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“A nossa bandeira, a nossa identidade”. Afegãos protestam, talibãs fazem buscas “porta a porta”

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Stringer / EPA

A bandeira afegã tornou-se um símbolo da resistência aos talibãs

No Dia da Independência, milhares de afegãos protestaram nas ruas contra o regresso dos talibãs ao poder. Um relatório da ONU aponta que, apesar de se dizer mais moderado, o grupo tem feito buscas por quem colaborou com os EUA.

Muitos afegãos ainda não se renderam à tomada do poder pelos talibãs. Já há alguns dias que milhares de pessoas protestam contra o grupo radical e ontem, dia 19 de Agosto, não foi excepção.

Na data que celebra o fim do controlo britânico no país em 1919, as ruas de Cabul, Jalalabad, Paktia, Khost ou Asadabad encheram-se ao som de gritos em defesa da “bandeira” e da “liberdade”.

A bandeira afegã tornou-se um símbolo da resistência, uma vez que, à medida que avançavam, os talibãs retiravam-nas dos edifícios do Estado e hasteavam a sua própria bandeira branca.

Durante alguns dias, as ruas no Afeganistão estavam practicamente vazias, e as mulheres estavam a resguardar-se em casa, tal era o medo que a população tinha do grupo radical islâmico. Mas nos protestos do Dia da Independência, muitas mulheres – sem usarem a burqa exigida pelos talibãs – lideraram os gritos e marcharam nas ruas.

Já o grupo radical islâmico escolheu celebrar o dia declarando que tinha vencido os Estados Unidos. Segundo a Al Jazeera, pelo menos duas pessoas morreram quando os talibãs dispararam sobre uma multidão na cidade de Asadabad, depois de um protestante ter esfaqueado um talibã. Na Quarta-Feira, também morreram duas pessoas num protesto em Jalalabad.

Depois de terem dados várias conferências de imprensa após a conquista de Cabul, os talibãs têm estado em silêncio nos últimos dias e não se sabe se têm estado em contacto com os ex-dirigentes afegãos. Continuam-se a ver muitos militantes fortemente armados nas ruas e poucos funcionários públicos regressaram ao trabalho desde Domingo.

O Fundo Monetário Internacional anunciou que vai deixar de dar ajuda financeira ao país devido à “falta de clareza na comunidade internacional” sobre a legitimidade do novo do Afeganistão. A instabilidade política também já levou a que muitas ONGs suspendessem as suas actividades humanitárias no país, onde se estima que a seca tem levado a que grande parte da população passe fome.

Numa entrevista à Reuters, o coordenador humanitário da ONU no Afeganistão, Ramiz Alakbarov, apelou aos doadores ocidentais que continuassem a financiar o seu trabalho, quando 18.5 milhões de pessoas – quase metade da população – precisa de ajuda.

Metade das crianças afegãs com menos de cinco anos sofre de subnutrição severa, valores exacerbados pela seca. “Sobre os talibãs, o braço humanitário das Nações Unidas já trabalhou com eles durante mais de 18 anos, nunca paramos”, explica, referindo que o grupo permitiu que a ONU continuasse com a ajuda humanitária no país.

No plano político, António Guterres disse estar pronto para se reunir com os talibãs “quando for claro com quem devo falar e com que objectivo”. O Secretário-Geral das Nações Unidas apelou a que a comunidade internacional se mantenha unida “para usar a única margem de manobra que existe, que é o interesse dos talibãs em terem legitimidade e reconhecimento”.

Talibãs em buscas “porta a porta”

Quando os talibãs controlavam o Emirado Islâmico do Afeganistão, entre 1996 e 2001, o governo seguia uma interpretação literal da lei islâmica sharia. Isto significou o regresso de castigos como amputações, apedrejamentos e assassinatos de honra.

A lei é ainda mais repressiva para as mulheres, que ficam sem direitos de herança, são obrigadas a usar burqa – o véu que cobre o corpo todo menos os olhos -, não podem estudar ou trabalhar e têm de estar acompanhadas por um homem quando saem de casa.

