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A guerra mais doce: chocolateiros italianos disputam o gianduiotto

Katell Ar Gow / Flickr

Chocolates gianduiotto, típicos de Turim

No coração da Itália, desenrola-se uma deliciosa contenda: o famoso gianduiotto de Turim, um chocolate cremoso que se derrete na boca, encontra-se no epicentro de uma disputa entre artesãos italianos e a gigante suíça Lindt.

Os chocolatiers italianos abriram guerra à Lindt — uma saborosa batalha legal para obter a Indicação Geográfica Protegida (IGP) da União Europeia para o gianduiotto.

Luca Ballesio, um dos últimos chocolatiers a fabricar o icónico chocolate de forma tradicional, faz parte de uma comissão que engloba cerca de 40 chocolateiros e empresas de renome, como a Ferrero, Venchi e Domori.

O objetivo da comissão é elevar o estatuto do chocolate, aumentar as vendas, que já rondam os 200 milhões de euros anuais, e perpetuar a tradição chocolatier em Turim.

A comissão enfrenta a oposição da Lindt, detentora da Caffarel desde 1997, que reivindica a invenção do gianduiotto.

“Esta luta é fundamental para valorizar um produto histórico de Turim“, explica Ballesio à agência ANSA.

A comissão propõe critérios rigorosos para a obtenção da IGP, incluindo o uso de 30 a 45% de avelãs torradas do Piemonte e um mínimo de 25% de cacau, preservando a receita original bicentenária. A Lindt, contudo, defende a adição de leite em pó e quer diminuir o teor de avelã para 26%.

“Adicionar leite em pó ao chocolate é como diluir vinho com água“, argumenta Guido Castagna, presidente do Comité Gianduiotto.

“Não queremos tirar nada à Caffarel, não estamos a lutar contra a Caffarel. Para nós, a Caffarel pode continuar a produção. Mas deve ficar claro para a Caffarel que estamos a defender o gianduiotto como era originalmente feito“, explica Castagna à agência AFP.

Por outro lado, a Caffarel assegura que nunca se opôs ao certificado IGP, acreditando que tal contribuiria para o prestígio mundial do gianduiotto. “O nosso objectivo é alcançar um acordo que satisfaça todas as partes envolvidas e que permita à Caffarel proteger o valor histórico da sua marca“, afirma a empresa.

O conflito estende-se também à marca registada. A Lindt receia confusões entre a sua “Gianduia 1865 – o Autêntico Gianduiotto de Turim” e a potencial marca IGP, “Gianduiotto de Turim“.

A origem do gianduiotto remonta ao bloqueio naval de Napoleão contra a Grã-Bretanha em 1806, que provocou uma escassez de cacau na Europa. Os chocolatiers de Turim, perante esta situação, começaram a utilizar avelãs, abundantes na região.

Os gianduiotti “nasceram” oficialmente em 1852 em Turim, criados pelos chocolatiers Pierre Paul Caffarel e Michele Prochet, os primeiros a moer completamente as avelãs numa pasta antes de as adicionar à mistura de cacau e açúcar.

Os icónicos chocolates têm habitualmente a forma de lingotes e são embrulhados individualmente numa cobertura de folha de cor dourada ou prateada.

O nome desta pasta, que começou a ser comercializada pela Caffarel em 1865, é uma homenagem a Gianduja, uma máscara da commedia dell’arte — um tipo de teatro piemontês. Na realidade, a forma do gianduiotto é inspirado no chapéu de Gianduja.

ZAP //

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