A nova série documental da Netflix “Ancient Apocalypse” — em português, “Revelações Pré-Históricas” — está a gerar polémica entre a comunidade científica.
O autor da série Graham Hancock faz uma série de alegações que muitos cientistas argumentam ser historicamente incorretas ou infundadas.
“O jornalista Graham Hancock viaja pelo mundo à procura de provas de civilizações perdidas e misteriosas que datam da última Idade do Gelo”, lê-se na sinopse no site da Netflix.
A série estreou no dia 11 de novembro e tem oito episódios. Nela, Hancock defende que a humanidade nasceu de uma civilização superior que foi destruída durante a Idade do Gelo: uma espécie de “Atlântida”.
O seu argumento, conforme exposto neste programa e em vários livros, é que essa civilização avançada foi destruída por uma inundação cataclísmica.
Os sobreviventes desta civilização avançada, segundo Hancock, introduziram a agricultura, a arquitetura, a astronomia, as artes, a matemática e o conhecimento da “civilização” a “simples” caçadores-coletores. A razão pela qual existem poucas evidências, argumenta, é porque está debaixo do mar ou foi destruída pelo cataclismo.
“Talvez”, postula Hancock no primeiro episódio, “a atitude extremamente defensiva, arrogante e paternalista da academia convencional esteja impedir-nos de considerar essa possibilidade”.
Segundo Hancock, os cientistas não querem acreditar nesta hipótese porque não gostam de pensar em mitologia ou astronomia, às quais o jornalista recorre.
“É um ataque total aos arqueólogos”, acusa Flint Dibble, num artigo publicado no The Conversation. “O programa é surpreendentemente (ou talvez não) carente de evidências para apoiar a teoria de Hancock de uma civilização avançada e global da Idade do Gelo”.
“O único local visitado por Hancock que realmente data do final da era glacial é Göbekli Tepe, na Turquia moderna”, acrescenta o cientista da Universidade de Cardiff.
Hancock viaja até vários locais do planeta, como a México, Malta, Indonésia ou EUA, mostrando estruturas antigas e defendendo que são provas de que esta civilização existiu. No entanto, não há qualquer tipo de prova disto.
O jornal britânico The Guardian diz mesmo que Ancient Apocalypse é a série mais perigosa da Netflix. “O programa parece-se muito com o tipo de documentário incompleto só para encher que um dos canais da Discovery passaria às 3 da manhã entre os programas sobre acidentes de aviões e arquitetura fascista”, escreve o jornalista Stuart Heritage.
Hancock argumenta que os espectadores “não devem confiar nos chamados especialistas”, sugerindo que devem confiar na sua narrativa. Os seus ataques contra os “arqueólogos tradicionais”, os “chamados especialistas” que “praticam a censura” são estridentes e frequentes. Afinal, como o próprio diz no episódio seis, “os arqueólogos já erraram antes e podem errar de novo”.