Aeroporto Aristides de Sousa Mendes? A petição foi criada e tem motivações profundas

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Autor desconhecido / Wikimedia

O cônsul Aristides Sousa Mendes

Foi criada uma petição para que o novo aeroporto de Lisboa tenha o nome de Aristides de Sousa Mendes em vez de “Luís de Camões”. “Liberdade, viagem, fuga…” – as motivações por detrás deste movimento são profundas.

Luís Montenegro anunciou, na semana passada, que o Governo aprovou a construção do novo aeroporto da região de Lisboa no Campo de Tiro de Alcochete, com a denominação Aeroporto Luís de Camões, com vista à substituição integral do Aeroporto Humberto Delgado.

Não tendo surgido com o intuito de menosprezar Luís Vaz de Camões, José Dias Batistas explicou, à agência Lusa, o que o levou a criar esta petição com o nome memorável cônsul português, Aristides de Sousa Mendes.

“Sendo um aeroporto, simboliza a liberdade, a viagem, a fuga e, de alguma forma, tem esta ligação ao ato de Aristides de Sousa Mendes, que permitiu a liberdade, a fuga e, com isso, a sobrevivência de milhares de pessoas”, defendeu José Dias Batista, o responsável pela petição.

Aristides de Sousa Mendes foi um cônsul português em Bordéus (França), que desviou milhares de pessoas do holocausto para Portugal. Em junho de 1940, durante a II Guerra Mundial, o cônsul desafiou ordens de Salazar e emitiu milhares de vistos, para salvar 30 mil pessoas do regime nazi.

Tal bravura valeu-lhe a expulsão da carreira diplomática. Mas Aristides de Sousa Mendes morreu na miséria, em abril de 1954, no Hospital Franciscano para os Pobres, em Lisboa.

Ideia reativa com motivações profundas

O mentor da nova petição admitiu que a ideia “é um bocadinho reativa”, já que teria sido mais oportuna se tivesse sido lançada antes da decisão do Governo.

“Mas acredito que ainda vai a tempo, porque o aeroporto ainda não está construído”, acrescentou o mentor da petição pública para que seja usado o nome Aristides Sousa Mendes, o “homem que desobedeceu à famosa circular 14 para salvar vidas”.

E essa atitude “permitiu que as pessoas viajassem, não de avião, mas de uma forma clandestina e, chegados a Portugal, aí sim, viajaram de avião para muitos outros países como, por exemplo, os Estados Unidos da América”.

Esta ideia “não surgiu com o intuito de menosprezar o nome maior da literatura portuguesa, que é Luís Vaz de Camões, mas a realidade é que o seu nome já está atribuído em muitas instituições, edifícios e avenidas”.

“E Aristides de Sousa Mendes parece que só vive em Carregal do Sal e na memória dos descendentes dos refugiados que se salvaram graças ao nosso cônsul, quando na realidade deveria estar vivo em todos os portugueses”, defendeu.

Quem chegar a Portugal de avião vai “sentir curiosidade em saber quem foi Aristides de Sousa Mendes e isso vai reforçar e dar a conhecer o ato heroico” do antigo cônsul de Bordéus que viveu entre 1885 e 1954.

“Essa convicção de ajudar, de permitir que as pessoas pudessem ter esperança no futuro. Seria bom que todos nós tivéssemos um bocadinho de Aristides de Sousa Mendes, principalmente quando temos de tomar decisões, e é esse humanismo que temos de manter vivo”, apontou.

José Dias Batista considerou ainda que, com o nome do antigo diplomata no aeroporto, o Governo estaria a “investir em toda a região das Beiras até à fronteira”, desde Cabanas de Viriato, onde será inaugurado em 19 de julho, dia em que passam 70 anos sobre a sua morte, a Casa-Museu Aristides de Sousa Mendes, até Vilar Formoso, onde se situa o Museu Fronteira da Paz, dedicado aos refugiados.

“Há esta corrente da coesão e de arranjar formas de desenvolver o interior, e uma medida destas também ajudaria a região, porque acredito que muitos vão querer saber mais sobre quem deu o nome ao aeroporto”, disse.

ZAP // Lusa

6 Comments

  1. Se este funcionário público do Governo Português “desafiou as ordens do Salazar”, que queiram ou não queiram, era o líder da nação naquele tempo, então não se pode promover honrarias a quem desobedeceu o que deveria ter sido feito. Não seguiu a hierarquia e portanto, não há o que lhe enaltecer. Aeroporto Luís de Camões.

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  2. O Salazar,na optica deste sr.seria um alto funcionário publico..o chefe chamava-se Óscar Carmona..e era presidente da República.
    O presidente…bem ou mal..foi eleito,coisa que o Esteves nunca foi.

  3. Um herói das palavra o outro herói dos atos / ações, apoio ambos os nomes, grandes portugueses, da fibra que já pouco se encontra nos dias de hoje, especialmente na politica.

  4. Ninguém se lembrou de Gago Coutinho ou de Sacadura Cabral, dois grandes vultos da história da aviação! Se em vez de Cristiano Ronaldo tivessem homenageado um destes nomes, teria sido muito mais justo mas como diria o nosso maior poeta “outros valores mais altos se levantam!!

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