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Vladimir Putin
Putin já se afastou do conflito e deu a entender que não faria nada a Israel, país que vê como uma “pequena Rússia”. Moscovo e Pyongyang condenaram ação dos EUA, mas contidos: Kremlin tem mais “a ganhar”.
De forma muito moderada, Rússia e China condenaram, este domingo, o ataque levado a cabo pelos EUA às centrais nucleares do Irão na madrugada deste domingo.
Mas os dois maiores aliados do regime iraniano, através dos respetivos ministérios dos Negócios Estrangeiros, tiveram uma reação muito mais “macia” do que outros aliados de Teerão à entrada dos EUA nas hostilidades.
O ministério dos negócios Estrangeiros da Rússia “condenou veementemente” os ataques aéreos ordenados pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, e considerou-os “uma grave violação do direito internacional, da Carta das Nações Unidas e das resoluções do Conselho de Segurança da ONU”.
A China também foi muito moderada, apesar de se ter juntado aos muitos países e organizações mundiais e condenar “firmemente” os ataques dos EUA, por terem levado a uma escalada das tensões no Médio Oriente”.
“A China apela a todas as partes envolvidas no conflito, e particularmente a Israel, para que alcancem um cessar-fogo o mais rápido possível”, lê-se ainda num comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.
Em poucas palavras, o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araghchi, anunciou que deve reunir-se com o Presidente russo, Vladimir Putin, em Moscovo na segunda-feira, para falar sobre os ataques dos EUA.
Rússia “não perde nada com isto”
A Rússia considerou os ataques “uma grave violação do direito internacional”, mas reagiu “de forma macia”, porque “as possíveis reações do Irão jogam a favor” do Kremlin, disse José Milhazes na SIC Notícias na tarde deste domingo.
“Os russos não perdem nada com isto”, afirmou o comentador e especialista da guerra na Ucrânia — mas “Putin não pode irritar muito Trump, porque se ele tiver uma vitória rápida pode avançar com medidas mais duras contra a Rússia” no âmbito da guerra na Ucrânia.
Lembrando que a Rússia “tem boas relações” com Irão e Israel, Milhazes reconhece que “há muitas interrogações” neste momento, mas que, se a Rússia pode beneficiar da escalada no conflito, os EUA vão ser afetados, pelo menos, em duas vertentes.
Este domingo, o Parlamento iraniano recomendou o fecho do Estreito de Ormuz, um dos principais corredores comerciais e económicos do mundo. A decisão final compete ao líder supremo da república islâmica, o ayatollah Ali Khamenei, escondido de momento num bunker. A decisão ainda tem de ser ratificada por outros órgãos iranianos, incluindo o Conselho Supremo de Segurança Nacional.
Se o Estreito fechar, “o preço do petróleo vai subir” e “a inflação vai subir” nos EUA, avisa ainda o comentador vilacondense. A Rússia tem interesse no encarecimento do petróleo no Ocidente, que assim não poderia financiar a Ucrânia com a mesma “vontade”.
Putin, diplomático paralelo
Ainda esta semana Putin mostrou como é bom na sua política de diplomacia paralela e disse, subtilmente, não querer nada com estas hostilidades.
Para o líder do Kremlin, Israel é uma “Rússia pequena”, com um milhão e meio de habitantes russos, disse este sábado, e foi assim que abafou rumores de intervenção direta no conflito, ao lado do Irão.
Com os seus laços militares e diplomáticos com o Irão, Putin pode posicionar-se como importante peão neste jogo. Após os ataques israelitas, foi o único líder mundial a falar ao telefone com Netanyahu, com o presidente iraniano Masoud Pezeshkian e com Donald Trump.
Do lado deste último, pressionar o Kremlin para parar com a ofensiva na Ucrânia parece agora ser uma questão empurrada para segundo plano.
A “Rússia está a ganhar com esta crise”, reforçou Milhazes.
Só “amigos coloridos”?
A relação entre Irão, Rússia e China, apesar de aliados, é vista por muitos como simbólica e económica.
A relação Irão-Rússia já envolveu cooperação. Na década de 90′, a Rússia terá ajudado o Irão a desenvolver os seus primeiros mísseis balísticos Shehab e a construir o reator nuclear de Bushehr. Os dois países colaboraram no apoio ao regime sírio de Bashar al-Assad, com a Rússia a enviar aviões de combate em 2015. Moscovo terá fornecido sistemas de defesa aérea S-300 e tem adquirido milhares de drones Shahed ao Irão.
Além disso, a Rússia fez parte do acordo nuclear assinado em 2015 — do qual os Estados Unidos se retiraram em 2017 — e propôs este ano um novo arranjo para enriquecer o combustível nuclear iraniano, afastando o risco de produção de material bélico.
No entanto, Rússia e Irão não têm cláusulas, em termos de defesa, que os prenda e os obrigue a ajudarem-se mutuamente. Apesar de, em janeiro, ter assinado um tratado de “parceria estratégica abrangente” com o Irão, Putin parece esforçar-se sobretudo no reforço do seu papel como mediador no Médio Oriente.
Já a relação Irão-China é “essencialmente económica”, explica a especialista Nicole Grajewski à NPR.
E embora Pequim se tenha oferecido como pacificadora no conflito, é improvável que entre diretamente nele ou que sequer forneça armas ao Irão, acreditam vários analistas.
Guerra no Médio Oriente
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22 Junho, 2025 Há razões para a “timidez” da Rússia e China na resposta ao ataque dos EUA ao seu aliado IrãoTambém em: Guerra na Ucrânia