Nos arredores de Riad, a Arábia Saudita está a construir um pequeno reator de pesquisa nuclear para a produção de energia. Embora seja um projeto pacífico, alguns especialistas estão preocupados devido à rivalidade que o país mantém com o Irão, que já possui tecnologia para auxiliar na construção de uma bomba.
O reator nuclear projetado pela Argentina produzirá apenas kilowatts de energia, uma pequena fração do que a Arábia Saudita precisa. Mas, segundo um artigo da NPR divulgado na segunda-feira, este é um sinal do que está por vir. O projeto inclui a produção de gigawatts de energia, para serem usadas em eletricidade e em dessalinização.
Os Estados Unidos (EUA) e outros países, como a Coreia do Sul e a China, estão a avançar nos planos para ajudar o programa nuclear civil da Arábia Saudita.
“A grande questão é se temos controle suficiente para confiar na Arábia Saudita, já que o país tem sido bem claro sobre as suas intenções caso as coisas corram mal com o Irão“, disse Sharon Squassoni, especialista nuclear e professora da Universidade George Washington, nos EUA.
Atualmente, a Arábia Saudita gera eletricidade com combustíveis fósseis. De acordo com Sharon Squassoni, há cerca de uma década o país começou a criar um plano ambicioso para um programa de energia nuclear — que continuou mesmo após o desastre de 2011, na central nuclear de Fukushima, no Japão.
“A maioria dos países estava a afastar-se da energia nuclear, mas a Arábia Saudita decidiu que este é o seu plano de longo prazo”, explicou a professora.
A especialista diz estar preocupada com o contínuo interesse da Arábia Saudita em energia nuclear, dado o seu alto custo e a facilidade com que o país pode adotar fontes de energia renovável, como a solar.
Mas o interesse pode fazer muito mais sentido quando consideramos a rivalidade com o Irão. Como referiu a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), o programa nuclear deste país teve no passado contornos militares. Hoje em dia, mantém infraestruturas que podem ser usadas para enriquecer urânio. Dependendo do nível de enriquecimento, esse material pode ser usado como combustível para reatores nucleares ou para criar os núcleos de bombas nucleares.
Desde 2015 que a AIEA monitoriza de perto as infraestruturas nucleares do Irão, no âmbito de um acordo internacional que congela o programa de enriquecimento de urânio de Teerão, em troca do alívio das sanções.
Mas a capacidade nuclear do Irão deixa a Arábia Saudita nervosa, lê-se no artigo da NPR. No ano passado, o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman alertou, no programa da CBS “60 Minutes”, que se o Irão tivesse uma bomba nuclear, a Arábia Saudita também teria. “Sem dúvida, se o Irão desenvolver uma bomba nuclear, seguiremos o exemplo o mais rapidamente possível”, afirmou.
Autoridades sauditas indicam que o novo reator de pesquisa em construção não tem nada a ver com bombas nucleares. Numa declaração à Bloomberg News, no mês passado, o Ministério de Energia, Indústria e Recursos Minerais da Arábia Saudita frisou que o objetivo do reator era “estritamente pacífico”.
“O projeto está em total conformidade com a AIEA e a estrutura internacional que rege a energia nuclear e seu uso pacífico”, apontava o comunicado.
Do ponto de vista técnico, o novo reator é demasiado pequeno e para ser útil na produção de bombas, considera Aaron Stein, diretor do programa para o Oriente Médio do Foreign Policy Research Institute, na Filadélfia (EUA). “Não é algo em que um país apostaria para lançar um programa de armamento nuclear”, explicou.
De fato, nem mesmo grandes centrais nucleares civis podem ser usadas para fabricar armas. No entanto, a Arábia Saudita não se manifestou sobre a pretensão de ter as suas próprias infraestruturas nucleares, além de centrais elétricas.
Embora essas infraestruturas podem ser legais – já que são usadas para enriquecer urânio para produção de eletricidade – Aaron Stein realça que uma decisão saudita de avançar nesse sentido “faria soar os alarmes a toda a região”.
A Administração Trump tem procurado um acordo de cooperação nuclear com a Arábia Saudita. Sharon Squassoni nota que tal acordo deve ser cuidadosamente elaborado. A especialista espera que os EUA obtenham garantias de que a Arábia Saudita não vai procurar tecnologia civil que lhe permita tornar-se uma potência nuclear.
A Embaixada da Arábia Saudita em Washington (EUA) não respondeu a um pedido da NPR para comentários sobre este tema.
Mais um, a levar o mesmo caminho do Irão. Quem lhes fornece a tecnologia, alguém discute isso?