Devido às alterações climáticas e à pandemia de covid-19, a seca e a fome agravam-se no sul de Madagáscar. “Não há comida, não há meios de subsistência”, relata o Programa Alimentar Mundial.
O sul de Madagáscar vive a pior seca em quase quatro décadas. O pouco que chove não é o suficiente para irrigar os campos ou dar de beber à população. A situação causada pelo aquecimento global é agravada pela pandemia de covid-19, deixando os seus habitantes a passar fome.
A diretora regional do Programa Alimentar Mundial (PAM) para a África Austral, Lola Castro, fala numa situação “muito dramática”: Madagáscar é o primeiro país do mundo onde se passa fome devido às alterações climáticas.
“Todos os anos em que não há chuva e o calor aumenta acrescentam-se mais camadas ao problema. Não há produtividade, as pessoas têm de se mudar, não há comida, não há meios de subsistência”, conta Shelley Thakral, responsável de comunicação do PAM, em declarações ao jornal Público.
“Algumas dunas de areia das zonas costeiras estão a ser levadas pelo vento, devido à seca. Há terras que podiam ser cultivadas e que estão agora cobertas de areia”, acrescenta. “O pior ainda está por vir porque precisamos de dinheiro e de recursos para lidar com esta emergência agora”.
A crise de fome agrava-se com a pandemia. Devido à covid-19, os navios do PAM podem demorar até três meses a chegar aos portos da ilha. Depois, para chegar ao extremo sul, podem demorar quase oito dias, devido às fracas infraestruturas.
“No distrito de Amboasary, estamos a alimentar cerca de 7.000 crianças em idade escolar e isto é difícil. Fazemos por grupos etários e começamos com os mais novos e depois vamos até aos miúdos mais velhos. Eles não têm pequeno-almoço, às vezes têm uma refeição à noite”, conta Shelley Thakral ao Público.
Fornecer cuidados de saúde às pessoas que já estão em desnutrição extrema, apoiar no hospital local e distribuir comida são as prioridades dos Médicos Sem Fronteiras em Madagáscar.
“Em situações normais, estas populações são seminómadas e levam o gado consigo quando se movimentam. Agora não há muito gado”, explica o voluntário Ricardo Fernandez, fisioterapeuta de profissão.
“Quando se entra numa casa, as pessoas não têm muitas coisas porque tiveram de vendê-las para conseguir sobreviver”, relata. “Em termos de comida, esta situação é insustentável. Algumas pessoas dependem de ajuda humanitária”.