Caetano Tomás, o polémico padre “psicólogo” que queria ter feito mais

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“Acredito que a evangelização se faz pela acção e não fiz toda a acção que deveria ter feito”. Eis o Monsenhor açoriano (e reprovado).

Nome de nascimento: Francisco Caetano Tomás. Mais tarde conhecido como Monsenhor Caetano Tomás.

Nasceu em Lajedo, Lajes das Flores, no dia 12 de Setembro de 1924, há praticamente 100 anos.

Morreu também nos Açores, mas em Angra do Heroísmo (Ilha Terceira), no dia 25 de Janeiro de 2018.

E gostaria de ter feito mais: “Olho para trás e penso que poderia ter feito melhor, poderia ter feito mais. Aliás o que me passa mais vezes pela cabeça é que eu deveria ter ido mais de casa em casa, apresentar Jesus Cristo, falar dele. E nunca cheguei a fazê-lo: esta é a minha maior falha porque acredito que a evangelização se faz pela acção e não fiz toda a acção que deveria ter feito“.

Palavras do próprio em entrevista à Agência Igreja Açores em 2014, no dia em que completou 90 anos.

“Não estou a morrer mas sinto-me triste por não ter acordado mais gente”.

Acordado como? “Conhece os vendedores ambulantes, que vendem livros de porta em porta? Era isso que eu gostava de ter feito: ir de porta em porta apresentar Cristo. Não o fiz por preguiça, porque iam surgindo outras prioridades… esta é uma falha grave”, respondeu.

Caetano Tomás acreditava muito mais em gestos do que em palavras: “Não vivi o conclave com grande entusiasmo…o meu entusiasmo vem da acção. Não acredito que a vida cristã se impulsione com grandes reuniões e conclaves“.

Foi cónego, foi Monsenhor da Diocese de Angra. Mas começou a ser muito comentado porque era “psicólogo”.

Na verdade nunca foi psicólogo. Criou e liderou sessões de aconselhamento psico-social no âmbito da acção pastoral católica, sobretudo entre casais e famílias.

Apareceu na rádio e na televisão para falar sobre psicologia, realizou acções de formação para professores, para o público no geral. Escreveu livros, como Entender o Cristianismo e Pessoas – Traços e Comportamentos.

Mas nunca completou qualquer curso de psicologia. Leu muito, teve umas aulas enquanto estudava, ficou com umas noções – justificou anos mais tarde.

Conservador, com posições polémicas sobre sexualidade ou casamento, foi alvo de uma acusação: diziam que o próprio monsenhor acreditava que conseguia mudar a orientação sexual dos homossexuais.

Também se alegou que associou a homossexualidade à pedofilia, que desvalorizou a educação sexual nas escolas, ou que tentava desculpabilizar pedófilos entre o clero católico.

Sobre este último assunto, chegou a dizer que nunca viu casos dramáticos de vítimas de pedofilia na igreja. Muitas crianças seduzem os potenciais abusadores, alegava.

Foram ideias como esta que fizeram com que o Bloco de Esquerda não permitisse a inclusão de Francisco Caetano Tomás na lista de condecorações do Dia da Região. Iria receber a Insígnia Autonómica de Mérito Profissional. Nunca recebeu.

Por outro lado, também era admirado por muitos e teria uma alta influência social – sobretudo entre os católicos mais conservadores.

Voltando à entrevista de 2014: como é que a sociedade vê hoje os padres? Resposta: “Os padres não contam. Contam é na paróquia e aí têm mesmo que contar porque é aí que são necessários. A sociedade é laica, está preocupada com as coisas materiais e por isso não liga aos padres. Mas isso não tem nada de mais, é apenas um sinal da mundanização a que temos assistido, nada de especial. A nossa sociedade hoje vive centrada no ter, no uso, no disfrutar, não tem tempo para as coisas espirituais. Estas servem essencialmente para serem criticadas”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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