TIAGO PETINGA/LUSA

O selecionador português de futebol, Roberto Martínez.
Quatro meses depois, a seleção nacional está de regresso e, com isso, as já habituais contradições do Roberto Martínez também. Desta vez, o selecionador disse ter sido o obreiro da dupla Vitinha + João Neves. Luis Enrique ter-se-á rido.
Parece estar a tornar-se num hábito. Sempre que volta a seleção, Roberto Martínez convoca a contradição.
O selecionador de Portugal anunciou, esta sexta-feira, o 26 convocados para os dois jogos frente à Dinamarca (20 e 23 de março), a contar para os quartos-de-final da Liga das Nações.
Em relação à última convocatória, em novembro, Martínez promoveu os regressos de Gonçalo Inácio, Rúben Dias, Diogo Jota, Rúben Neves e Gonçalo Ramos, com Tomás Araújo, Tiago Djaló, Otávio, Matheus Nunes e Pedro Gonçalves a saírem da convocatória.
Os para lutar por um lugar na Final Four da Liga das Nações! #FazHistória pic.twitter.com/IHMcJUqHIm
— Portugal (@selecaoportugal) March 14, 2025
Desta vez, não foram as escolhas de Martínez a gerar contradição, mas sim uma ‘pequena’ desonestidade na conferência de imprensa que se seguiu.
O jornalista Ricardo Nunes da TVI/CNN Portugal questionou o selecionador se, nos próximos jogos, tenciona aproveitar as dinâmicas criadas nos clubes. Nesta questão, o foco era a dupla do meio-campo Vitinha e João Neves, que tem sido o motor do PSG de Luis Enrique.
A conquista da Ligue 1 (mais uma) é inevitável. Por seu turno, na Champions, o PSG impressionou, nestas últimas duas semanas, ao dominar e eliminar o grande favorito Liverpool. Mais do que o excelente coletivo, o destaque dos parisienses tem sido mesmo a dupla Vitinha + João Neves que Luis Enrique lançou e parece não mais querer largar.
E se, por um lado, o treinador espanhol é o criador desta dupla; por outro, o seu compatriota parece querer ficar com os louros.
Esta sexta-feira, questionado sobre trabalho que a dupla tem vindo a fazer no PSG, Martínez tentou ‘pôr os pontos dos is’, mas continuou Martínez e contradisse-se…
O selecionador nacional afirmou que foi o primeiro a utilizar a dupla. E não mentiu. Foi mesmo. Vitinha e João Neves jogaram pela primeira vez juntos a 4 de junho de 2024, num jogo amigável frente à Finlândia, antes do Euro 2024.
Desde então, a seleção já jogou 13 vezes, mas Martínez só voltou a usar a dupla uma vez (em novembro). Curiosamente, foi num jogo frente à Croácia, em que Portugal já tinha garantido a passagem aos quartos-de-final da Liga das Nações. Além disso, àquela data, Vitinha e João Neves já levavam quatro meses de trabalho conjunto no PSG.
Outra prova de que Martínez não soube valorizar nem visionou a dupla de médios é o facto de que, nos cinco jogos de Portugal do Euro 2024, Vitinha e João Neves nunca estiveram em campo ao mesmo tempo.
“É preciso relembrar que a dupla Vitinha + João Neves começa na seleção, antes do PSG, em junho de 2024, e sentimos logo uma química especial“, disparou o selecionador.
No entanto, sabe-se lá porquê, essa “química especial” só voltaria a ser posta em prática mais de cinco meses depois e foi totalmente desaproveitada no Euro…
“É preciso relembrar que a dupla Vitinha/João Neves começou na Seleção” — Roberto Martínez pic.twitter.com/m2Fg8TX8n0
— B24 (@B24PT) March 14, 2025
Ou seja, Martínez disse-se visionário da dupla Vitinha + João Neves, mas as suas escolhas desfavorecem essa teoria. Pelo contrário, Luis Enrique viu, arriscou e está a saber potenciar ao máximo o futebol dos dois médios portugueses.
É seguro dizer que o espanhol (o do PSG…) é o verdadeiro obreiro de uma das melhores duplas do futebol atual.
As contradições de Martínez
Esta não é a primeira nem a segunda vez que Martínez se contradiz, desde que está no comando da seleção nacional.
Em outubro, o técnico espanhol justificou a chamada de Samu Costa, porque queria ter um médio esquerdino na seleção. Em novembro, optou por ter médios atacantes. Samu ficou de fora e não foi chamado nenhum médio canhoto. Só que, entretanto, dois médios atacantes lesionaram-se e o “defensivo” Samu foi o escolhido para os substituir. Não fez sentido.
Em junho, na convocatória para o Euro 2024, o técnico espanhol deixou Matheus Nunes de fora dos 26, tendo justificado a decisão com o facto de o jogador do Manchester City ter tido poucos minutos, ao longo da época.
“É difícil para nós saber se consegue fazer dois jogos no espaço de quatro dias. (…) Conhecemos muito o que o Matheus pode dar, mas não sabemos em que período”, justificou, à data.
Esta teria sido, desde logo, uma justificação válida e não contraditória, se Roberto Martínez não tivesse posto, na mesma convocatória, o nome de Pedro Neto, que, desde 9 de março, tinha jogado apenas 12 minutos, ao serviço dos Wolves.
Mais uma contradição: Matheus Nunes acabou por ir ao Euro 2024, para render o lesionado Otávio, tendo o selecionador nacional descrito aquela troca como “muito óbvia e natural” – mesmo tendo dito anteriormente que não sabia que garantias Matheus Nunes poderia dar à seleção portuguesa na competição. Em que ficamos, mister?