Plano prevê a construção de novas barragens, redução de perdas e interligação entre bacias hidrográficas. Tem um investimento estimado em 5 mil milhões de euros até 2030.
Para enfrentar a escassez de água no país, tal como previsto no rascunho acidentalmente revelado no parlamento pelo ministro da presidência António Leitão Amaro, na semana passada, o Governo apresentou a estratégia nacional “Água que Une” este domingo, que prevê aumentar a disponibilidade de água e melhorar a sua gestão e reduzir o desperdício.
Com um investimento estimado em 5 mil milhões de euros até 2030, o plano prevê a construção de novas barragens, redução de perdas nos diferentes sistemas e, como último recurso, interligação entre bacias hidrográficas. No total são quase 300 medidas a serem implementadas ao longo de 15 anos, com o objetivo principal de otimizar o uso da água, especialmente as águas residuais.
Um dos grandes projetos da nova estratégia é a produção de 116 hectómetros cúbicos de águas residuais até 2040, através de mais de 300 Estações de Águas Residuais, mas a estratégia aponta para um aumento de 1.139 hectómetros cúbicos (medida da quantidade de água armazenada em barragens) de disponibilidades.
O plano prevê a construção de novas barragens, nomeadamente a Barragem do Alvito, no rio Ocreza, e a modernização de infraestruturas hidráulicas, particularmente nas regiões do Alentejo e Algarve, onde o setor agrícola, frequentemente acusado de desperdício, será alvo de modernização nos aproveitamentos hidroagrícolas de Mira e Alvor.
Atualmente, a escassez de água afeta praticamente todas as bacias hidrográficas de Portugal, com exceção do norte, particularmente na região do Alto Minho. As bacias mais afetadas são as do Alentejo e Algarve, regiões onde o problema é mais grave.
Os projetos anunciados, por área
No Norte, está prevista a modernização do Aproveitamento Hidroagrícola do Vale da Vilariça, implementação do programa de regadio em várias localidades, o aumento da capacidade das barragens de Pinhão (Vila Real), Vila Chã (Alijó), Sambade (Alfândega da Fé) e Valtorno (Vila Flor), remoção de infraestruturas hidráulicas obsoletas (ensecadeiras) do rio Côa e a constituição do Empreendimento de Fins Múltiplos da Barragem do Baixo Sabor e Foz Tua.
Na região do Vouga, Mondego e Lis estão previstas intervenções de reabilitação ambiental da rede hidrográfica da bacia do Lis (Leiria), um programa de promoção da eficiência hídrica da região de Aveiro, a modernização do aproveitamento hidroagrícola do Baixo Mondego, um estudo “para avaliar a viabilidade da construção da barragem de Girabolhos”, em Seia, e um reforço do abastecimento de água aos municípios da região de Viseu.
No Tejo, estão incluídos investimentos como a modernização do aproveitamento hidroagrícola de Idanha-a-Nova, estudo para a construção da barragem do Alvito, próxima de Vila Velha de Ródão, um projeto de valorização agrícola dos recursos hídricos do Vale do Tejo e Oeste e um estudo de viabilidade da ligação das bacias do Tejo e do Guadiana.
No Alentejo, está prevista uma interligação entre o Alqueva e Mira, um programa de reforço da eficiência dos sistemas de águas assim como uma modernização total do aproveitamento de Mira.
Já no Algarve, entre outros, está prevista a conclusão da modernização do aproveitamento do Alvor e estudos de viabilidade para a construção de duas barragens.
Para Luís Montenegro, o maior problema não é a falta de água, mas sim a falta de capacidade de gestão e a elevada taxa de desperdício: apenas 10% da disponibilidade de água é aproveitada, e o restante é desperdiçado, disse o primeiro-ministro.
Mas o país enfrenta uma nova crise política, com uma moção de confiança prevista para ser debatida e votada já esta terça-feira. Caso o governo caia, o futuro da estratégia “Água que Une” fica preso numa incerteza e à mercê das eleições antecipadas, que devem realizar-se entre 11 e 18 de maio.
ZAP // Lusa