Com os talibãs no poder, o regresso do Emirado Islâmico do Afeganistão e a mudança da bandeira do país, há o receio do regresso das políticas repressivas dos anos 90. Mas o grupo afirma que mudou algumas das suas políticas e que quer mulheres no governo.

Vamos deixar as mulheres trabalhar e estudar. Temos estruturas, claro. As mulheres vão ser muito activas na sociedade, mas dentro da estrutura do Islão”, afirmou Zabihullah Mujahid, porta-voz do grupo, numa conferência de imprensa citada pela Al Jazeera.

A segurança dos jornalistas e a liberdade de imprensa também vão ser garantidas, assegurou Mujahid, e o grupo não tem planos de retaliação contra afegãos que tenham colaborado com o exército do país ou com as forças ocidentais.

Mas um novo relatório do Centro Norueguês para Análise Global RHIPTO, que integra os serviços de inteligência da ONU, diz o contrário. Segundo o documento, a que a France Presse teve acesso, os talibãs estão a fazer buscas “porta a porta” pelos afegãos que colaboraram com os Estados Unidos e com as forças da NATO.

As buscas são organizadas e o grupo radical tem listas com os nomes dos alvos. A prioridade é capturar quem desempenhou altos cargos no exército, na polícia e nas centrais de inteligência do Afeganistão. O grupo procura também pelos seus familiares e se a família recusar entregar as pessoas, é castigada de acordo com a lei sharia.

Ninguém se aproxima do aeroporto da capital afegã sem mostrar a identificação aos militantes islâmicos e em Cabul e Jalalabad, há postos de controlo em zonas estratégicas. Christian Nellemann, um dos autores, estima que quem trabalhou com as forças da NATO e Estados Unidos e as suas famílias podem vir a sujeitos a tortura e execuções.

Há também relatos de que o grupo radical emitiu uma carta em que exige uma lista de meninas e mulheres viúvas entre os 12 e 45 anos para se casarem com os militantes. Os talibãs encaram as mulheres como qhanimat, ou espólios de guerra, que devem ser divididas entre seus combatentes como escravas sexuais.

Evelyn Regner, Presidente da Comissão dos Direitos da Mulher e Igualdade de Género do Parlamento Europeu, criticou o “reinado de terror” que se vive no Afeganistão. “Nas áreas controladas pelos talibãs, as universidades femininas foram fechadas, estão a negar às meninas o acesso à educação e as mulheres são vendidas como escravas sexuais”, afirma.

“Não devemos fechar os olhos a uma crise humanitária que afetará especificamente as mulheres e meninas no Afeganistão. Todos os Estados-membros da UE devem trabalhar juntos para garantir a passagem segura do país a qualquer pessoa em perigo”, apela.

AP, ZAP //

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4 Comments

  1. “Os talibãs encaram as mulheres como qhanimat, ou espólios de guerra, que devem ser divididas entre seus combatentes como escravas sexuais.” – os macacos estão no poder com pistolas nas mãos.. enfim. Isto parece uma involução da sociedade humana para níveis simiescos..

  2. O grande culpado desta vitória talibã tem nome e chama se
    JOE BIDEN

    Os EUA tinham poucos milhares de soldados no Afeganistão, mas eram suficiente para defender um pouco de civilização, dos direitos humanos fundamentais principalmente das mulheres.
    A superior tecnologia militar e o apoio do povo afegão mantinham os talibãs reduzidos a bolsas nas montanhas inacessíveis.
    BIDEN, demente mental, destruiu isto com uma decisão DOIDA, maluca, acompanhado pelos seus assessores.

    BIDEN É CULPADO DE CRIMES CONTRA A HUMANIDADE.

    o pior vai acontecer quando TODOS os jornalistas forem expulsos e não houver relatos nem imaginas para mostrar.

    Aí, os talibãs vão atirar sobre multidões sem qqer problema de consciência…

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