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“Fez a Amadora e uma parte de Luanda”. Amigo de Salgado nega “qualquer perdão de dívida” do Montepio

Rodrigo Antunes / Lusa

O construtor civil José Guilherme, que está no centro das investigações ao Banco Montepio, assegura que não recebeu qualquer empréstimo sem garantias, nem “qualquer perdão da dívida”, garantindo ainda que sempre cumpriu todas as suas “responsabilidades para com os bancos”. Conhecido por “Zé Grande”, o empresário “fez a Amadora e uma parte de Luanda”, segundo o Expresso.

José Guilherme tomou uma posição pública depois de ter visto o seu nome envolvido na investigação que implica também o Banco Montepio. O construtor civil que se tornou conhecido por ter dado uma “prenda” de 14 milhões de euros a Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, terá recebido quase 70 milhões de euros de empréstimos do Montepio, sem garantias, entre 2011 e 2014, de acordo com as suspeitas do Ministério Público (MP).

O construtor civil e o seu filho, Paulo Guilherme, confirmaram em comunicados distintos as buscas em suas casas e empresas, no âmbito do processo por suspeitas de crimes de burla qualificada, branqueamento e fraude fiscal qualificada, referindo ambos que não acompanharam as autoridades por estarem em Angola.

No seu comunicado, José Guilherme afirmou que nunca subscreveu nem foi titular de unidades de participação do Fundo de Participação da Caixa Económica Montepio Geral (actual Banco Montepio) e que não tem, nem nunca teve, qualquer participação no banco BNI Europa.

Estão em causa suspeitas no âmbito do aumento de capital da Caixa Económica Montepio Geral em 2013 (banco então liderado por Tomás Correia), que foi feito através da constituição do fundo da Caixa Económica Montepio Geral. A investigação judicial suspeita que as unidades de participação do fundo da Caixa Económica Montepio Geral tenham sido compradas com crédito do próprio banco, através de financiamentos do Finibanco Angola (pertencente ao Montepio).

O filho de José Guilherme, em comunicado divulgado ao mesmo tempo da nota do pai, admitiu ter comprado unidades de participação do Fundo de Participação da Caixa Económica Montepio Geral em Dezembro de 2013. Segundo Paulo Guilherme, essas unidades foram “vendidas em mercado com enorme prejuízo pessoal”, depois de ter sido “frustrada a expectativa inicial” de se valorizarem.

Actualmente, diz Paulo Guilherme, não tem “qualquer dívida ao Finibanco Angola relacionada com esta ou qualquer outra operação”.

Por seu lado, José Guilherme refere que, no âmbito das suas funções profissionais, contratou empréstimos para os seus negócios e empresas com vários bancos, incluindo Montepio e Finibanco Angola (que pertence ao Montepio), e que garantiu “pessoalmente operações de financiamento de terceiros”, referindo que, de momento, tem todas as “responsabilidades para com os bancos ou definitivamente cumpridas e encerradas, ou em situação regular de cumprimento“.

O construtor civil afirma ainda que os acordos de reestruturação e pagamento de dívidas a bancos, sejam suas ou as que garantiu para outras pessoas, não tiveram “qualquer perdão de dívida”, isto “ao contrário do que se sabe ter acontecido em muitos outros casos”.

José Guilherme terá ficado com dívidas de milhões de euros ao BES que foram transmitidas para o Novo Banco, como tem sido avançado pela imprensa.

Em 2017, foram notícia as suspeitas de que o ex-presidente do Montepio, Tomás Correia, recebeu pagamentos de 1,5 milhões de euros para beneficiar José Guilherme.

Caçadas ao javali com convidados VIP

“Adepto acérrimo do Benfica”, como analisa o Expresso num artigo onde conta a história do “construtor civil da Amadora” que está no centro do caso Montepio, José Guilherme tornou-se conhecido como o homem que deu uma “prenda” de 14 milhões de euros a Ricardo Salgado.

Essa oferta, detectada no âmbito da investigação ao processo judicial ‘Monte Branco’, terá sido uma contrapartida pelo facto de Salgado ter dado a mão ao construtor civil na sua entrada em Angola.

“Em dez anos, o Grupo José Guilherme foi responsável por alguns dos empreendimentos mais ambiciosos de Luanda“, frisava o Expresso num artigo publicado em 2014, onde evidenciava também as “boas relações” estabelecidas entre o empresário e o Governo de José Eduardo dos Santos. “Zé Grande”, como é também conhecido dada a sua altura, terá mantido uma sociedade com o filho de Marta dos Santos, a irmã do ex-Presidente de Angola.

“Fez a Amadora e uma parte de Luanda”, avança o mesmo semanário num artigo divulgado nesta semana, onde se referem as caçadas ao javali e à perdiz que ele organizava numa quinta que possui na Amareleja, onde também “produz vinhos galardoados”.

Segundo o Expresso, o construtor civil recebia, habitualmente, “convidados VIP” na sua quinta, designadamente “pessoas da família Espírito Santo, mas também políticos de todos os quadrantes políticos, como Dias Loureiro, Isaltino Morais ou empresários como Sousa Cintra”.

Numa das caçadas que organizou na Amareleja, em 2001, o genro de Cavaco Silva, Luís Montez, acabou ferido, atingido por chumbos de um tiro perdido, como relata o Expresso, frisando que os bombeiros que o socorreram receberam uma gorjeta de 250 euros das mãos do construtor civil.

ZAP // Lusa

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