Quem vai liderar a próxima Ucrânia? EUA falam com a oposição nas costas de Zelenskyy

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JAVAD PARSA ; POOL/EPA

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy.

Realização de eleições antecipadas foi discutida: antiga primeira-ministra e ex-presidente ucranianos tentaram agradar a Trump e mostrar que são “mais fáceis” de lidar do que Zelenskyy. E Trump não é o único com pressa.

Sem o conhecimento de Volodymyr Zelenskyy, altos membros da comitiva de Donald Trump terão tido conversações secretas com os maiores opositores do presidente ucraniano, avança o Politico esta quinta-feira.

De acordo com o jornal especializado em política europeia, os quatro funcionários da administração Trump falaram com a antiga primeira-ministra ucraniana Yulia Tymoshenko, líder do partido União Pan-Ucraniana “Pátria”, e com membros do partido Solidariedade Europeia, liderado pelo antigo presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, numa altura em que Zelenskyy, apelidado de “ditador que evita eleições” por Trump, é cada vez mais pressionado a deixar a presidência ucraniana num eventual acordo para pôr um ponto final na guerra na Ucrânia, que dura há três anos.

“Determinei que Zelenskyy não está pronto para a paz se a América estiver envolvida, escreveu Trump depois da humilhante reunião entre os dois homólogos na Casa Branca: “quero PAZ. Ele desrespeitou os Estados Unidos na nossa querida Sala Oval. Pode voltar quando estiver pronto para a paz”.

A não ser que adote uma posição mais conciliatória em relação a Moscovo, Zelenskyy pode ter os dias contados como presidente, reforçaram o Conselheiro de Segurança Nacional Mike Waltz e importantes senadores republicanos, como Lindsey Graham.

Atualmente, eventuais eleições presidenciais estão em stand-by devido à lei marcial ucraniana, em vigor no país desde fevereiro de 2022, que trava uma ida às urnas em tempos de guerra. As conversações com a oposição de Zelenskyy ter-se-ão baseado nessa questão: a Ucrânia pode ou não ir a eleições num futuro próximo?

Do lado norte-americano, Trump e companhia estarão confiantes numa derrota para Zelenskyy: o cansaço de guerra, a alegada insatisfação e a corrupção associada à administração pública ucraniana podem tirá-lo do poder, acreditam os funcionários da nova administração. Mas enquanto Trump insiste que o presidente ucraniano “está muito mal” nas sondagens, elas dizem o contrário.

Zelenskyy ainda goza de apoio suficiente para estar confortável. A última sondagem indica que 44% dos ucranianos votariam nele se as eleições se realizassem hoje, com o seu concorrente mais próximo, Valery Zaluzhny, a perder mais de 20 pontos percentuais. Tymoshenko e Poroshenko, que falaram com os EUA, estão muito atrás, com apenas 5,7% e 10% de apoio, respetivamente.

As conversas com Tymoshenko e Poroshenko terão girado em torno da ideia de ir às urnas mais cedo, após um cessar-fogo temporário, mas antes do início de conversações de paz definitiva com a Rússia. Ambos já se manifestaram contra a realização de eleições antes do fim da guerra, por duas perigosas razões: instabilidade e interferência russa. De qualquer forma, os dois estarão a tentar agradar a Trump.

“Estão a posicionar-se como pessoas com quem seria mais fácil trabalhar” do que Zelenskyy, “como pessoas que concordariam com muitas das coisas com que Zelenskyy não está a concordar”, diz ao Politico um especialista em política externa dos EUA. Numa altura em que Trump é cada vez mais amigo da Rússia, esta é uma oportunidade para ambos de ganharem o favor de Washington.

Entretanto, os dois opositores do presidente ucraniano já falaram sobre o assunto. Timoshenko disse que a sua equipa está a negociar “com todos os aliados que podem ajudar a garantir uma paz justa o mais rapidamente possível”; Poroshenko confirmou: “trabalhamos de forma pública e transparente com os parceiros americanos, com o objetivo de preservar o apoio bipartidário à Ucrânia”.

Por enquanto, Zelenskyy mantém-se como sempre, firme, rosto da resistência ucraniana à invasão russa. Mas já garantiu: “Se houver paz para a Ucrânia, se precisarem mesmo que eu deixe o meu cargo, estou pronto. Mas exige uma coisa em retorno: a adesão à NATO. Mas, com Trump a opor-se, sem deixar margem para dúvidas, à adesão da Ucrânia à aliança, Zelenskyy também se opõe à sua saída da presidência.

Se realmente Zelenskyy se demitisse, o presidente do parlamento, Ruslan Stefanchuk, leal ao atual presidente, tornar-se-ia presidente interino ao abrigo da Constituição da Ucrânia. Está com Zelenskyy: “a Ucrânia precisa de balas, não de votos”, diz.

Mas Trump não parece ser o único ansioso pelo cessar-fogo, o mais rápido possível. Dados do instituto Bortnik citados pelo Politico indicam que cerca de dois terços dos ucranianos querem que a guerra acabe através de negociações, com metade abertos a grandes concessões à Rússia e a outra metade a favor de um cessar-fogo imediato.

Neste cenário, mais pressa tem Tymoshenko, que estará a tentar lucrar com o descontentamento e a contactar os rivais para os persuadir a formar uma nova maioria parlamentar em eventuais eleições antecipadas.

Tomás Guimarães, ZAP //

2 Comments

  1. Parece que já estou a ver o X de Musk em frenética actividade para corroer o apoio a Zelenskyy em favor destes dois (legitimos, por enquanto) opositores.

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  2. Começo a ter pena do Zalensky. Depois de lhe darem um rol de herói, do qual se convenceu completamente, bajulado á esquerda e á direita, foi acordado violentamente pelo Trump Ou talvez não de todo, e decidiu agora entrar no modo de sonambulismo, passando a andar á deriva pela Europa. Temo que o coitado nao tenha um bom fim

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