Ameaça nuclear de Putin faz com que europeus “paranoicos” procurem iodo

Central nuclear em Doel, na Bélgica

Bruxelas está nervosa. Há um medo real de que a Europa possa estar a caminhar em espiral para a sua pior crise de segurança, em décadas.

Mas a angústia dos belgas não está totalmente centrada no atual conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

A preocupação dominante no Ocidente — Washington, NATO, Reino Unido e UE — está mais relacionada com Moscovo procurar dividir e desestabilizar a Europa, abalando o equilíbrio do poder continental a favor do Kremlin.

O primeiro-ministro polaco Mateusz Morawiecki, no final do ano passado, sublinhou que o Ocidente precisava de “acordar do seu sono geopolítico” em relação às intenções da Rússia, de acordo com a BBC News.

As consequências da invasão da Ucrânia pelo Presidente russo Vladimir Putin e o anúncio de que colocou o sistema de dissuasão nuclear russo em “alerta máximo” continuam a ecoar em toda a Europa Central.

Segundo a Raw Story, as pessoas que vivem nos antigos Estados da era soviética têm ido a correr para as farmácias para comprar iodo, na crença de que este as protegerá de envenenamento por radiação.

Para além de levantarem dinheiro dos bancos e encherem os seus depósitos de gás, dezenas de pessoas tentam armazenar iodo para o caso de Putin se virar para o ataque nuclear.

Hugo, um português que mora na Bélgica, explicou ao ZAP que, “por causa das centrais nucleares, é habitual haver pessoas a procurar essas pastilhas”.

“Mas, agora, claro que com as notícias de possível guerra nuclear”, acrescenta,
as pessoas andam “paranoicas”.

“Nos últimos seis dias, as farmácias belgas venderam tanto [iodo] como durante um ano”, disse Nikolay Kostov, presidente do Sindicato das Farmácias, à Reuters.

Algumas farmácias já nem têm em stock. Encomendámos mais quantidades, mas receio que não durem muito tempo”, acrescenta.

Segundo relata o La Voix du Nord, os mísseis russos com alcance de até 2500 km, que podem ser carregados com ogivas convencionais ou nucleares, preocuparam imediatamente o público.

As farmácias belgas foram tomadas de surpresa, segundo Le Soir. Cerca de 1.500 caixas de 10 comprimidos de iodeto de potássio foram entregues na quinta feira passada, e quase 4.000 por dia na sexta feira e no sábado. Na segunda feira, o número aproximava-se das 30.000 caixas.

De acordo com o Courrier International, na Bélgica, os comprimidos de iodo são distribuídos gratuitamente nas farmácias, há quatro anos, devido ao mau estado das instalações nucleares do país.

As pessoas que viviam num raio de 20 quilómetros à volta das centrais nucleares em atividade no país em 2018 – Tihange, no leste, e Doel, no norte – receberam, na altura, cápsulas.

Em setembro do mesmo ano, também as autoridades alemãs tinham distribuído pastilhas de iodo aos habitantes da cidade de Aachem, a 70 km da central nuclear belga. As autoridades alegaram que a central estava tão próxima que, em caso de emergência, não haveria tempo para distribuir os comprimidos.

Miroslava Stenkova, representante das farmácias Dr. Max na República Checa, onde algumas lojas tinham ficado sem iodo depois de a procura ter disparado, admitiu que “tem sido uma loucura“.

O iodo — tomado em comprimidos ou xarope — é considerado uma forma de proteger o corpo contra condições como o cancro da tiroide em caso de exposição radioativa. As autoridades japonesas recomendaram em 2011 que as pessoas em redor da central nuclear de Fukushima tomassem iodo.

Mas alguns funcionários da região advertiram que o iodo não iria ajudar em caso de guerra nuclear. Dana Drabova, chefe do escritório estatal checo de Segurança Nuclear, escreveu no Twitter: “Pergunta-se muito sobre as pastilhas de iodo como proteção contra a radiação, mas quando (Deus nos livre) as armas nucleares são utilizadas, são basicamente inúteis“.

No entanto, na Polónia, o número de farmácias que vendem iodo mais do que duplicou, segundo o Gdzie po lek, um site polaco que ajuda os doentes a encontrar a farmácia mais próxima com o medicamento que procuram.

“Dados internos no nosso site mostram que o interesse pelo iodo aumentou cerca de 50 vezes desde quinta-feira passada”, disse Bartlomiej Owczarek, co-fundador da plataforma.

A Agência Federal Belga de Controlo Nuclear escreveu no Twitter, na segunda-feira, que “a situação atual na Ucrânia não requer pastilhas de iodo. Ainda estão livremente disponíveis nas farmácias, mas não são necessárias neste caso específico. Tomar apenas iodo por recomendação das autoridades”.

Alice Carqueja, ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.