Quase 10 meses depois do incêndio de Pedrógão Grande, a ANPC detetou que o sistema que concentra informação sobre o que se passa no país em matéria de proteção civil esteve sobrecarregado com acessos de antigos utilizadores.
A Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) detetou, quase 10 meses após o incêndio de Pedrógão Grande, que o Sistema de Apoio à Decisão Operacional (SADO), um sistema que concentra toda a informação sobre o que se passa no país em matéria de proteção civil, esteve sobrecarregado com acessos de antigos utilizadores.
Esta sobrecarga terá gerado, segundo fonte da ANPC, congestionamento do sistema, informações contraditórias e ordens operacionais deficientes que terão prejudicado o combate ao incêndio.
Ao que a Sábado apurou, existem mais de 4.000 pessoas que não deveriam ter acesso ao sistema, mas que continuam com os mesmos privilégios que lhes foram atribuídos desde que o sistema entrou em funcionamento, no ano de 2012. No entanto, o SADO não permite saber a cada momentos quantas pessoas estão a monitorizar o sistema.
No primeiro dia do incêndio em Pedrógão Grande, 17 de junho, houve pelo menos três registos de crianças desaparecidas. No entanto, mais tarde, percebeu-se que era a mesma criança.
Este problema de inserções repetidas, por exemplo, em conjunto com a sobrecarga e descoordenação operacional, levou a que o comandante do teatro de operações ordenasse que todas as inserções no SADO passassem a ter de ser autorizadas pelo comando.
Tal fez com que a comissão independente que elaborou o relatório referisse que “esta determinação do Comandante das Operações de Socorro pode subtrair à fita do tempo do SADO informações que poderiam ser importantes para a compreensão dos acontecimentos na noite de 17 para 18″.
De acordo com o relatório, a ordem foi dada às 4h56 de 18 de junho, mas, ao contrário do que sugere o documento, só até às 9 da manhã, o SADO registou 30 novas comunicações. Até ao fim das operações, no dia 23 de manhã, houve cerca de mil comunicações na fita do tempo, isto é, cerca de seis novas inserções por hora, avança a Sábado.
Ao sistema SADO têm acesso os presidentes da ANPC, assessores do Ministério da Administração Interna (MAI) e todos os operacionais do Comando Nacional de Operações de Socorro (CNOS), que deveriam rondar as 250 autorizações. Além destes, durante a época de fogos, são atribuídos acessos temporários.
A Sábado explica que os operacionais do CNOS deveriam ter capacidade de inserir dados e os restantes apenas para visualizar, mas estas autorizações nunca foram canceladas ao longo do tempo, permitindo assim que mais de 4.000 pessoas acedam ao sistema.
O SADO vai ser alterado de modo a ser possível restringir e monitorizar os acessos, assim como cancelar os antigos e saber quem está em determinado momento a aceder a este sistema.
Incêndio em Pedrógão Grande
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