Lisboa está de luto. Descarrilamento do Elevador da Glória já fez 17 mortos

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Miguel A. Lopes / Lusa

Elevador da Glória descarrilou esta quarta-feira

O descarrilamento do elevador da Glória, em Lisboa, provocou 17 vítimas mortais e 21 feridos, cinco dos quais em estado grave. “Lisboa está de luto”, disse Carlos Moedas. O governo decretou um dia de luto nacional.

Em declarações aos jornalistas no local, Tiago Augusto, responsável da Unidade de Planeamento de Eventos, Protocolo de Estado e Gestão de Crises (UPPEC) do INEM confirmou que 15 pessoas perderam a vida no descarrilamento do Elevador da Glória ocorrido nesta quarta-feira em Lisboa.

Segundo o mesmo responsável, que adiantou que já foram retiradas do elevador todas as vítimas do descarrilamento, o acidente fez ainda 18 feridos, dos quais 5 em estado grave, e 13 ligeiros, incluindo uma criança.

Na manhã desta quinta-feira, o número de mortos do acidente de quarta-feira no elevador da Glória subiu para 17, havendo 21 feridos, anunciou a diretora do Serviço Municipal de Proteção Civil de Lisboa, Margarida Castro Martins.

Não foram ainda reveladas oficialmente as causas do acidente; a SIC Notícias avança que terá sido causado por um cabo do elevador que se soltou. Este elevador já tinha descarrilado em maio de 2018, mas sem deixar vítimas.

O funicular, muito procurado por turistas que visitam Lisboa, tinha uma lotação de 42 pessoas —20 pessoas sentadas e 22 pessoas a pé.

Entre o total de feridos há quatro portugueses, dois alemães, dois espanhóis, um sul-coreano, um cabo-verdiano, um canadiano, um italiano, um francês, um suíço e um marroquino. Falta ainda determinar a nacionalidade de quatro vítimas.

Sete das vítimas do descarrilamento, das quais quatro perderam a vida, eram funcionários da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Entre as vítimas mortais estão o próprio guarda-freio do elevador, de nacionalidade portuguesa, e um cidadão de nacionalidade alemã, cuja esposa se encontra gravemente ferida. O filho do casal, de três anos, escapou ileso, estando familiares seus a caminho de Portugal para dar lhe dar apoio, diz a CNN Portugal.

Ainda esta quarta-feira, o Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (INMLCF) ativou a equipa de desastres de massa em Lisboa, para acelerar autópsias das vítimas mortais, que pretende ter realizadas até ao fim da manhã desta quinta-feira.

O veículo, que descarrilou pelas 18:04 desta quarta-feira, encontrava-se a fazer o percurso descendente, pouco antes de se cruzar com o elevador que fazia a subida. Ambos os veículos estão ligados por esse cabo, de modo a que o veículo descendente funcione como contrapeso do ascendente e o ajude a fazer a subida.

No momento em que o cabo se soltou, o elevador que realizava a subida perdeu força e recuou um metro, acabando por travar, explicou à CNN Portugal um especialista em transportes ferroviários.

Governo decreta luto nacional

O Governo decretou um dia de luto nacional, que será cumprido nesta quinta-feira, disse à Lusa fonte do gabinete do primeiro-ministro.

Um trágico acidente ocorrido com o Ascensor da Glória, no concelho de Lisboa, no dia 3 de setembro de 2025, provocou a perda irreparável de vidas humanas, que enlutou as respetivas famílias e consternou o País”, refere o decreto hoje aprovado pelo Conselho de Ministros.

“O Governo decide declarar um dia de luto nacional, como manifestação de pesar e solidariedade do povo português. Assim: É declarado o luto nacional no dia 04 de setembro de 2025″, acrescenta o decreto.

O gabinete de Luís Montenegro já tinha emitido um comunicado em que Governo e primeiro-ministro lamentaram profundamente o acidente ocorrido esta tarde no elevador da Glória dizendo estar a acompanhar “desde os primeiros momentos” a situação e a resposta das diversas autoridades públicas.

“O Governo está, desde os primeiros momentos, a acompanhar a situação e a resposta das diversas autoridades públicas de emergência médica, unidades de saúde, proteção civil, forças de segurança e transportes, a quem foram transmitidas orientações para prestação de todo o apoio necessário“, refere o executivo.

Momento trágico para a cidade

O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, afirmou hoje que a cidade “está de luto” após o descarrilamento do elevador da Glória, sublinhando que “há vítimas mortais”, mas neste momento não é possível confirmar o número de mortos.

Lisboa está de luto e é um momento trágico para a nossa cidade”, declarou Carlos Moedas, falando no local cerca das 20:10 e adiantando que todas as equipas de socorro estão a dar resposta a este acidente.

Todas as equipas da Câmara Municipal, do INEM, da Proteção Civil estão no terreno a tentar socorrer as vítimas deste trágico acidente para a cidade de Lisboa. Estou em contacto com o Presidente, o primeiro-ministro e todo o Governo. Posso dizer que Lisboa está de luto”, afirma Carlos Moedas.

O presidente da Câmara de Lisboa mandou suspender “de imediato” as operações dos ascensores da Bica e do Lavra e do Funicular da Graça para os equipamentos serem inspecionados, disse fonte do gabinete de Carlos Moedas.

O Presidente da República lamentou o acidente e, numa nota publicada no site oficial de Belém, fala em “vítimas mortais”, além de feridos graves e ligeiros.

“O Presidente da República lamenta profundamente o acidente ocorrido com o elevador (funicular) da Glória, em Lisboa, em particular as vítimas mortais e os feridos graves, bem como os vários feridos ligeiros”, refere a nota de Marcelo Rebelo de Sousa.

