Alemanha quer ter “o exército mais poderoso da Europa”: os amigos exigem-no

CLEMENS BILAN/EPA

Merz traçou reforço das forças armadas como “prioridade absoluta” do novo governo. “O nosso objetivo é uma Alemanha e uma Europa tão fortes em conjunto que nunca teremos de usar armas”.

O novo chanceler alemão, Friedrich Merz, comprometeu-se esta quarta-feira a dotar a Alemanha do “exército convencional mais poderoso da Europa” com o investimento desbloqueado pelo Governo que lidera.

“O reforço das forças armadas é a nossa prioridade absoluta”, declarou Merz aos deputados no parlamento em Berlim, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).

Merz disse que o reforço do exército alemão, há muito subfinanciado, “é o que se espera o país mais populoso e poderoso da Europa”.

Os nossos amigos e parceiros também o esperam de nós. De facto, estão praticamente a exigi-lo”, acrescentou, no primeiro discurso sobre política geral como chefe do Governo de coligação entre conservadores e sociais-democratas.

Merz admitiu que o país precisa urgentemente de melhorar a prontidão operacional e de aumentar os efetivos das forças armadas. Anunciou, para isso, a criação de “um novo e atrativo serviço militar voluntário”.

“Tão fortes que nunca teremos de usar armas”

Referiu também que a lição a tirar da guerra da Rússia contra a Ucrânia é que a força dissuade os agressores, enquanto a fraqueza convida à agressão.

“O nosso objetivo é uma Alemanha e uma Europa tão fortes em conjunto que nunca teremos de usar armas”, afirmou, também citado pela agência de notícias espanhola EFE.

Sobre a guerra, exortou europeus e americanos a rejeitarem uma paz ditada pela Rússia à Ucrânia, que não deve ser submetida a concessões territoriais “contra a sua vontade”.

Defendeu ser de “importância vital” que o Ocidente “não se deixe dividir” pelo conflito entre Moscovo e Kiev, e apelou para a “maior unidade possível” entre os parceiros europeus e americanos.

“Aqueles que acreditam que a Rússia ficará satisfeita com uma vitória sobre a Ucrânia ou com a anexação de parte do país estão enganados”, alertou.

Gastar mais do que nunca em defesa

Merz prometeu uma maior cooperação com os parceiros europeus em matéria de defesa e disse que, para isso, a Alemanha terá de assumir mais responsabilidades no âmbito da NATO e da União Europeia (UE).

“Cumpriremos os nossos compromissos sem “ses” nem “mas”: no nosso próprio interesse e no interesse desta grande Aliança Atlântica”, insistiu.

Merz tem à disposição um quadro jurídico que permite ao país gastar mais em defesa do que nunca, graças a reformas constitucionais aprovadas em março. As reformas permitiram excluir o limite de endividamento para despesas militares superiores a 1% do PIB (Produto Interno Bruto), ou seja, 43 mil milhões de euros (28,3 mil milhões de euros, ao câmbio atual).

A Alemanha atingiu 2% das despesas com a defesa durante o mandato de Olaf Scholz, o antecessor de Merz, uma percentagem considerada mínima na NATO que o atual líder do Governo alemão se comprometeu a manter.

“Voltar a ser potência económica”

Merz também disse que a Alemanha “pode voltar a ser uma potência económica” e manifestou-se determinado a colocar o país “de novo na via do crescimento”, numa altura em que está cada vez mais mergulhado na crise.

Motor de crescimento da zona euro durante muito tempo, a Alemanha está a sair de dois anos consecutivos de recessão, atrasada em relação aos parceiros europeus, e a estagnação ameaça a primeira economia da Europa até 2025.

“Nunca vivemos um período tão longo sem crescimento económico na história do nosso país”, afirmou o chanceler conservador aos deputados.

Merz disse que a economia alemã continua a ser em grande medida competitiva, mas as condições de enquadramento deixaram de o ser. Prometeu uma mistura de cortes nos impostos, reduções nos preços da energia e cortes nos custos da burocracia para as empresas.

A Alemanha pode “voltar a ser um motor de crescimento”, afirmou.

Presidente italiano em Coimbra pede defesa comum europeia

O Presidente da República Italiana, Sergio Mattarella, considerou esta quarta-feira que é urgente avançar na defesa comum europeia, matéria discutida “há mais de setenta anos” e em que se está agora “a correr atrás dos acontecimentos”.

Sergio Mattarella falava no encerramento da 18.ª cimeira Cotec Europa, no Convento de São Francisco, em Coimbra, em que também discursaram o Rei de Espanha, Felipe VI, e o chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa.

Na sua intervenção, o Presidente de Itália realçou o tema deste encontro, “Apelo à ação”, e afirmou que “é de facto urgente, diria prioritário, que a Europa aja, porque ficar parada já não é uma opção”.

Mattarella disse que “os riscos da imobilidade estão bem identificados tanto no Relatório Draghi como no Relatório Letta”, elaborados pelos antigos primeiros-ministros italianos Mario Draghi, presente nesta cimeira em Coimbra, e Enrico Letta.

A seguir, o Presidente de Itália destacou “a defesa comum europeia” entre as “medidas eficazes e ao mesmo tempo ambiciosas” necessárias para “evitar tais ricos”. No seu entender, a defesa comum é uma matéria que, “na sua relevância e urgência, exemplifica bem as consequências da inação e da relutância injustificada em prosseguir o caminho da integração”.

Mattarella referiu que “os estados-membros discutem esta questão há mais de setenta anos” e questionou “qual seria a condição da União hoje, dado o contexto geopolítico alterado” se tivesse já dado “este salto político qualitativo no processo de integração”.

“Hoje estamos atrasados, a correr atrás dos acontecimentos e, consequentemente, devemos sentir a sua urgência”, acrescentou. Para Mattarella, “as iniciativas lançadas nesta área pela Comissão Europeia são um primeiro passo fundamental e demonstram plena consciência do que está em causa”.

O Presidente de Itália defendeu também que “há bastante espaço para melhorias” no Mercado Único Europeu.

“O Relatório Letta apresentou propostas válidas para alargar o mercado único a setores que dele foram excluídos no passado. Entre elas, as finanças, a energia, as telecomunicações. Mas também, e este é um aspeto fundamental, a investigação, a inovação e a educação”, apontou.

ZAP // Lusa

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