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António Domingues diz que já “não tinha condições” para gerir CGD

João Relvas / Lusa

António Domingues, o novo presidente da Caixa Geral de Depósitos

António Domingues, o presidente demissionário da Caixa Geral de Depósitos

O ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos disse esta quarta-feira que decidiu demitir-se porque a maior parte da sua equipa o fez e entendeu não ter condições para gerir o banco, depois do debate que se gerou.

“O que fez com que me tivesse demitido? Muito simples, eu ia ficar sem equipa. Dos onze membros do Conselho de Administração demitiram-se sete, e se considerar o Conselho Fiscal em quinze demitiram-se nove. Eu sem equipa teria dificuldade em gerir a Caixa”, afirmou António Domingues, na audição que decorreu hoje na Comissão parlamentar de Orçamento e Finanças.

O presidente demissionário disse ainda que poderiam questioná-lo porque não escolheu uma nova equipa, continuando à frente da instituição, respondendo então que a forma como o debate em torno da CGD e da sua equipa foi conduzido não lhe dava condições para se manter no cargo.

“Uma das primeiras responsabilidades do gestor de uma empresa é saber se tem condições para a gerir e eu, no meu melhor juízo, entendi que não tinha condições para o fazer“.

O gestor afirmou que teria gostado de continuar como presidente da CGD, já que foi uma “experiência muito rica”, mas acrescentou que perante as mudanças de posição do acionista Estado também tinha direito de ele alterar o seu posicionamento.

“Quando me perguntaram se eu estava zangado eu disse, como se recorda, ‘pelo amor de deus’, porque o acionista tem direito de tomar decisões e de mudar de opinião. Respeito isso, mas eu tenho direito de me bater pela minha opinião, os meus objetivos e as minhas responsabilidades”, sublinhou.

Questionado ainda sobre a polémica da entrega das declarações de rendimentos e património, o ex-presidente mostrou-se contra essa posição.

“Quando se trabalha num banco, seja ele qual for, são publicados todos os anos nos relatórios os rendimentos e os meus, quem quiser vê-los, estão no BPI. O que faço com os meus rendimentos e o meu património já é da minha esfera pessoal, não vejo que haja ou houvesse necessidade de regras específicas para a Caixa para controlar a minha vida pessoal”, explicou.

Além disso, o gestor frisou ser difícil “atrair profissionais com experiência” quando têm, como consequência, “os seus patrimónios pessoais publicados nos tabloides”.

Saída de 2.200 trabalhadores até 2020

Para diminuir gastos, Domingues disse que o plano estratégico desenhado para a CGD prevê uma redução de custos ao longo de cinco anos, desde logo com a saída de trabalhadores.

“Estimamos que a Caixa precisa de reduzir 2.200 pessoas”, afirmou o presidente do banco público nos últimos quatro meses de 2016, entre final de agosto e final de dezembro, referindo que o previsto é que 25% desses funcionários saiam por reformas naturais e os restantes em pré-reformas.

Para Domingues, este plano de redução de pessoal já foi falado com as estruturas do banco e “é exequível” e garantiu que não poria em causa os clientes, uma vez que estes recorrem cada vez mais aos meios digitais.

Além disso, o presidente demissionário, que agora vai ser substituído por Paulo Macedo, adiantou que a reestruturação em curso deve permitir alcançar um lucro de 200 milhões de euros ainda este ano e de 700 milhões em 2020.

Domingues realçou que estas projeções são feitas tendo por base um “cenário conservador”, em que se estendam até 2019 as taxas de juro a 0%.

“Gerir não é gerir para os dias de sol, mas para os riscos que existem”, alertou.

ZAP // Lusa

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