Jonas Stehl et al.

Uma nova pesquisa sugere que só um país no mundo é capaz de produzir alimentos suficientes para abastecer todos os seus cidadãos.
O estudo, publicado na revista Nature Food, foi desenvolvido numa parceria entre a Universidade de Goettingen, na Alemanha, e a Universidade de Edinburgh, no Reino Unido.
Segundo os autores do estudo, os outros países dependem necessariamente das importações estrangeiras para garantir a dieta equilibrada da sua população. Para a pesquisa foi tida em conta a realidade agropecuária de 185 regiões no que se refere a sete grupos nutricionais: frutas, vegetais, laticínios, peixes, carnes, proteínas, vegetais e alimentos ricos em amido.
Segundo a revista Galileu, a pesquisa indica que somente a Guiana, país da América do Sul, pode ser considerada um país de autossuficiência total, já que garante a produção local dos sete grupos nutricionais.
Logo a seguir aparece a China e o Vietname, à medida que são capazes de plantar suficientemente seis dos sete tipos de alimentos.
Os dados projetam que uma em cada sete nações no mundo é “autossuficiente” em cinco ou mais categorias, sendo os países da América do Sul e da Europa aqueles que, no geral, mais se aproximam deste nível.
O estudo também mostra que, em todo o mundo, 65% das regiões analisadas estavam a produzir carne e laticínios em excesso — este desequilibro foi percebido devido à análise das próprias necessidades alimentares das suas populações.
Da mesma forma, notou-se uma escassez global de plantas ricas em nutrientes. Menos da metade dos países envolvidos no estudo produzem proteína vegetal suficiente para manter uma dieta ideal, o que representa um baixo cultivo de feijão, grão-de-bico, lentilha, nozes e sementes.
Os Estados insulares, países da Península Arábica e regiões em subdesenvolvimento são os mais propensos a depender de importações estrangeiras.
O estudo destaca, inclusivamente, que seis deles — Afeganistão, Emirados Árabes Unidos, Iraque, Macau, Catar e lêmen — não produzem sequer o suficiente de um grupo para serem considerados autossuficientes numa única categoria.
Mas, afinal, porque é que o único país que produz todo o alimento que precisa é um país subdesenvolvido?
A autosuficiência alimentar não está associada à riqueza. “A baixa autossufiência não é algo inerentemente ruim”, explica Jonas Stehl, primeiro autor do projeto. “Existem razões válidas e muitas vezes benéficas pelas quais um país pode não produzir a maior parte dos alimentos de que necessita”.
Isto pode ocorrer, por exemplo, por causa da baixa pluviosidade, de um solo de pouco qualidade para a plantação ou temperaturas instáveis para cultivar alimentos suficientes para a população.
Nestes cenários, por vezes, pode ser mais eficiente e económico investir na importação de regiões com características mais adequadas para produzir os alimentos.
“No entanto, inegavelmente, os baixos níveis de autossuficiência podem reduzir a capacidade de um país de responder a choques repentinos no fornecimento global de alimentos”, observa Stehl.
“Assim, estão mais suscetíveis a sofrer com os efeitos de secas, guerras ou proibições de exportação“.
Os debates sobre as vantagens da autossuficiência aumentaram após a pandemia da Covid-19 e o início da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Nas duas ocasiões, o fornecimento de alimentos precisou de ser temporariamente interrompido, o que provocou falta de produtos e aumento dos preços em muitos mercados pelo mundo.