Fez uma pergunta fatal: a partir de agora, Montenegro é um “zombie”?

António Cotrim / LUSA

Luís Montenegro fala ao país (01/03/2025)

“Uma das piores frases” de sempre ditas por um primeiro-ministro. Porque em política não é só a sobrevivência que conta.

A declaração do primeiro-ministro ao país, na noite de sábado, continua a originar reações e críticas.

No sábado à noite, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, admitiu avançar com uma moção de confiança ao Governo se os partidos da oposição não esclarecessem se consideram que o executivo “dispõe de condições para continuar a executar” o seu programa, após ter sido noticiado que a Spinumviva, empresa detida pela sua mulher e filhos, recebe uma avença mensal de 4.500 euros do grupo Solverde.

O presidente do PS, Carlos César, considerou que Luís Montenegro “passa a ser a maior causa de fraqueza do seu próprio Governo” e reiterou que não serão os socialistas a causar uma “instabilidade indesejável”.

“[Luís Montenegro] sabe que não seremos nós a causar uma instabilidade indesejável, mas sabe que passa a presidir a um Governo maculado com um primeiro-ministro que passa a ser a maior causa de fraqueza do seu próprio Governo”, escreveu Carlos César numa publicação na sua página pessoal na rede social Facebook.

Para o líder socialista, o primeiro-ministro “é um político que não parece dar conta de si. Nem a si, nem aos outros”.

E prossegue: “Sabe que a situação em que se manteve até agora era irregular e semelhante a outras às quais fez as mais violentas censuras.”

O líder socialista e ex-presidente do Governo Regional dos Açores também escreve na mensagem que Luís Montenegro “sabe que o PS anunciou, aquando da moção apresentada pelo Chega, que não votará a favor de moções de censura, mas que também votaria contra uma moção de confiança”.

“Zombie”

Aquela comunicação ao país no sábado fez lembrar António Costa. A comparação é feita por Bruno Vieira Amaral: “O pior que posso dizer é que esta jogada foi digna de António Costa. Não estava à espera de ver Montenegro nestes jogos de escapismo, como Costa fazia”.

O comentador político admite que, a nível de sobrevivência política, a noite de sábado correu bem a Montenegro. Sobretudo porque, pouco depois da sua comunicação ao país, o PCP anunciou que vai apresentar uma moção de censura ao Governo, defendendo que “não está em condições de responder aos problemas” de Portugal e “não merece confiança”, mas sim censura.

Depois ao anúncio da Paulo Raimundo, o ministro de Estado e das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, disse na RTP que, caso a moção de censura do PCP seja rejeitada no parlamento, “não há uma justificação” para o Governo apresentar uma moção de confiança.

Assim, e como os “outros partidos dizem que a situação é grave mas querem apenas manter o assunto vivo”, o Governo sobrevive, “mesmo que diminuído”, atirou Bruno Vieira Amaral.

Mas, avisou na rádio Observador, “em política não é só a sobrevivência que conta. Tudo isto não apaga a gravidade da situação”.

E aqui destacou uma questão que o primeiro-ministro levantou no sábado: perguntou se “seria justo e até adequado fechar tudo, abandonar tudo, só porque circunstancialmente” foi eleito presidente do PSD e depois primeiro-ministro, falando sobre a hipótese de os filhos e a esposa terem de ficar de fora da empresa por causa do seu trabalho político.

Esta foi “uma das piores frases jamais ditas por um primeiro-ministro”, acredita o comentador: “Isto é completamente mortal, fatal para a autoridade e legitimidade de um primeiro-ministro. A partir deste momento, Luís Montenegro é um zombie político” – e até era um dos “maiores ativos” da composição do atual Governo.

ZAP // Lusa

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