De mal amado a preferido: Martínez fica (e os números justificam-no)

ANNA SZILAGYI/EPA

Cristiano Ronaldo e o selecionador Roberto Martinez comemoram após a vitória da final da Liga das Nações.

Nem Mourinho nem Jesus: Proença só tem olhos para o espanhol e dedica-lhe vitória da Liga das Nações. Ele não escapou à polémica em 2 anos e 4 meses, mas doa a quem doer, estatisticamente, Roberto Martínez é o melhor da história.

Desde que chegou ao cargo em janeiro de 2023 que foi alvo de críticas. O primeiro selecionador de língua materna estrangeira a ocupar o cargo de selecionador de Portugal terá estado muito perto da saída, mas a conquista histórica sobre o seu próprio país, esta segunda-feira, cortou o mal pela raiz: Roberto Martínez fica.

Desde a polémica escolha de Pedro Neto — que convocou para o Euro 2024, apesar de o extremo vir de uma lesão que o permitiu jogar apenas 12 minutos nos dois meses anteriores à convocatória — à hesitação constante em trazer a dupla Trincão-Pote para a Seleção, apesar de brilharem de leão ao peito, julgamentos não faltaram nestes dois anos e meio.

E as contradições? E as mexidas que não caíam bem? Nas conferências de imprensa, Martínez irritava ainda mais: fugia destes assuntos, acusado, muitas vezes, de oferecer respostas redondas.

O triste desfecho no Euro 2024 levantou os rumores da sucessão. Já se fala nela há meses. “Martínez em risco”, lia-se na capa do Record na quarta-feira: “sai da Seleção se não conquistar o troféu [Liga das Nações]”.

José Mourinho e Jorge Jesus estavam a ser apontados como os favoritos para o lugar do espanhol no comando da seleção lusa, mas nem uma semana passou e já temos confirmação: apesar do balançar da caravela, Martínez fica.

Proença “mudou o chip”?

A FPF confirmou que o espanhol fica — e com estatuto quase intocável, a julgar pelas palavras de Pedro Proença.

O presidente da Federação Portuguesa de Futebol, que nunca clarificou, apesar dos elogios, se contaria com Martínez, “mudou o chip“: “individualizou” a vitória na Liga das Nações com um agradecimento único ao selecionador e dedicou-lhe a vitória.

“Mantive-me calado e discreto nestes últimos meses, mas fui vivendo com uma pessoa una, que sempre soube o papel que iria desempenhar com esta seleção, mas também onde iria terminar. Portanto, hoje permitam-me individualizar esta vitória e agradecer-lhe. Gostava de ter a vossa salva de palmas muito forte a uma pessoa a quem devemos dedicar esta vitória, ao ‘mister’ Martínez”, afirmou o responsável máximo pela FPF, antes de abraçar o técnico espanhol junto à taça da Liga das Nações que chegou esta segunda-feira ao museu da Cidade do Futebol.

“Esta direção vai ser cumpridora de contratos”, avisou Proença, em referência ao contrato do espanhol, válido até 2026, ano de Campeonato do Mundo.

O “tabu Ronaldo” deu frutos

“Às vezes, a crítica é saudável”, disse o espanhol, no final do jogo contra a Espanha que trouxe o título da Liga das Nações para as cinco quinas. Cristiano Ronaldo defendeu-o perante “os papagaios que estão em casa”.

“Estamos muito felizes com o trabalho que o mister tem feito. Chegar com uma nacionalidade diferente, falar o nosso idioma, cantar o nosso hino… a paixão que vejo é diária”, disse o capitão da Seleção Nacional.

E Martínez bem pode agradecer o “abraço” que Cristiano Ronaldo lhe devolveu.

Para muitos, a performance de Ronaldo no Euro 2024 rebentou a bolha criada pelos portugueses que mais orgulho têm no CR7. O mais internacional português foi titular em todos os jogos da seleção no Europeu, mas o resultado foi o este: 0 golos marcados, após 30 tentativas e 20 remates sem marcar.

Mas, para Martínez, essa bolha nunca rebentou. Perante o mar de críticas, o espanhol virou Navegador e insistiu: Ronaldo “fica”, Ronaldo “é muito importante para a equipa”, Ronaldo é “fundamental” — chegando até a dizer que tinha “informação confidencial” que comprovava que o capitão estava apto.

Os números que não mentem, doa a quem doer

Em 30 jogos, 21 vitórias, 5 empates, 4 derrotas — duas em amigáveis, outra, embora polémica, contra a Geórgia num jogo que não contava para a passagem à próxima fase, e outra, a mais recente, contra a Dinamarca.

Os comandados de Martínez marcaram 76 golos e sofreram 24, em 30 jogos. O espanhol leva a maior percentagem de vitórias (70%), entre todos os selecionadores portugueses, segundo o zerozero e a sua base de dados. Exibe também a menor percentagem de derrotas (13,3%), ao leme da estatística juntamente com José Augusto.

Roberto Martínez tem ainda a melhor média de golos pela seleção (média de 2,53 por jogo) e só não bate Artur Jorge e Carlos Queiroz nos golos sofridos — os dois ex-selecionadores conseguiram uma média de 0,5 golos sofridos por jogo.

A estatística parece resolver o debate. Por outro lado, há quem argumente e lance a seguinte pergunta para o ar: alguma vez fomos abençoados com tamanha qualidade e talento português?

Tomás Guimarães, ZAP //

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