No mesmo texto, o chefe de Estado apresenta “o seu pesar e solidariedade às famílias afetadas por esta tragédia e espera que a ocorrência seja rapidamente esclarecida pelas entidades competentes”.

Carris lamenta vítimas

A Carris lamentou a existência de vítimas no descarrilamento do elevador da Glória, e fez saber que abriu um inquérito para apurar as causas do acidente.

“Na sequência do acidente ocorrido esta tarde com o ascensor da Glória, a Carris lamenta a existência de vítimas e está a acompanhar a situação”, revelou a empresa que gere o elevado da Glória numa nota enviada à Lusa.

A Carris disse ainda que “foram realizados e respeitados todos os protocolos de manutenção” e que a última inspeção foi realizada no ano passado.

De acordo com a empresa, a manutenção geral que ocorre a cada quatro anos, ocorreu em 2022 e a última reparação intercalar, que é concretizada de dois em dois anos, foi feita em 2024. “Têm sido escrupulosamente cumpridos os programas de manutenção mensal, semanal e a inspeção diária”, afirmou.

Em declarações aos jornalistas junto ao local do acidente, no centro de Lisboa, o presidente da Carris, Pedro de Brito Bogas, afirmou que há 14 anos que a manutenção do Elevador da Glória é assegurada por uma empresa externa, e que está em curso um inquérito para apurar se se tratou de um problema de manutenção.

O plano prevê também manutenção semanal e mensal e inspeções diárias, que foram realizadas, disse Brito Bogas.

Trabalhadores apresentaram “queixas sucessivas”

Os trabalhadores da empresa municipal Carris, em Lisboa, apresentaram “queixas sucessivas” quanto à necessidade de manutenção dos elevadores, incluindo o da Glória, afirmou Manuel Leal, dirigente sindical da Fectrans e do STRUP, que representa de todos os trabalhadores da Carris.

“Fundamentalmente, aquilo que nos parece sobre este acidente é que deve haver um inquérito rigoroso às suas causas, deve haver este inquérito às causas profundas deste acidente”, disse.

“Os trabalhadores já vêm reportando de há muito tempo questões da necessidade da manutenção destes elevadores voltar à responsabilidade dos trabalhadores da Carris e não ser entregue a empresas exteriores, como é o caso concreto do elevador da Glória”, afirmou Manuel Leal, em declarações à agência Lusa.

“Os próprios trabalhadores iam reportando, de facto, estas diferenças em termos daquilo que a manutenção que há uns anos era feita pelos trabalhadores da Carris e as diferenças para a manutenção que é feita hoje, nomeadamente com queixas sucessivas dos trabalhadores que lá laboram quanto ao nível de tensão dos cabos de sustentação destes elevadores”, adiantou.

Na perspetiva de Manuel Leal, o descarrilamento do elevador da Glória, “lamentavelmente, veio dar razão a estas queixas dos próprios trabalhadores e deve levar o Conselho de Administração, perante um inquérito rigoroso a estas causas, a reequacionar a entrega a privados desta manutenção”.

Força Brutal

Uma testemunha do acidente ouvida pela SIC Notícias conta que viu o elevador “desenfreado” embater com uma força brutal num prédio e desfazer-se. Os transeuntes começaram então a correr para a Avenida da Liberdade “com medo que embatesse noutro e chegasse à estrada”, relata a testemunha.

Construído pelo engenheiro português Raoul Mesnier du Ponsard e inaugurado em 24 de outubro de 1885, o Elevador da Glória é um dos três funiculares históricos de Lisboa, o segundo do género a marcar presença nas ruas da capital.

O seu percurso, que liga a Praça dos Restauradores, no centro da cidade, ao Bairro Alto (mais precisamente, ao Jardim de São Pedro de Alcântara), é curto, de cerca de 265 metros, mas muito íngreme, e serve tanto turistas como lisboetas que se deslocam entre o centro e o Bairro Alto. Os carros mantêm ainda hoje o aspeto tradicional, de madeira e pintados a amarelo.

ZAP // Lusa

4 Comments

  1. Diria que o gajo que foi contratado para limar os cabos já deve ter passado a fronteira há umas valentes horas … Agora façam a vocês mesmos esta pergunta: Cui bono?

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  2. Foi o outsourcing que provocou o desastre.
    Outsourcing está na moda e facilita o trabalho dos ‘responsáveis’, pois assim podem manter as suas mãos limpas de responsabilidade (que é o desporto português número 1, mesmo antes de futebol) mas nem sempre funciona bem, como obviamente neste caso.

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  3. A Lei de Murphy diz que o que pode acontecer acabará por acontecer. Não sabemos é quando. Podendo a rutura de um cabo provocar um desastre desta dimensão, já se deveria ter estudado um meio alternativo de travagem que pudesse atuar em caso de uma tal rutura. O que não se pode é deixar um elevador como este ficar dependente da manutenção da integridade de um único cabo. É ficar à espera do desenrolar de uma tragédia. Não há responsáveis desta imprudência?

  4. Triste ocorrência a denegrir este fim de Verão de Lisboa.
    As informações acerca de vistorias, manutenção e reparações nem sempre são coerentes. coerentes.
    Diversas são as entidades a quem cumpre agir em termos de investigação sobre esta tragédia.
    Tem-se visto, pela televisão, a remoção do cabo que, dizem, se soltou, em vez de dizerem se partiu ou rebentou. Observa-se a extremidade do cabo totalmente esfoliada,
    Pergunta-se: 1 – as investigações previstas permitem o descuido, que me pareceu óbvio, no manuseamento do referido cabo, ao ponto de se perderem eventuais indícios das causas da tragédia? 2 – Será descabido pôr-se a hipótese de eventual sabotagem?

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