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Apagão: “não há indícios” de ciberataque, mas “nada está afastado”

ESTELA SILVA/LUSA

Recuámos ao séc. XIX: afinal, o que aconteceu?

Foi algo sem precedentes o que se passou esta segunda-feira, dia 28 de abril, em Portugal — e não só.

Por volta das 11h30, todo o país se “apagou”. Sem wi-fi nem rede nos telemóveis, esse tornar-se-ia o menor dos problemas no país.

Comboios e metros pararam subitamente, com alguns passageiros a entrar em pânico em Lisboa, nas carruagens subterrâneas. Aeroportos também pararam, com a TAP a pedir aos passageiros que não se deslocassem para o aeroporto.

Nas ruas, os semáforos apagados foram o maior problema, provocando o caos no trânsito. A PSP reforçou o dispositivo para controlar o trânsito. As lojas não tiveram como aceitar cartões para pagamentos, supermercados fecharam e instalou-se uma corrida à água, rádios e pilhas, com relatos — já desmentidos pela REN — de que o apagão geral poderia durar até 3 dias.

Nos hospitais, geradores alimentados a combustível aguentaram o forte. Foram canceladas cirurgias e outros apontamentos não urgentes.

Segundo responsável da Comissão Europeia, esta foi “uma das maiores falhas no sistema elétrico ocorridas nos últimos anos” na UE.

Portugal não foi o único país afetado. Espanha, França, Andorra e Alemanha também ficaram “às escuras”. Em Espanha foi decretado estado de emergência: o nosso vizinho “recuou ao século XIX”, escreveu o El País, no caos do escuro.

Ficamos sozinhos. Duas centrais salvaram o dia

Em Portugal, as centrais de Castelo de Bode (Tomar) e a Tapada do Outeiro (Gondomar) salvaram o dia, ao repor rede elétrica, que sem a ajuda de Espanha, retomou ao normal muito mais lentamente. Ao contrário de Espanha, que beneficiou do apoio das redes francesa e marroquina para acelerar a reposição do fornecimento, Portugal ficou sozinho.

Estas duas unidades são as únicas no sistema elétrico português que permitem um “black start” — ou seja, arrancar sem depender de tensão da rede. Foi pela proximidade do Outeiro que a região do Grande Porto recuperou mais rapidamente a energia do que Lisboa, que pelas 22h30 já tinha luz em grande parte das habitações, mas cuja reposição de energia ainda estava em curso.

Entretanto, já ao fim da tarde, quando o sol se preparava para se deitar, fez-se luz, pouco a pouco, pelo país fora, e as pessoas começaram a festejar às janelas à medida que a eletricidade voltava.

Mas afinal, o que aconteceu?

O que sabemos e o que não sabemos

Por enquanto, não há confirmação oficial sobre o que aconteceu. “Nada está afastado”, mas sabemos que “a origem não foi em Portugal”.

A hipótese de ataque informático à rede europeia não foi descartada, apesar de o primeiro-ministro Luís Montenegro ter dito pela tarde “não haver indícios” de ataque.

“Nada está afastado”, explicou Luís Montenegro, mas “tudo aponta” para que a origem da falha de energia esteja na interconexão com Espanha.

Sabe-se que momentos antes das 11:33 registou-se uma forte oscilação de tensões na rede espanhola, num período em que Portugal estava a importar energia — o que se costuma fazer para aproveitar preços mais baixos e levou  ao disparo dos sistemas de proteção das centrais elétricas, provocando possivelmente o colapso geral.

“Sabemos que a origem não foi em Portugal. Nós temos a nossa interconexão com a Espanha e tudo aponta que foi daí que se originou toda esta situação, mas eu não quero estar a especular”, afirmou Montenegro, acrescentando estar a ser feito um trabalho conjunto com o Governo espanhol.

Os serviços de inteligência também estão a procurar perceber a origem desta situação, e ainda não está afastada a hipótese de ataque cibernético.

“Eu creio que é importante dizer que não está nada afastado, mas não há nenhuma indicação também que aponte nesse sentido”, concluiu Montenegro.

A vice-presidente executiva da Comissão Europeia Teresa Ribera também disse não existirem para já provas de ciberataque no corte maciço no abastecimento elétrico na Península Ibérica.

“Não estamos a descartar nada de momento, mas não há provas de qualquer tipo de problema de cibersegurança. Estamos atentos a tudo e a principal prioridade é, obviamente, restaurar o sistema elétrico e avaliar e compreender o que aconteceu”, afirmou a responsável, em Bruxelas.

Pode ter sido uma falha técnica em Espanha. Por enquanto, não há informações conclusivas sobre a causa, garantiu também o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, que sublinha: as autoridades não descartam para já qualquer teoria.

Também António Costa, presidente do Conselho Europeu, disse que não há indícios de ciberataque, escreveu no X.

A REN também ainda não sabe a causa e explicou pelas 20 horas que “a normalização total é difícil de prever”.

“Podem ser mil e uma causas, é prematuro estarmos a fazer uma avaliação”, diz o administrador da REN.

Tanto Sánchez como Montenegro pediram responsabilidade no uso de energia por parte da população: pediu chamadas breves, realizadas apenas quando necessário.

Muitas informações falsas a circular

Desde o momento em que a energia falhou, começaram a circular informações falsas sobre a causa da falha.

Falou-se num incêndio no sudoeste de França como sendo responsável pelo apagão, mas as empresas de eletricidade francesas negaram essa informação.

A REN desmentiu rapidamente informações de que o sistema poderia demorar uma semana a normalizar e afastou também a hipótese de fenómenos atmosféricos como causa do problema.

Também houve quem visse informações online de que a um avião se despenhou num local crítico de fornecimento de energia, algo que também não aconteceu.

Um vídeo circulou em que se via a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen a confirmar que tinha sido um ciberataque, mas essa informação também é falsa.

A REN lembrou ainda esta noite que não é verdade que Portugal está dependente de Espanha para ter energia. “O sistema português vai buscar energia a Espanha porque é mais barata”, explicou João Conceição.

Tomás Guimarães, ZAP //

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