Afinal, a Ucrânia não tem tantas terras raras como Trump achava

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ZAP // ChinaImages / Depositphotos //President Of Ukraine / Flickr // Allison Dinner / EPA

A riqueza está lá, mas ainda não foi explorada — e nada garante que possa ser. O acordo proposto por Trump foi um “disparate”? Analistas acreditam que sim, e os milhares de milhões prometidos podem não passar de uma ilusão.

A Ucrânia detém depósitos substanciais de 22 dos 34 elementos que a UE classifica como “matérias-primas críticas”. Assim asseguram os dados na ONU e de Kiev. As nações Unidas estimavam, antes da invasão russa, que 5% de todos os minerais críticos da crosta terrestre se encontravam na Ucrânia.

“A Ucrânia ocupa 0,4% da superfície terrestre, mas possui cerca de 5% da quantidade total de matérias-primas críticas”, dizia na altura Svetlana Grinchuk, ministra ucraniana da Proteção do Ambiente e dos Recursos Naturais.

Ainda que possua um quinto dos depósitos mundiais de grafite (utilizado por exemplo no fabrico de carros elétricos), titânio e algum urânio, está longe dos grandes países detentores destes minerais.

Mas, de acordo com o El País,” no final do ano passado, Roman Opimakh, antigo diretor-geral do Serviço Geológico da Ucrânia, reconheceu que “infelizmente, não existe uma avaliação moderna das reservas”.

Nem o próprio governo americano, através no seu Serviço Geológico, cita a Ucrânia na lista de países que possuem quantidades significativas de terras raras. A China surge nessa lista com 40% das reservas, e o Vietname e o Brasil com cerca de 20%

Então, para quê a febre de Trump com as matérias raras ucranianas? O acordo que será assinado entre os dois países pressupõe a entrega da exploração de parte das terras-raras da Ucrânia aos EUA, em troca de apoio militar.

Esta semana, Trump deixou cair a exigência inicial de os EUA terem direito a 500 mil milhões de dólares (cerca de 475 mil milhões de euros) provenientes das receitas da extração destes materiais, mas continua a ter autorização para extrair da Ucrânia milhões de dólares em materiais raros. Mas a riqueza aprece não ser assim tão grande.

“Só há terra queimada”

“Embora a Ucrânia tenha uma variedade de depósitos minerais, não é rica em sítios de terras raras viáveis e escaláveis. Sabemos isso”, escreve Ellie Saklatvala, analista de metais da Argus, empresa britânica de consultoria em matérias-primas.

“Os depósitos ucranianos não foram estudados em profundidade, em parte porque a indústria mineira deu prioridade a outros depósitos imediatamente disponíveis (e rentáveis), como o minério de ferro, o carvão e o titânio”, explica. “Por isso, é possível que surjam mais, mas não com um valor de meio trilião de dólares (476 mil milhões de euros)”.

De acordo com o analista da Bloomberg, Javier Blas, “a Ucrânia não tem depósitos significativos de terras raras, para além de pequenas minas de escândio”.

E mais: mesmo que a Ucrânia produzisse 20% das terras raras de todo o mundo, “isso equivaleria a cerca de 3 mil milhões de dólares por ano. Para atingir os 500 mil milhões de dólares propostos por Trump, os EUA teriam de assegurar mais de 150 anos de produção ucraniana”, assegura o especialista, que apelida à ideia um “puro disparate”. “O que há na Ucrânia é terra queimada”, conclui.

“Propaganda”, promessas e… ilusões?

“A propaganda das terras raras ucranianas começou com os próprios ucranianos. Desesperados por encontrar uma forma de envolver Trump”, justifica Javier Blas.

De acordo com a France24, o governo ucraniano admitiu que “sabe-se da existência de metais de terras raras em seis depósitos”, mas seriam necessários 286 milhões de euros para desenvolver o depósito de Novopoltavske, “um dos maiores do mundo”.

Os ucranianos também prometem que detém “um dos maiores depósitos de lítio da Europa”, mas acrescentam que este ainda não é extraído.

“A Ucrânia tem vários depósitos que contêm elementos de terras raras”, mas nenhum deles foi ainda explorado,  Elena Safirova, especialista do Serviço Geológico dos EUA.

A empresa de finanças S&P ressalta ainda que a concentração de terras raras no país pode ser demasiado baixa ou de difícil acesso. Ou seja, “os depósitos de elementos de terras raras da Ucrânia podem não ser rentáveis para extrair”.

Carolina Bastos Pereira, ZAP //

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