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Arguido pelas mortes nos Comandos condecorado por “comportamento exemplar”

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(dr) Exército Português

Um dos arguidos do processo que investiga a morte de dois recrutas do 127.º curso de Comandos, o capitão-médico Miguel Domingues, foi condecorado com uma medalha que se destina a premiar o comportamento exemplar.

A notícia é avançada pela Rádio Renascença que salienta que o capitão-médico recebeu, nesta quarta-feira, a medalha de comportamento exemplar no grau prata. Uma distinção que visa premiar “a exemplar conduta moral e disciplinar”, sustenta a estação.

Miguel Domingues é um dos 18 arguidos do inquérito que investiga as mortes dos recrutas Hugo Abreu e Dylan Araújo Silva, no decurso de uma prova do 127.º curso de Comandos.

A juíza de instrução criminal que ouviu os arguidos imputa responsabilidades directas ao capitão-médico pelas mortes, notando que “não prestou atenção ao agravamento” do estado de saúde dos recrutas e que “se desinteressou” deles.

As alegações do Ministério Público indicam que Miguel Domingues, que era o responsável pela saúde dos instruendos do curso, esteve ausente da prova durante várias horas e que mandou “duas vítimas rastejar para a ambulância”, com o intuito de “causar lesões físicas e neurológicas nos militares”.

Exército explica que é uma condecoração “automática”

O porta-voz do Exército, Vicente Pereira, explica à Renascença que a condecoração é um “procedimento automático” que foi accionado antes das mortes no curso de Comandos.

“De acordo com o regulamento, esta medalha é concedida a todos os militares que completem 15 anos de serviço efectivo sem qualquer pena disciplinar ou criminal até ao momento em que ela é conferida”, destaca Vicente Pereira.

“Em Setembro de 2016, ele [Miguel Domingues] completou os tais 15 anos sem qualquer pena disciplinar ao serviço do Exército, com competência e demonstração das suas capacidades. Como tal, é de toda a justiça que ele, em Setembro de 2016, ao completar os 15 anos, receba a medalha”, constata ainda o porta-voz do Exército.

Vicente Pereira destaca também que “não há motivo nenhum legal, nem seria correcto da parte do Exército criar um motivo artificial para que o militar não receba a medalha”.

ZAP //

9 Comments

  1. Sou daqueles que considero o serviço militar como necessário. Contudo, discordo completamente é que se seja condecorado automaticamente quando durante 15 anos de serviço efectivo sem qualquer pena disciplinar ou criminal; Pessoalmente, uma condecoração serve para distinguir alguém que fez algo de sublime e não para alguém que não cometeu um erro.

    • Totalmente de acordo com o seu ponto de vista, tudo isto não passa de uma afronta à dignidade humana, se foi para isto o 25 de Abril melhor fariam se estivessem a dormir!.

    • Bem… Segundo a seu ponto de vista devia-se acabar com todas as promoções (e não é preciso cometer um acto sublime para ser promovido – basta fazer algo que os superiores consideram acima das suas funções, mas sem ultrapassar as regras e disciplina). De qualquer forma, o senhor ainda não foi condenado, por isso não cometeu qualquer “erro” como diz. Não se esqueça que, até nas forças armadas (onde as regras/leis são diferentes – não é uma instituição democrática) é-se inocente antes de se considerar culpado (se o fôr). E não estou muito convencido que foi.
      e para o senhor (ou senhora) *Incrível*: Nas forças armadas, os elementos desta, são sujeitos a treinos muito duros, para reforçar as condições físicas e psicológicas do indivíduo. Porquê? Para não falhar no “teatro de guerra”. Nos comandos esse treino é muito mais intenso (e degradante, se lhe quiser chamar isso). Porquê? Para quando estes elementos foram para o local de confronto estejam preparados para duras situações. Acha que um comando estaria em condições para actuar no Afeganistão se fosse tratado “condignamente”? NÃO! Talvez não durasse um dia sequer! Mas não se engane. Não estou a dizer que acho bem que se mate instruendos. Não! O que eles precisam é de estar em excelentes condições físicas e psicológicas para ingressar nos comandos. E é aí que reside o problema. Os exames médicos não foram eficazes! São os médicos e/ou chefias que devem levar “na tromba”! São eles que permitem que pessoas entrem (voluntáriamente – ninguém é obrigado a entrar nos comandos) sem as mínimas condições. E é por isso que estes acidentes acontecem (o que não quer dizer que não aconteçam mesmo que o isntruendo esteja em condições – mas isso é bem raro se as coisas forem feitas correctamente)! Este senhor é, no meu ponto de vista, um bode espiatório para quem deixou entrar gente sem condições para, sequer aguentar os treinos (porque a realidade da guerra é muuuuito mais dura e degradante que qualquer treino).
      E eu sou daqueles que considera que o serviço militar não é, de todo, necessário…
      Nota: Também discordo das promoções automáticas, nas Forças Armadas ou em qualquer sítio!

