Vírus do herpes está a ser usado para tratar cancro da pele. E está a funcionar

Um vírus do herpes que mata o cancro da pele poderá em breve ser aprovado para tratamentos – isto depois de, num estudo, ter reduzido os tumores a um terço das pessoas com melanoma em fase avançada.

Após muitas décadas de esforços e numerosos ensaios em seres humanos, ainda só um vírus concebido para matar cancros foi aprovado pelas entidades reguladoras dos EUA e da Europa. Em 2015, o T-VEC foi aprovado para o tratamento do melanoma inoperável.

Agora, um segundo – um vírus do herpes – poderá receber luz verde no final do mês, depois de ter obtido bons resultados no tratamento do melanoma, um tipo particularmente grave de cancro da pele.

Num estudo publicado em junho na OncLive, um vírus do herpes geneticamente modificado, denominado RP1, foi injetado nos tumores de 140 pessoas com melanoma avançado para as quais os tratamentos padrão tinham falhado.

Os participantes tomaram também um medicamento chamado nivolumab, que se destina a reforçar a resposta imunitária aos tumores.

O RP1 é um vírus herpes simplex, tal como o T-VEC.

Em 30% das pessoas tratadas, os tumores encolheram, incluindo os que não foram injetados. Em 50% destes casos, os tumores desapareceram completamente.

“Metade das pessoas que responderam tiveram respostas completas, ou seja, o desaparecimento total de todos os tumores”, enalteceu Gino Kim In, líder da investigação, da Universidade do Sul da Califórnia, à New Scientist.

Como revela à mesma revista, está agora a decorrer um ensaio numa fase mais avançada que envolverá 400 pessoas.

No entanto, o RP1 poderá ser aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) nos EUA para o tratamento do melanoma avançado em combinação com o nivolumab muito antes da conclusão deste ensaio.

“A FDA deve dar-nos uma decisão no final deste mês”, diz Kim In.

Vírus que tratam cancros

Há mais de um século que se sabe que as infeções virais podem, por vezes, ajudar a tratar cancros, mas infetar deliberadamente pessoas com vírus “selvagens” é muito arriscado.

Nos anos 90, os biólogos começaram a modificar geneticamente os vírus para tentar torná-los melhores no tratamento do cancro, mas incapazes de danificar as células saudáveis.

Como explica a New Scientist estes vírus são concebidos para funcionar de duas formas:

  • em primeiro, infetando diretamente as células cancerosas e matando-as ao rebentá-las.
  • em segundo, desencadeando uma resposta imunitária que visa todas as células cancerosas, onde quer que se encontrem no organismo.

Por exemplo, um vírus do herpes simplex conhecido como T-VEC, ou Imlygic, foi modificado para fazer com que as células tumorais infectadas libertem um fator imunoestimulante chamado GM-CSF, entre outras alterações. Foi aprovado em 2015 nos EUA e na Europa para o tratamento do melanoma inoperável.

Contudo, o T-VEC não é muito utilizado. Em parte porque só foi testado e aprovado para ser injetado em tumores na pele. A maioria das pessoas com melanoma avançado tem tumores mais profundos.

Agora, com o RP1, decidiu-se tentar injetá-lo também em tumores mais profundos.

O RP1 foi melhorado de várias formas. Em particular, faz com que as células tumorais se fundam com as células vizinhas, ajudando o vírus a espalhar-se através dos tumores e reforçando a resposta imunitária.

Kim In espera que a RP1 seja muito mais utilizado do que o T-VEC se for aprovada.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.