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Por 5 euros, Mariana dá consultas a quem não tem médico de família na sua aldeia

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Freguesia de Lombo/Facebook

Mariana Rodrigues, 28 anos, dá consultas de medicina familiar na sua aldeia de 200 habitantes.

Mariana veio facilitar a vida a muitos moradores da freguesia de Lombo, alguns há 6 meses sem consultas. Por ser da aldeia, estão mais à vontade com ela e assim “nem apanham frio”, já que ir ao hospital “custa” mais de 50 quilómetros.

Mariana Rodrigues tem 28 anos, está a acabar a especialidade em Medicina Geral e Familiar e há quase um ano que dá consultas de cuidados primários de saúde à população da aldeia de onde é natural, em Macedo de Cavaleiros, no distrito de Bragança. A localidade chama-se Lombo, fica a 23 quilómetros da sede de concelho e tem à volta de 200 moradores.

“Falta-me mais ou menos um ano para ser especialista, sou interna do último ano. Sou de Macedo de Cavaleiros, e nesta aldeia tenho uma avó e o meu pai também é de cá. Por isso, sou daqui”, apresentou-se à Lusa a jovem médica que uma vez por mês, transforma o espaço da Junta de Freguesia no seu consultório. Uma ideia que tem tido adesão, dá conta o presidente da junta de freguesia, Miguel Caseiro, que assinala uma média de 10 a 12 consultas agendadas.

Foi esta a solução encontrada em abril do ano passado, quando várias pessoas relataram ter ficado médico de família, o que estava a causar constrangimentos, por exemplo, para renovar receituário ou marcar exames. “Tínhamos pessoas que estavam há seis meses sem consultas e que depois ainda eram adiadas por mais tempo. Aí achámos que era a altura ideal para apostar neste serviço”, contextualizou o autarca.

A auxiliar no serviço está a enfermeira Liliana Alves, que é de Bragança e cujo namorado é do Lombo. “As pessoas perguntam quando será a próxima consulta, para haver também algum acompanhamento da nossa parte”, contou.

Locais mais à vontade com alguém da casa

Cada consulta tem o valor de 15 euros: 10 pagos pela junta de freguesia e 5 pelo utente. Para António Pedro, reformado e que já repetiu a dose, pelo menos, três vezes, “isso é quase de borla”. O idoso, como tantos outros na localidade, não tem médico de família atribuído.

“No ano passado encontrei-me mal e não ajeitei um médico para me ver no centro de saúde. Agora fui fazer uns exames e vim mostrá-los, aproveitei. E tinham-se-me acabado as receitas dos medicamentos”, partilhou com a Agência Lusa.

Mariana veio facilitar a vida de António: “Falei com ela e disse que tinha um problema para ir ao centro de saúde e ela disse que me ajudava”, confidenciou. Admite ainda que, por a médica ser da aldeia, estão mais à vontade com ela.

Manuel Pedro, que veio com a mulher, Joana, destacou outro ponto: “É sempre bom algo que ajude as pessoas idosas. Para que se sintam mais à vontade e não tenham de fazer deslocações. Aqui nem apanham frio”.

Dezenas de quilómetros até ao hospital

Até à capital de distrito, Bragança — lançou Manuel, em contas de merceeiro — “são 60 quilómetros”. Até Mirandela, onde está outro hospital, são 50.

De transportes públicos, a população só tem à disposição o autocarro escolar, que vai de manhã e volta à noite. No verão, sem aulas, a ligação é feita três vezes por mês, nos dias de feira.

“Já tentámos até falar com a empresa. Mas, mesmo a disponibilizar-nos para pagar o custo, não fomos eficazes e continuamos sem transporte regular no período de férias das crianças”, lamentou Miguel Caseiro.

“Ainda acredito que valha a pena”

Mariana, que sempre quis ser médica de família, afirma que é um gosto ir à aldeia. “Gosto é disto, deste contacto. De conhecermos as pessoas e o seu contexto. Acho que é a especialidade mais completa e em que se estabelece uma relação mais próxima com os utentes”, justificou Mariana. Quer ficar em Trás-os-Montes, se tiver essa oportunidade: “Não tenciono sair daqui”, sorriu a futura médica de família.

Em termos de formação, desfez a ideia de que se pode perder alguma coisa estando mais longe dos grandes centros.

“Não se perde rigorosamente nada. Muito pelo contrário. Mesmo este projeto que temos aqui, se calhar, se fosse num grande centro, não ia ter esta oportunidade”, considerou a médica, lançando o repto a mais colegas que experimentem outras zonas do país, onde podem fazer tudo igual “ou até mais”.

Quanto aos contras da especialidade, Mariana disse que os médicos de família trabalham muitas horas e em questões complexas, o que pode levar a desmotivação e cansaço, a juntar às tarefas burocráticas, como passar receitas ou fazer relatórios.

“Ainda acredito que valha a pena. É uma especialidade muito bonita, isso sem dúvida”, finalizou.

Em janeiro deste ano, estavam inscritos nos cuidados de saúde primários na Unidade Local de Saúde do Nordeste 126.023 utentes, 13.688 sem médico de família atribuído, de acordo com os dados do portal para a transparência do Serviço Nacional de Saúde.

// Lusa

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