  2. 1º- Esta condecoração está prevista automáticamente no RM. Se não se gosta disso mude-se o RM.
    2º- O facto de ser arguido em processo não significa que seja culpado. Todos são inocentes até a justiça os condenar.

  3. Mais uma vez, as pessoas não entendem que o exército não é uma instituição democrática. A senhora juíza, com todo o respeito, não sabe o que se passa na instrução militar. Já no exército, as coisas são puxadas para fortalecer o físico, mas também o psicológico. Nos comandos, essa “puxada” é ainda maior! Um comando não preparado (de forma extremamente dura e; por vezes, até degradante) não sobrevive em “batalha”! Isso de “rastejar para a ambulância” é apenas uma punição para os instruendos aprenderem a não se “baldar”. E com “baldar” digo, fugir ao extremos que estes elementos TÊM de ser expostos, porque TÊM! No palco da guerra, são estes elementos que vão estar expostos a situações bem mais duras que nos treinos e; como já disse anteriormente, eles TÊM de estar preparados. Caso contrário não são mais que “carne para canhão”. Com isto, não quero dizer que se mate instruendos nos treinos para se descobrir os melhores (sobrevivência do mais forte). Não! O que digo é que os exames médicos devem ser muito mais exigentes e rigorosos (fisicamente e psicológicamente) para que este tipo de coisas aconteça em menor quantidade (porque vai continuar a haver mortes nestes treinos – Os comandos não é como ir ali passar umas férias). Isto tudo (este comentário) apenas serve para mostrar a minha incredulidade ao facto de uma juíza (ou juiz, se for o caso) civil ter julgado uma situação militar, que diz únicamente respeito às forças armadas. Esta senhora nada sabe o que é nem como funciona estes “treinos”. Só alguém dentro do assunto (e não me refiro às altas patentes que nada sabem) é que pode julgar esta situação. Se fosse fora da esfera militar, tudo bem. Mas não é! Não se esqueçam que só vai para os comandos QUEM QUER!!! Ninguém é obrigado a lá ir… Mas uma vez lá, têm de aceitar e obedecer às regras existentes. Não quer fazê-lo? Então não vá! É simples. Mas ainda há gente que acha que o ingresso nos comandos “é de macho”! Por isso vai. Mas quando lá chega, até os mais machões choram (porque chorar é humano e o medo também).
    Mas… O que devia, era não haver exército de todo! Para nada serve! Se fossemos invadidos, seríamos totalmente aniquilados num abrir e fechar de olhos. Dizem que serve para as acções da Nato e afins… Pois. E o dinheiro que gastamos para quase nada? Para os enviar? Para lhes pagar (porque ganham mais se lá forem)? Para os tratar? No fundo fazem algumas patrulhas e ajudam algumas populações. Embora seja de louvar, (o que lá fazem) é algo que outros países com mais recursos (como a Alemanha, França, Espanha EUIA e outros) podem fazer igualmente, sem grande mossa em termos económicos). Para que serve? Eu digo-lhes. Serve para gastar recursos que deveriam estar a ser usados em coisas mais importantes, como a saúde, a educação e a sociedade em geral. O que mais me irrita é quando dizem que eles vão para lá para representar a pátria. Não! Os soldados vão lá para ganhar mais uns tostões e os contigentes vão apenas por interesses económicos e políticos. Nada tem a ver com os interesses do país. Do Povo. Que se acabe as Forças Armadas!

    Nota: Com as Forças Armadas, não me refiro às forças de autoridade (PSP, GNR, Judiciária, etc). Essas forças são muito importantes para garantir a segurança do cidadão português.

  4. Hoje os comandos só servem para justificar a existência das hierarquias, para justificar a existência dos graduados e dos oficiais subalternos ou superiores. São pessoas a quem é incutida uma estupida disciplina que os desumaniza. No tempo da guerra do ultramar havia o principio defendido pelas altas hierarquia que curso de comandos em que não morresse um instruendo não era curso não era nada, isto diz bem o que são e para que servem (ouvi isto em 1975 na operação designada de Nortada).

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