orientação superior do trabalho político, ideológico e de organização do partido”, estipulam os estatutos do PCP.
Jerónimo nunca foi taxativo sobre o assunto, mas admitiu implicitamente continuar à frente do partido após o congresso.
A lista do comité central do PCP vai respeitar a “regra de ouro” fixada por Álvaro Cunhal de ter uma maioria de membros de origem operária, no caso 44,96%.
De acordo com a proposta de composição do órgão máximo de direcção dos comunistas, a lista “inclui 129 camaradas”, uma redução relativamente ao anterior. Há 33 saídas e 19 são novos dirigentes.
De saída deste órgão estão o ex-secretário-geral Carlos Carvalhas, o antigo líder da CGTP Arménio Carlos e o ex-deputado Agostinho Lopes.
ZAP // Lusa