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ADN antigo revela mistério do extinto macaco das Caraíbas

bathyporeira / Flickr

O macaco-titi, a espécie mais próxima do macaco da Jamaica

Uma análise de ADN do misterioso macaco extinto das Caraíbas revelou que estes animais tinham um maior grau de parentesco com os macaco-titis oriundos da América do Sul do que com qualquer outra espécie. 

Há cerca de 10 milhões de anos, uma família de macacos deixou o continente sul-americano e rumou para a Jamaica, acabando por se fixar e proliferar no país. Agora, e de acordo com um artigo publicado nesta segunda-feira na revista Proceedings of the National Academy of Science, sabe-se que esta espécie sofreu uma enorme mudança evolutiva.

Ao longo de muitas gerações, as pernas destes primatas foram evoluindo lentamente, adaptando-se para conseguir trepar as árvores tropicais. Mas a evolução não ficou por aqui, também a sua dentição sofreu alterações, registando-se ao longo dos anos dentes molares maiores. Estas alterações foram transformando os macacos das Caraíbas, fazendo com que estes vivessem mais como preguiças do que propriamente macacos.

Estes estranhos macacos “preguiça” da Jamaica, mais conhecidos como Xenothrix mcgregori, foram extintos há pelo menos 900 anos mas a comunidade científica sabe ainda muito pouco sobre os seus ancestrais e sobre a forma como chegaram ao país.

O novo estudo oferece agora a primeira evidência sobre os seus ancestrais, sugerindo que os macacos Xenothrix podem ter sido colonos acidentais da América do Sul.

Procedimento experimental

Para a investigação, uma equipa internacional de arqueólogos do Reino Unido e dos Estados Unidos, analisou amostras de ADN extraídas de dois osso da perna do macaco da Caraíbas datados de há 1500 anos.

A partir das amostras analisadas, os especialistas conseguiram traçar o genoma do macaco Xenothrix e depois compararam-no com uma seleção de outros macacos das Caraíbas já extintos, bem como espécies de macacos ainda vivas no sul da América.

A análise concluiu que os parentes mais próximos do X. mcgregori pertencem a uma subfamília de primatas sul-americanos chamada macacos-titis (Callicebinae) – uma pequena espécie de macacos que vive em árvores da América do Sul.

“O ADN antigo sugere que o macaco jamaicano é, na verdade, apenas um macaco-titi com algumas características morfológicas incomuns e não uma espécie totalmente nova do Mundo Novo dos macacos”, explicou o co-autor do estudo Ross MacPhee.

“A evolução pode agir de formas inesperadas em ambientes insulares, produzindo elefantes em miniatura, pássaros gigantescos e primatas semelhantes a preguiças”.

De acordo com os investigadores, as espécies divergiram cerca de 11 milhões de anos, o que dá algumas pistas de como o X. mcgregori acabou por viver relaxado na Jamaica, enquanto que os seus “primos” tiveram de resistir na floresta tropical.

Como na época não havia caminho por terra entre a América do Sul e a Jamaica, os grupos de macacos provavelmente acabaram por flutuar até território jamaicano de forma acidental, entre jangadas de vegetação que iam sendo arrastadas pelos grandes rios da América do Sul, notaram os cientistas.

Assim que estes macacos “marinheiros” chegaram à Jamaica, colonizaram o país, adaptando o seu estilo de vida ao novo habitat ao longo de milhões de anos. Infelizmente, e por culpa da invasão humana, acabaram depois por ser extintos.

“A extinção do X. mcgregori, que evoluiu numa ilha sem quaisquer predadores nativos mamíferos, destaca a grande vulnerabilidade da biodiversidade insular única face aos impactos causados pelo Homem”, alertou ainda Samuel Turve, outro dos autores.

No entanto, os X. mcgregori podem não ter sido os únicos a embarcar nesta aventura. Restos fossilizados de outras espécies de primatas das Caraíbas foram datadas de há 18,5 milhões de anos, sugerindo que houve vários grupos de “colonos” que desembarcaram em várias ilhas das Caraíbas ao longo dos séculos, concluíram os cientistas.

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