O antigo super-espião Jorge Silva Carvalho revelou esta quinta-feira em tribunal que Fernando Paulo Santos, ex-quadro da Ongoing que lhe pediu informações sobre dois cidadãos russos, trabalhava para as secretas portuguesas e terá mesmo sido pago pelo trabalho.
De acordo com o Diário de Notícias, o antigo diretor do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) revelou esta relação de troca de informações para justificar a transmissão de uma informação sobre dois cidadãos russos que estavam em conversações com o grupo Ongoing para a compra de um porto marítimo na Grécia, para Fernando Paulo Santos.
A informação tinha sido considerada pelo Ministério Público como violação do segredo de Estado e como um elemento do crime de corrupção imputado a Silva Carvalho. De acordo com o DN, ao mesmo tempo que a informação foi passada, Silva Carvalho estaria a negociar a sua entrada no grupo de Juno Vasconcelos, outro arguido no processo.
O ex-diretor do SIED confirmou ao tribunal que pediu a recolha de informações sobre os dois russos com o objetivo de a passar a Paulo Santos, mas garantiu desconhecer que na altura o empresário estabelecido em África trabalhava para a Ongoing.
Jorge Silva Carvalho disse ainda que colocou elementos dos serviços a recolher informações porque os dois cidadãos russos, no futuro, poderiam vir a ser recrutados como fontes.
O denominado Caso das Secretas, em que são arguidos o ex-diretor do SIED Jorge Silva Carvalho e o presidente da Ongoing, Nuno Vasconcellos, começou a ser julgado em Lisboa em setembro.
O caso teve origem em suspeitas de acesso ilegal à faturação detalhada do telefone do jornalista Nuno Simas, que na altura dos factos escreveu vários artigos sobre a situação interna do SIED.
Jorge Silva Carvalho e João Luís, um ex-funcionário do SIED, estão pronunciados por acesso ilegítimo agravado, em concurso com um crime de acesso indevido a dados pessoais e por abuso de poder.
O ex-espião foi ainda pronunciado por um crime de violação de segredo de Estado e por um de corrupção passiva para ato ilícito.
Nuno Vasconcellos está pronunciado por um crime de corrupção ativa para ato ilícito. Nuno Dias, ex-funcionário do Sistema de Informações (SIS) e que agora trabalha no SIRP (Sistema de Informações da República Portuguesa), está acusado por acesso ilegítimo agravado e a sua companheira Gisela Fernandes Teixeira por acesso indevido a dados pessoais e um crime de violação do segredo profissional.
No processo, o MP sustenta que Nuno Vasconcellos decidiu contratar Jorge Silva Carvalho para os quadros da Ongoing para que este obtivesse informação relevante para o grupo empresarial através das secretas.
Jorge Silva Carvalho pediu o levantamento de segredo de Estado a que estava vinculado para falar abertamente durante a sua defesa, mas o pedido foi recusado.
ZAP
Caso Secretas
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