As contradições de Martínez

José Coelho / Lusa

Matheus Nunes já se juntou aos trabalhos da seleção nacional, para render Otávio na lista de 26 convocados para Euro 2024. Roberto Martínez explica a chamada “óbvia” do médio do Manchester City porque tem “o perfil de Otávio”.

Roberto Martínez descreveu a escolha de Matheus Nunes para substituir Otávio como “muito óbvia e natural”.

“O Matheus é a escolha natural e óbvia. Durante o estágio de março ele fez um jogo muito bom com a Suécia e trabalhou no papel que o Otávio faz taticamente. Valorizo muito o jogo que ele fez contra a Suécia”, disse o selecionador nacional, esta segunda-feira, em conferência de imprensa.

Ponto um: Matheus tem o perfil de Otávio? Questionável.

A comentadora da CNN Portugal Sofia Oliveira, acusou Roberto Martínez de incoerência, dizendo, numa publicação no Twitter/X, que “trocar Otávio por Matheus é como trocar batatas por cebolas”.

“Não há um pingo de coerência nas escolhas de Roberto Martínez. Ou se acredita na importância da especificidade do perfil de Matheus desde o primeiro momento – abdicando de outros médios convocados que se assemelham – ou não. Trocar Otávio por Matheus é como trocar batatas por cebolas”, escreveu a especialista.

Por seu turno, Tomás da Cunha demonstrou-se alinhado com Martínez, considerando a troca-por-troca “óbvia”. No entanto, na mesma rede social, o comentador de futebol escreve que, independentemente da ausência de Otávio, Matheus Nunes deveria ter constado logo na convocatória inicial.

“Otávio e Matheus Nunes não precisam de ser jogadores iguais para terem a mesma função atribuída. Neste caso, interior de 4-3-3 ou médio direito de 4-4-2. Entra aí. A chamada é relativamente óbvia, embora pudesse (devesse, como defendi) estar presente na primeira lista”, opinou.

Já Rui Malheiro concorda que Matheus Nunes deveria ter sido logo chamado, mas considera que “escolhê-lo para substituir Otávio é uma contradição“.

“São jogadores muito distintos. Acho que o Matheus devia ter sido chamado no lugar do Rúben [Neves], pois é um médio que pode oferecer coisas completamente diferentes dos outros médios. O Otávio é muito mais um joker que pode jogar a partir da ala direita ou no meio; não é um jogador para queimar linhas, como o Matheus”, escreveu o especialista.

Por falar em contradições…

Ponto dois: A maior contradição de Roberto Martínez começou logo na convocatória, a 21 de maio.

Nas explicações dos 26 selecionados, no dia seguinte, o técnico espanhol admitiu que o facto de Matheus não ter tido muitos minutos no Manchester City, ao longo da época, foi determinante para ter ficado de fora.

Foi esta a explicação dada por Martínez para não convocar o médio – que até tinha estado em grande plano no jogo frente à Suécia (com um golo), no último estágio da seleção, em março… antes de se lesionar.

“É difícil para nós saber se consegue fazer dois jogos no espaço de quatro dias. A ideia em março era ele fazer os dois jogos, mas, depois do primeiro, não estava apto para o segundo. O Rúben Neves pisa os mesmos terrenos e o Otávio também. Conhecemos muito o que o Matheus pode dar, mas não sabemos em que período”, justificou.

Esta teria sido, desde logo, uma justificação válida e não contraditória, se Roberto Martínez não tivesse convocado Pedro Neto, que, desde 9 de março, jogou apenas 12 minutos.

Agora, Martínez já diz que a escolha de Matheus Nunes é “muito óbvia”. Terá o médio campeão inglês dado, entretanto, garantias que consegue fazer “dois jogos no espaço de quatro dias”?

Portugal joga esta terça-feira primeiro amigável antes do Euro, frente à Finlândia, no Estádio José de Alvalade. O jogo terá transmissão em canal aberto, na RTP, às 19h45.