Vê retângulos ou círculos nesta imagem? A resposta pode revelar onde cresceu

The Coffer Illusion

Pode o contexto em que crescermos influenciar a nossa perceção daquilo que vemos? A teoria do “mundo carpinteiro”, proposta há mais de 60 anos, sugere que sim.

Durante décadas, os cientistas debateram se as pessoas de diferentes culturas veem o mundo de formas fundamentalmente diferentes. Um estudo recente reacendeu a controvérsia.

Uma equipa liderada por Ivan Kroupin, da London School of Economics, investigou como é que pessoas de diferentes origens culturais responderam à ilusão do Cofre, um puzzle visual que pode ser visto como retângulos ou círculos.

Os participantes no Reino Unido e nos EUA perceberam predominantemente retângulos, enquanto os namibianos rurais viram círculos com mais frequência.

Os investigadores sugerem que esta diferença corrobora a hipótese do “mundo carpinteiro“, proposta há mais de 60 anos.

A ideia é que as pessoas das sociedades ocidentais industrializadas rodeadas por linhas retas e ângulos retos desenvolvem enviesamentos visuais distintos em comparação com as que vivem em ambientes dominados por curvas, como as cabanas redondas na Namíbia rural.

Mas um estudo de 2015, da autoria de Dorsa Amir e Chaz Firestone, contesta esta explicação recorrendo a outra ilusão clássica: a de Müller-Lyer. Esta ilusão faz com que duas linhas idênticas pareçam desiguais devido às pontas de seta que apontam para dentro ou para fora.

Wikimedia Commons

Ilusão Müller-Lyer

Tradicionalmente, acreditava-se que a sua eficácia dependia da exposição cultural a ambientes de carpintaria.

No entanto, Amir e Firestone mostram que a ilusão também afeta animais, desde pombos a peixes-de-bico-fino, bem como crianças que recuperaram recentemente a visão depois de terem nascido cegas. Estas descobertas sugerem fortemente que a ilusão decorre de mecanismos cerebrais universais e não da experiência cultural.

A aparente contradição realça a complexidade da percepção. Pode ser que diferentes ilusões se liguem a processos diferentes, com alguns moldados pela atenção e pelo ambiente e outros intrinsecamente ligados à biologia. Os críticos observam também diferenças metodológicas entre os estudos, como a forma como os estímulos foram apresentados aos participantes, refere o The Guardian.

Apesar das divergências, os investigadores concordam num ponto: a perceção não é uma janela direta para a realidade, mas uma construção ativa do cérebro. “Não vemos as coisas como elas são, vemo-las como nós somos“, observou a autora Anaïs Nin, citando o Talmude.

Para aprofundar estas questões, o Censo da Percepção, um grande projecto liderado pela Universidade de Sussex e pela Universidade de Glasgow, está a recolher dados de 40 000 participantes em mais de 100 países. Com mais de 50 experiências que abrangem uma vasta gama de fenómenos percetivos, os investigadores esperam construir o mapa mais detalhado até à data de como os humanos experienciam o mundo, tanto entre culturas como dentro delas.

ZAP //

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