Cada perna da aranha funciona como um “computador” semi-independente, com sensores que leem o ambiente e acionam os movimentos mais apropriados. Esta autonomia ajuda os aracnídeos a criarem teias perfeitas com o uso mínimo do cérebro.
Uma nova investigação revelou que as pernas das aranhas têm “mentes próprias”, o que significa que constroem teias sem a supervisão do cérebro.
Citado pela Scientific American, Fritz Vollrath, principal autor do artigo científico e biólogo na Universidade de Oxford, explicou que a novidade deste estudo “é apresentar um paradigma interessante e potencialmente muito importante para estudar e testar novas ideias sobre a próxima geração de robôs“.
Esta descoberta tem implicações importantes no campo da robótica, uma vez que os engenheiros podem usar este exemplo de inteligência descentralizada como inspiração para construir membros autónomos em robôs. Os resultados foram publicados no Journal of The Royal Society Interface.
A investigação gira em torno da “computação morfológica“, ou seja, a ideia de que uma função é codificada numa determinada parte do corpo em vez de depender das instruções do cérebro. Os exemplos mais comuns deste fenómeno incluem o reflexo automático do joelho em seres humanos e o próprio ato de andar.
“Basicamente, há um atalho e o cérebro nem sabe o que está a acontecer por lá”, disse Vollrath, acrescentando que esta “terceirização” poupa o cérebro de supervisionar ações padrão aprimoradas pela evolução ou pela prática.
Ao filmar e estudar os movimentos das oito pernas das aranhas, “fomos capazes de rastrear a construção de uma teia”, um processo que revelou “uma espécie de dança em torno de um eixo central, com uma coreografia precisa de regras replicáveis”.
A complexidade da teia é o resultado de uma longa sequência de milhares de pequenos passos e ações, cada um baseado nos passos e ações anteriores.
“Cada passo e manipulação do fio segue um padrão de ação fixo, com uma das pernas da aranha a medir um ângulo e uma distância e, em seguida, a conectar um fio a outro com um toque rápido, sempre com precisão e espaçamento impecáveis”, descreveu.
A investigação revelou ainda que, quando a perna de uma aranha fica presa, é descartada. Uma perna mais curta regenera-se quando o animal muda o seu exoesqueleto, um fenómeno que a própria evolução providenciou para que as pernas “pensem” por si mesmas.
Isto significa que as diferentes propriedades das pernas regeneradas não afetam a construção de uma teia. O cérebro é, então, dispensado desta tarefa de gerir oito pernas, sobrando tempo para se dedicar a atividades complicadas, como ações de sobrevivência e vigilância de predadores.